A despeito da ajuda ou socorro militar que Moçambique vem a receber do Ruanda, um país desconhecido, antes de 1994 e conhecido no decurso desse ano devido a uma sangrenta guerra étnica que em 100 dias matou mais de 800.000 pessoas, a um ritmo médio impressionante de 8.000 mortos por dia, acendeu-se um grande debate quando alguém disse que antes da Independência e nos tempos subsequentes, Moçambique já foi um país com economia próspera que exportava quase tudo o que hoje importa: arroz, chá, óleo alimentar, milho; batata, tomate, cebola, repolho, citrinos. Só há poucos anos deixou de importar açúcar. Ou seja, após a independência, o país passou a importar o que dantes exportava.
É UM TEMA SENSÍVEL, SUSCEPTIVEL DE FERIR MUITAS ALMAS, MAS VAMOS A ALGUNS ASPECTOS DO QUE EFECTIVAMENTE ACONTECEU E NOS FIZERAM BATER NO FUNDO DE ONDE NÃO ESTAMOS A CONSEGUIR SAIR:
A nossa independência foi conquistada com ruptura revolucionária entre o velho e o novo que chegava. Depois advieram as consequências; da euforia revolucionária e com elas as decisões revolucionárias como a expulsão ou fuga dos colonos, donos e gestores de pequenos, médios e grandes empreendimentos economicos.
Foi isto que aconteceu connosco. Após a Independência, a adoção das políticas Marxistas-Leninistas que ditaram para que o Novo Estado passasse a distribuir o que efectivamente não tinha para dustribuir e, como se diz, o Comunismo acaba quando o Estado não tem mais nada para dustribuir porque ele não produz o suficiente para distribuir.
Connosco aconteceu exactamente isso. Maquinarias, veiculos e matérias primas fornecidas pelo Ocidente, foram substituídos por outros fornecidos pelo Leste. Imaginem as consequências imediatas disso.
As empresas começaram a ter falta de matérias primas e a produção começou a cair. Os Gestores e técnicos brancos e negros considerados reacionários foram substituídos por combatentes idos da Tanzânia ou por simples trabalhadoes espertos e curiosos locais que nem sabiam de onde importar as matérias primas para assegurar a produção das empresas que administravam, mesmo produzindo, não sabiam onde ou a quem vender a produção final. A Economia de Moçambique começou a ressentir-se disso.
Depois veio um outro grande factor, a Guerra Civil, em parte financiada pelos colonos, antigos donos de muitos empreendimentos económicos existentes em Moçambique.
A criação da Renamo também teve esta componente.
A Renamo, na guerra que desencadeou, arrasou tudo. Não deixou nada em pé. Por exemplo, a linha que leva a energia de Cahora Bassa a RSA teve de ser construída de novo após o fim da guerra. A linha de Ressano Garcia também. As linhas ferreas de Ressano, Goba, Limpopo, Beira-Machipanda, Linha de Sena, tiveram de ser feitas de novo. Companhias inteiras sumiram com a Renamo, sendo exemplos a ROMOS, ROMOC, ROMOZA, ROMON; a majestosa Ponte D. Ana com quase 6 kms de comprimento não escapou, as Escolas, Hospitais não escaparam.
A Economia Colonial e do pós-Independência, assente na Rural foi totalmente extinta pela Renamo e disso adveio o êxodo rural para as pequenas e cidades nas quais as pessoas só viviam sem nada fazer e das cidades, as pessoas não mais saíram e continuaram até hoje.
As nossas cidades continuam cheias de improdutivos e a proliferação de vendedores de esquinas, vendedores de rebuçados, cigarros, guardadores da carros, e tantos outros negociozinhos é reflexo disso.
Depois veio a Pequena, Média e Grande CORRUPÇÃO com as quais, no lugar de engrandecerem o Estado, engrandeceram as pessoas à custa do Roubo, Jogadas, Comissões etc. nos quais os recursos são tirados do Estado para as pessoas.
Não é por acaso que do nada, passamos a ter muitas pessoas com muito dinheiro produto do Saque ao Estado, pessoas cujas actividades economicas, ninguém vê mas têm muito dinheiro. No lugar de crescer o Estado, cresceram Boladeiros, Intermediários Financeiros, Comissionistas, Chantangistas que são capazes de paralisar um Empreendimento do Estado enquanto não forem satisfeitos os seus desejos pessoais. O nosso Estado está nesta fase, Era dos Mafiosos e, como a Máfia não olha nem escolhe onde pastar, advieram as Dividas Ocultas.... atenção que os propósitos iniciais eram todos de interesse e necessidades do Estado só que, ao longo da caminhada, os interesses do Estado goram substituídos por interesses das pessoas e tudo deu no que deu e, como um Azar não vem só, adveio o conflito da Zona Centro e a Guerra Terrorista de Cabo Delgado.
Todas as pessoas ligadas à logística destas guerras, não querem que as mesmas acabem.
A guerra terrorista de Cabo Delgado trouxe novos ricos ligados ao Ministério da Defesa Nacional e ao Ministério do Interior e estes, nunca quererão que a mesma acabe tão já porque é a sua nova e descontrolada fonte de riqueza.
Desde o início da guerra da Zona Centro, muitos generais ligados a ela, nunca quiseram que o Estado aja com muita musculatura, senão a guerra vai acabar cedo e secar a fonte de rendimentos.
Na guerra terrorista de Cabo Delgado, igualmente, nunca houve uma ação musculada do Estado para controlar e esmagar os terrorista porque acabar cedo a guerra, significaria fazer secar cedo as fontes de enriquecimento. Colocar militares/pessoas no terreno, sem lhe providenciar meios robustos para esmagarem os terroristas é uma das forma como as pessoas ligadas à guerra enriquecem: fazer uma guerra mínima, para ela não acabar cedo.
Não são minhas as declarações segundo as quais há fugas de informação para os terroristas a partir de Maputo ou seja, na sede do exército.
Não é por acaso que muitos meios de guerra são levados via terrestre, de Maputo a Cabo Delgado havendo portos em Nacala e Pemba. Os meios militares são importados donde são importados, no lugar de estes navios escalarem e descarregarem nos portos de Pemba ou Nacala, tudo tem de vir a Maputo para daqui se alugar viaturas, com comissões no meio; destacar-se tropa de escolta a despeito da qual se tira muito dinheiro para pagar isto e aquilo mas que, na verdade não chega aos militares. A maior parte desses recursos não chega sequer de sair de Maputo.
Um dia, apareceu numa televisão um militar a falar qualquer coisa sobre a guerra de Cabo de Delgado. Eu estava sentado com uma amiga e esta, ao ver aquele militar na tv disse: este é meu vizinho.... ele está a terminar a construção da casa dele, rés-do-chão, primeiro e segundo andar.... a minha consciência sobre esta guerra ganhou outras dimensões sobre as guerras do Centro e Norte de Moçambique. Não vejo, onde um militar ligado a guerra de Cabo Delgado pode estar a ganhar tanto dinheiro para estar a construir uma mansão com dois andares, senão na própria guerra. Em Angola, houve generais que se tornaram bilionários à custa da guerra. Mós não temos como ser excepções.
Há gente que se está a fazer uma fonte de enriquecimento, gente que quer que a guerra dure indefinidamente, não espantado as recorrentes referências de infiltrações e fugas de informação a partir de Maputo. É aqui onde estão os beneficiários da guerra terrorista de Cabo Delgado.
A chegada da Tropa Ruandesa pode ter colhido de surpresa muitos generais mafiosos sediados em Maputo. A preparação das operações das Tropas Ruandezas e Moçambicanas existentes no terreno, podem ter deixado de passar por Maputo e isso pode, em parte justificar a rápida progressão das mesmas culminando com a tomada de Mocímboa de Praia. No fim desta guerra, uma vez mais, Moçambique terá ficado empobrecido e, uma vez mais, um punhado de generais e outros donos desta guerra vão sair dela como grandes endinheirados... qualquer guerra, nunca é má para todos. A nossa não seria uma excepção.
(Autor não identificado)