Observadores moçambicanos nas eleições zambianas apontam várias lições que Maputo poderia tirar das presidenciais que elegeram o líder da oposição Hakainde Hichilema e destronou Edgar Lungu.
Os observadores moçambicanos que estiveram presentes nas recentes eleições presidenciais zambianas, em que saiu vencedor o candidato do partido Unido para o Desenvolvimento Nacional, na oposição, Hakainde Hichilema, dão nota positiva à organização do escrutínio e consideram que Moçambique pode tirar várias lições daquele processo.
Fernando Gonçalves é o presidente do MISA-Moçambique, uma organização cívica da África Austral de defesa da liberdade de imprensa, e diz que a principal lição é a "seriedade".
"A primeira lição é a seriedade com que o processo foi dirigido, o profissionalismo da Comissão Nacional de Eleições e também a celeridade com que a contagem foi feita. Os resultados foram apresentados num prazo máximo de 72 horas e isto é muito importante para questões de transparência do processo", frisou Gonçalves à DW.
"Trabalho independente"
A qualidade do trabalho dos órgãos eleitorais impressionou também o diretor do Centro para Democracia e Desenvolvimento, Adriano Nuvunga, que destacou que foi "um trabalho independente, imparcial e orientado para facilitar a vontade dos zambianos".
"O que nós vimos em primeiro lugar foi a maneira ordeira com que as instituições zambianas e os órgãos eleitorais em particular dirigiram o processo. Um sentido de serviço público e não servir a interesses político-partidários", avaliou.
"Aqui em Moçambique fica-se 15-20 dias sem saber os resultados de uma província", observou Adriano Nuvunga.
Excessiva burocracia em Moçambique
Nos processos eleitorais moçambicanos, uma das queixas mais frequentes está relacionada com a alegada excessiva burocracia no processo de acreditação para a cobertura eleitoral.
Fernando Gonçalves diz que na Zâmbia não constatou nenhum problema do género. "Não me foi apresentada nenhuma reclamação de que jornalistas tiveram o seu acesso ao processo eleitoral dificultado em função da lentidão ou da recusa da sua acreditação, nem para jornalistas nem para observadores. Portanto, eu acho que há aqui um exemplo a seguir", pontuou.
Durante as eleições, a oposição colocou fiscais em todas as mesas de voto e 24 horas depois do escrutínio já tinha concluída a contagem paralela de votos, indicou Adriano Nuvunga.
"A oposição esteve organizada, colocando pessoas motivadas nas mesas para fiscalizar, coisa que não se tem visto aqui [em Moçambique]. Ao nível da organização, os partidos no geral aqui em Moçambique são muito fracos", considerou o diretor do Centro para Democracia e Desenvolvimento em entrevista à DW.
DW – 17.08.2021