EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (70)
Não acredito que não haja alguém dentro da Frelimo que não queira saber, de si Presidente, como é possível mil homens e mulheres terem feito, em duas semanas, aquilo que nós em quatro anos não conseguimos fazer.
Se ainda não lhe fizeram esta pergunta, sobretudo os seus assessores directos, é porque a esclerose no partido é mais do que eu supunha. Há estagnação total! A Frelimo precisa da nossa ajuda!
A retomada de Mocímboa da Praia ocorreu cerca de um mês depois da chegada de militares ruandeses a Cabo Delgado. E isso mostra que aqueles que estão a desencadear a violência naquela província não têm uma força tão imensa como muitas vezes se pretende, e que qualquer força militar minimamente organizada e com meios pode derrota-los.
A insurgência não é tão poderosa, como se pretendia fazer crer. Se fosse, uma força externa não teria recuperado Mocímboa da Praia em duas semanas. Portanto, é embaraçoso quando até o Presidente, o Comandante- Chefe das Forças Armadas de Defesa de Moçambique enverede por triunfalismos.
Muito provavelmente, esta devia ser a altura certa para introspecção. Parece que andamos, há muito tempo, a brincar à políticos! Fazemos política sem o conhecimento da estratégia de acção política, improvisamos. Isto é vergonhoso porque destapa, de certa forma, o que todos especulavam: há falta de visão de longo prazo.
Na Frelimo não há planificação e consistência organizacional interna. Ao fim do dia, esta reconquista de Mocímboa da Praia- politicamente-, beneficia os ruandeses. Eles mostraram ao mundo- graças à nossa incompetência- que são tão fortes militarmente que até as suas mulheres podem travar um inimigo que colocava, há quatro anos, o Governo de Maputo em posição genuflexiva.
O maior perdedor neste evento é, certamente, o Governo da Frelimo que mostrou ao mundo, com uma clarividência invulgar, que é incompetente; não consegue defender o seu povo de uma insurgência fraca que é escorraçada em duas semanas por mil homens, incluindo mulheres.
Quatro anos depois! É uma derrota escandalosa, mas não surpreendente, pois nenhum indivíduo, minimamente sério, poderia esperar uma vitória do exército governamental sozinho na retomada de Mocímboa da Praia, uma vez que este exército não tem quem o conduza; está à deriva há mais de quatro anos, tempo que dura a insurgência.
Aliás, a Frelimo fez um imenso investimento na sua própria derrota, vivendo de controvérsia em controvérsia. A sua liderança é associada a inauditos escândalos de corrupção. As suas lideranças nunca aproveitam os diversos conselhos, gratuitos e desinteressados, que lhe advêm de vários quadrantes de opinião, só porque estes são de dados por pessoas que não rezam segundo a cartilha frelimista.
Por exemplo, o Presidente sabia que não tem nenhum exército para fazer frente aos terroristas, mas, ainda assim arrastou o tempo sem pedir ajuda dos que podem, alegando que somos um País soberano, além de propaganda barata sobre a derrota do inimigo no terreno, quando sabia que tudo isto não passava de um embuste.
Custa-me imenso perceber como é que o Presidente, sabendo do estado das nossas Forças de Defesa e Segurança (o senhor foi ministro da Defesa); sabendo da falta de recursos, mesmo assim demorou para pedir ajuda estrangeira.
É invulgar o que o Presidente fez. Até parecia possuir uma garantia secreta e invisível de que sempre conseguirá fazer Cabo Delgado voltar à normalidade.
DN – 13.08.2021