Por Edwin Hounnou
Como qualquer povo do mundo, é bom viver em paz, ir para cama com a certeza de que nenhum bandido lhe irá lhe tirar a vida nem a dele, nem a de ninguém da sua família. Por esta razão, assistimos o povo dançar abraçado aos militares ruandeses pelo bom trabalho que prestam na defesa vidas e de instituições de moçambicanos e, na certeza de que, se aparecer os terroristas serão castigados, quer dizer, perseguido e até correr o risco de perder a vida. Por isso, estamos a ver 46 anos depois da independência nacional, homens, mulheres e crianças saltitam, dançam, abraçam-se de tanta alegria, ovacionam e batem palmas para colunas militares que passam a caminho de Cabo Delgado por se aperceberem que chegou a hora de tranquilidade e sossego. O povo sabe quem está à altura de lhe proporcionar uma defesa eficaz, por isso se rejubila pela chegada das forças ruandesas que são vistas como quem lhes vem tirar do buraco.
Quando ouvíamos dizer que nenhum pedaço do nosso território, nenhuma localidade ou vila estava ocupados por terroristas, nós sabíamos que aquilo não passava de uma mentira grosseira porque tínhamos conhecimento de que por exemplo, os postos administrativos de Awasse, Diaca e outros povoados estavam ocupados desde os meados do ano de 2020. A Vila da Mocímboa da Praia estava ocupada desde Agosto de 2020 e nenhuma pessoa podia podia entrar ou sair daquela urbe. Nenhuma viatura podia aí chegar ou atravessar ainda que os desmentidos saíssem da boca do comandante-geral da Polícia da República de Moçambique ou mesmo dos ministros do Interior ou da Defesa que, também, aprendeu a mentir. Aprendemos uma coisa muito importante que, na guerra se mente bastante da parte dos que têm o dever moral pelo treinamento, equipamento das forças armadas, como forma de se esquivarem das suas responsabilidades políticas pela incapacidade demonstrado pelas FADM. Ao invés de elaborarem desmentidos, deveriam treinar e equipar as forças armadas para prontidão combativa. Os rapazes estão prontos para tudo mas a direcção tem muitas fraquezas.
Sempre falamos que o partido Frelimo tem que se afastar da gestão do bem comum e das instituições públicas. Estamos hoje de côcoras e envergonhados por não possuirmos um exército capaz de bater terroristas devido às intromissões políticas como a transferência do poder de fogo dos militares para a polícia e vimos essa visão errada quando os ataques terroristas começaram. A Frelimo e sua liderança foram relevantes em aceitar que aquilo fosse uma guerra terrorista e para se consolar, frisavam que se tratava de ladrões. Antes do primeiro ataque à vila da Mocímboa da Praia, a 5 de Outubro de 2017, o governo refugiava-se dizendo que tudo não passava de conflito inter-religioso.
Porém, nas mesquitas de Pemba já estavam instaladas células terroristas que até faziam treinos como ordem unida nos pátios das madrassas, quer dizer, marcha militar, placar, corridas e outro tipo de treinos, algo que não nada a ver com igrejas ou qualquer tipo de religião. O governo foi sendo alertado sobre o surgimento nas mesquitas de uma nova postura mas ninguém levou a sério os avisos emitidos até ao ataque da Mocímboa da Praia. As armas usadas no ataque à vila da Mocímboa da Praia e os próprios terroristas saíram de algumas mesquitas de Pemba.
Devido ao excesso de ganância pelo poder ilegítimo, o partido Frelimo deixou as portas escancaradas para qualquer terrorista ou bandido atacar e ocupar o nosso país e hoje estamos de mãos estendidas a pedir socorro. Somos protegidos e o nosso território defendido por Ruanda, um pequeno território que cabe em Moçambique mais de 30 vezes e com uma população que corresponde quase três vezes menos que a do nosso país. Ruanda tem um PIB de cerca de 11 biliões de dólares enquanto de Moçambique é 15 biliões, mas este pequeno país da África Ocidental tem um exército mais forte que o nosso que “desconseguiu" bater os terroristas que ocupam extensas áreas de Cabo Delgado.
Ruanda precisou de 30 dias para os terroristas fugirem, abandonando armas, incluindo mapas de reconhecimento e livros de alcorão que dizem ser sua fonte de inspiração, porém sabemos que isso é de todo falso, porque a religião islâmica é pela paz e fraternidade. O seu exército tão culto que já cria saudades nas populações locais com as quais se abraça, pila e conversa de forma amena. As populações de Cabo Delgado até já dizem não precisar de intérprete para se comunicar com soldados ruandeses.
Comparando as valências económicas entre Moçambique e Ruanda, salta à vista que o nosso país possui 2700 km de costa maírítima para turismo e pesca e uma infindável economia azul, tem marques e reservas naturais. Para além disso, temos três grandes corredores com portos, caminhos de ferro para o interland, designadamente, o corredor de Maputo, Beira e Nacala, porém, quase desaproveitados. Exporta alumínio e electricidade da HCB para África do Sul, Zâmbia, Zimbabwe e Swazilândia. Enquanto isso, Ruanda não tem costa marítima nem corredores de desenvolvimento e o forte das suas exportações se assenta em banana, café, turismo e industrial tecnológica emergente. Kigali, a sua capital é uma cidade moderna, com ruas sem buracos nem lixo a transbordar por tudo quanto seja canto. Tem jardins bem tratados. É uma beleza! dá prazer de nela habitar e transmite a sensação de estarmos numa Lourenço Marques, Beira ou Nampula dos anos 1975-1980. Temos saudades de viver numa cidade limpa e bem organizada!
Ruanda construiu um exército pequeno, forte e moderno para o seu povo dormir tranquilo e ajudar a seus amigos que precisarem de apoio. Paul Kagamé, seu presidente, não fez calote aldrabando que vai edificar um exército para se defender ninguém e Moçambique tem muita coisa que aprender deste pequeno país, ainda que discordemos da sua política de mover uma perseguição cerrada contra seus opositores políticos a que procura para além-fronteiras, tirando-lhes a vida. Não aprovamos o facto de Kagamé ter alterado a constituição do país para lhe permitir que se mantivesse no poder por mais tempo do que o previsto na Lei-Mãe. Esta prática de alterar a constituição é própria de ditadores para acomodar os seus apetites que, infelizmente, também nos persegue no nosso horizontal, pois o Presidente Filipe Nyusi tem dado sinais de que não pretende deixar o poder, como determina a Constituição. Estamos para ver como vai terminar este cinema mudo que Nyusi nos quer presentear. Se a brincadeira de alterar a Constituição persistir, o país vai ser jogado num buraco sem fundo de onde sairemos bem machucados.
A nossa maior dúvida, parece também ser de tantos outros, depois da saída do contingente ruandês quem ficará a defender os moçambicanos que hoje são vítimas dos terroristas? A Força Conjunta da SADC tem um período, embora possa vir a ser renovado, caso seja necessário, o medo da guerra de intensificar as nossas forças - FADM – também conhecidas por leões da floresta, já nos deram bastantes provas de que é melhor negociar bem com Paul Kagamé para nos ajudar a manter os terroristas longe das nossas fronteiras para que o povo possa viver tranquilo. Sugerimos, igualmente ao governo, que celebre um contrato com Kigali a fim de que venha um contingente policial para travar os raptos que são protagonizados por agentes da SERNIC. Não se esquecendo também de incluir a Polícia de Trânsito para dar um intervalo de descanso aos automobilistas dos pedidos de refresco como condução para prosseguirem viagem. Que tal apreciar positivamente nossa proposta, Mr. President?!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 18.08.2021