O nome do Presidente moçambicano Filipe Nyusi, continua a ser, directa ou indirectamente, ventilado pelos réus do processo das dívidas ocultas, cujo julgamento concluiu a primeira semana de audiências nesta sexta-feira, 27.
Políticos e personalidades da sociedade civil estão muito atentos ao julgamento e aguardam com espectativa o processo.
Mas consideram essencial que Filipe Nyusi seja chamado a declarar.
“Por uma questão de integridade e ética própria, devia haver uma vontade genuína do Presidente da República de, voluntariamente, se predispor a explicar a dimensão do seu envolvimento neste caso”, considera o deputado da Renamo Venâncio Mondlane.
Por sua vez, a activista social Quitéria Guirengane, considera ser preciso exorcisar todos os fantasmas deste processo.
“Para nós era importante que houvesse um maior número de diligências necessárias, incluindo a audição do então ministro da Defesa Nacional (Filipe Nyusi) e o partido Frelimo”, defende.
Ao fim da primeira semana do mega-julgamento, advogados que defendem alguns acusados já tiram as primeiras ilações.
Rodrigo Rocha é defensor de Cipriano Mutota, antigo director de estudos e projectos da secreta faz a sua análise critica à actuação do juiz, Efigénio Baptista, que em alguns aspectos prejudicaram a defesa do seu constituinte.
“Algum rigor do juiz, ou aquilo que é a sua posição, no meu entender, já prejudicou, inclusivamente a defesa do meu constituinte, porque certas coisas que ele não pode dizer por serem questões de segredo do Estado, foi obrigado a dizer”, afirma Rocha.
Para a próxima semana, particular atenção estará centrada na audiência de Ndambi Guebuza, filho do antigo Presidente Armando Guebuza, e que, segundo o lobista do escândalo, Teófilo Nhangumele, ter-se-á beneficiado de 33 milhões de dólares do valor do calote.
Caso Manuel Chang
A semana das audições fecha no dia em que se ficou a saber que o Supremo Tribunal da África do Sul adiou para Setembro a audiência que vai decidir sobre o recurso interposto pelo Fórum de Monitoraria Orçamental, que travou esta semana a extradição do antigo ministro das Finanças, Manuel Chang para Maputo.
Isálcio Mahanjane, advogado de Ndambi Guebuza e Inês Moiane, respectivamente, filho e antiga secretária particular de Armando Guebuza, lamenta as voltas que a extradição de Chang está a dar.
“A justiça sul-africana tem o seu processualismo e acredito que está a seguir, contudo, como moçambicano, não deixa de me preocupar o facto deste processo estar a arrastar-se há anos, uma situação que deixa o nosso concidadão cada vez mais numa situação precária”, afirma.
No banco dos réus estão 19 pessoas acusadas pela Procuradoria-Geral da República de envolvimento do caso das dívidas ocultas.
Refira-se que o antigo ministro Manuel Chang, considerado pivô do esquema de corrupção responde um processo à parte.
VOA – 27.08.2021