Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
O crime atormenta o povo moçambicano e cria em todo país um ambiente de medo, e medo é o inimigo de mudança. Destarte, para que o povo moçambicano se possa voltar para as grandes alternativas nacionais precisamos liquidar esse medo, e destruir o reino do crime e isso começa numa distinção fundamental entre dois [2] tipos de crimes e as respostas que cada tipo de crime exige: o crime organizado e o crime comum.
De facto, o grande defeito da discussão a respeito do crime é a confusão entre esses dois [2] tipos de crimes e entre as grandes respostas que cada tipo de crime exige do Estado. Repare! O crime organizado surgi no vazio criado pela ausência e pela fraqueza do Estado. Na verdade, o crime organizado é uma espécie de contra o Estado. Logo, quando o Estado está fraco ou ausente, o crime organizado faz o seu negócio de tráfico de drogas, tráfico de armas, contrabando, sequestro para aproveitar a omissão do Estado e para se fundamentar para criar bases na sociedade, depois o crime organizado faz aquilo que o Estado deixou de fazer e, como consequência ele mesmo começa a [organizar] a sociedade, por exemplo por meio de seus cartéis e a dar benefícios à população.
Destarte, a única resposta este caso, ao crime organizado é a contra agressão pelo Estado contra os criminosos. É policiamento forte: a «polícia de choque» com todos seus meios bélicos, a Polícia da República de Moçambique e uma nova segurança nacional que nós teremos que criar equipada com tecnologia de ponta e com aparato de inteligência e de contra-inteligência forte. Ou seja, é arrebentar o cerco imposto por esse contra Estado e esmaga-lo por completo.
Em segundo lugar; o crime comum é completamente diferente do crime organizado. Ou seja, o crime comum é em primeiro lugar a consequência da desorganização da sociedade em sua base. Disso não tenhamos dúvidas!
Muita gente em Moçambique ainda pensa que o crime comum é apenas resultado da pobreza e desigualdade sociais. Não! Não é verdade! Agora mesmo conheci um país mais pobre do que Moçambique e quase desigual em que, o nível de criminalidade comum é muito mais baixo do que Moçambique. A razão é porque naquele país a sociedade está altamente organizada em sua base, por meio da valoração e organizações religiosas e casta e há quem caracteriza a valoração como o próprio esforço em transformar o que é naquilo que deve ser.
No entanto, na nossa sociedade e nas nossas grandes cidades do país encontramos uma população flutuante. Ou seja, a maioria das famílias completamente desestruturadas muitas vezes conduzidas por mães solteiras, enquanto os homens se revezam como companheiros instáveis, e a organização acontece só em pedaços, isso é muito desigual. Já está em tempo de nos preocuparmos seriamente com a questão dos valores neste país e abandonarmos a ideia que o luxo e o dinheiro estão acima tudo.
Logo, só podemos combater o crime comum organizando a sociedade na sua base, e um dos meios de começar uma dinâmica de organização, seria contratar agentes comunitários de vigilância. Agentes comunitários de vigilância, que se responsabilizassem por comunicar o que ocorre as policias e a segurança nacional, mas ao mesmo tempo pôr a organizar os seus vizinhos em cada bairro, em cada vila, em cada localidade. Associações comunitárias conduzidas por vigilantes altamente disciplinados e aqui se dariam instrumentos de comunicação: iluminar as ruas, pracetas e atalhos, tornar tudo transparente, estimular o sentimento de responsabilidade de uns para os outros. Este, a meu ver, é um dos meios de fazer com que o crime comum reduza.
Da mesma forma, é um instrumento precioso para o nosso país a organização social na base, pois não é apenas um instrumento para combater o crime, mas sim é um meio de empoderar a sociedade para tudo e para tudo mais. Repare! Uma sociedade que se organiza mesmo, a partir do combate ao crime é uma sociedade que se empodera.
Portanto, no combate ao crime organizado, a presença policial forte é o que tem que vir na frente com ajuda da inteligência e de contra-inteligência com apoio de uma sociedade, que se organiza na base. É o segredo de fundo.
No combate ao crime comum é o oposto. O que tem que vir na frente é a organização da sociedade na sua base com o apoio da Polícia e da segurança nacional como segredo de fundo.
Resumindo, compreender essas diferenças de problemas e de políticas é, o ponto de partida para uma revolução na nossa maneira de responder ao crime organizado e ao crime comum em Moçambique.
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, [31] de Agosto 20[21]