EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (68)
Até hoje, lá vão quase sete anos, o senhor ainda não conseguiu provar que é de facto Presidente da República.
Ainda veste a mesma perplexidade que vestia quando inaugurou o seu primeiro mandato. Parece mais um Presidente improvisado! Eu não estaria longe da verdade se dissesse que cada discurso do Presidente da República é um espectáculo deprimente.
Parece não ter consciência do alcance das palavras que usa. Por exemplo: o Presidente até aqui ainda não percebeu que há muita falta de imaginação nos comunicados que tem feito à nação sobre a Covid-19.
Não há ideia. Só traz números. Alívio de restrições quando se julgar necessário ou o aperto destas. Nunca trouxe inovações, criação de condições para que as medidas anunciadas realmente sejam eficazes. É sempre a mesma cantiga de proibições. E desta feita não foi diferente.
Estou a falar da comunicação à nação sobre a situação de Cabo Delgado. Era uma comunicação que os moçambicanos tanto ansiavam, mas acabou por revelar-se um espasmo de um Governo fraco, à deriva.
O Presidente não disse aos moçambicanos o que se passa, efectivamente, em Cabo Delgado e o que o Governo faz para fazer frente à situação. Há-de convir que se especulava muito- ainda especula-se- sobre o que está a acontecer naquela província.
Cada moçambicano, dos mais de 20 milhões, tem a sua opinião. E o Presidente não fez nada para dissipar equívocos. Pelo contrário: adensou mais as zonas de penumbra envoltas ao assunto.
Foi uma comunicação prenhe de omissões! E há uma passagem que evidencia o despreparo do Presidente- na verdade até o embaraça. O Presidente diz que o problema- insurgência em Cabo Delgado- começou em 2012.
Contudo, não diz o que o Governo de então fez para alterar o cenário. Ora, todos os moçambicanos sabem que o senhor, nessa altura, era ministro da Defesa. Portanto, estava a par de tudo e veio a ter domínio completo desse dossier quando foi eleito Presidente da República.
E mesmo assim não soube o que fazer. Deixou que o problema crescesse. E enquanto isso, havia aqueles discursos de permeio de que somos um País soberano, sabemos o que estamos a fazer, não precisamos de nenhuma ajuda militar estrangeira; discursos esses que os ministros do Governo amplificavam literalmente.
E hoje? Na tal comunicação à nação o Presidente simplesmente enumera o cenário de destruição de infra-estruturas, perda de vidas humanas e abandono das populações às suas casas ou aldeias, mas em nenhum momento faz menção do que as autoridades fizeram para contrariar a situação, até dá a impressão dum Governo que ficou a assistir de forma impávida à destruição.
Que ingenuidade!? A vacatura de Presidente da República ainda não está ocupada! Poderia enumerar vários exemplos. Mas chega. Contudo, aí está, mais uma vez, o resultado de se fazer política sem o conhecimento da estratégia de acção política, o resultado de improvisação, o resultado de não aceitar opinião de outros, só dos que rezam segundo a cartilha do Presidente.
A cada dia que passa, o Presidente tem demonstrado, com uma clarividência invulgar, que não está a altura do cargo que ocupa. O cargo de Presidente da República ofusca-lhe. É como se vestisse roupas de um tamanho maior. As roupas, nesse caso, é que lhe vestem a si.
O Presidente, por dar atenção aos seus assessores (quais mercenários), nunca aproveita os diversos conselhos, gratuitos e desinteressados, que lhe advêm de vários quadrantes de opinião, os quais sempre lhos deram para a melhoria da sua actuação política.
Diferente do Rei Midas, tudo o que o Presidente toca vira…
DN – 30.07.2021