Por ten-cornel Manuel Bernardo Gondola
O Sudão é um país africano que fica em baixo do Egipto e tem uma importância histórica imensa. Na verdade, o Sudão é o país que mais têm pirâmides no mundo apesar delas não serem as mais conhecidas, porque são as do Egipto. O Sudão ganha com folga e em quantidade têm mais de [250] pirâmides por lá.
Antes mesmo de Cristo nascer, já tinha um grande reino na região; o reino de Cuxe. Devo lembrar, foi também no Sudão, que uma das mais famosas fotografias de todos os tempos foi feita; “uma criança faminta e um abutre”. Foi feita em 19[93], pelo Kevin Carter. Essa fotografia correu o mundo todo, deu vários prémios internacionais para Carter, mas ele assombrado pelos horrores que tinha visto, tirou sua própria vida no ano seguinte. Essa fotografia mostrou ao mundo uma situação que o Sudão já enfrentava há bastante tempo: a fome.
Apesar de ter sido o palco de reinos importantíssimos durante a história, o Sudão não conseguiu manter esse status. Até Julho de 20[11], o Sudão era o maior país da África, enfrentou uma série de conflitos internos e também lutou contra interferências externas. A região Norte do país, é a mais desértica, é dominada pela cultura árabe, e professa a religião islâmica, ao passo, que a região Sul, que têm selvas, pântanos e têm seus indivíduos sendo a maioria cristãos ou devotos a religiões nativas africanas.
A partir, do século [VII] o islamismo chegou a África, começando pelo Egipto. E, a partir de 18[21]começa o domínio egípcio sobre o Sudão o que foi agravada, a partir de 18[99] quando o Reino Unido passa a administrar o território sudanês em parceria com o Egipto. Esse período ia ser fundamental para conflitos, que ainda iriam nascer no Sudão, porque a região Norte, aquela onde fica a Capital Khartoum [Cartum] e mais perto do Egipto, recebeu muito mais investimento do Reino Unido, do que, a região Sul.
Foi, também durante a administração britânica, que as primeiras escolas técnicas e primárias foram estabelecidas no Sudão, e isso favoreceu o fortalecimento duma elite e, quando a [ideia] da independência começara a surgir no país, era essa elite que tinha voz activa, essas elites que geralmente eram religiosas fixadas na Capital Cartum, passaram a ignorar cada vez mais os interesses de regiões, que não ficavam por ali.
Como resultado, cargos públicos importantes passaram a ser [atribuídos] aos sudaneses do Norte e a educação passou a valorizar principalmente a cultura árabe, em seguida, missionários católicos chegaram a ser expulsos do país no começo da década de 19[60]. As fronteiras sudanesas não foram estipuladas pelos seus habitantes, isso foi-lhes imposto, tanto pelos egípcios, quanto pelos britânicos. E então quando o país conquista a sua independência em 19[56], grupos étnicos que tinham interesses muito diferentes passaram a partilhar uma nação é aí, que o Governo começa a adoptar medidas, que visavam favorecer à criação duma identidade nacional, sob o viés muçulmano o que não agradou em nada os habitantes do Sul do Sudão.
Mesmo antes da independência, a tensão já era grande entre o Norte e o Sul principalmente, depois que um grupo armado chamado Anya Nya [veneno de cobra] se organizou em forma de guerrilha, exigindo a independência do Sudão do Sul e que tinha que conseguir a qualquer meio mesmo que fosse através da violência.
Esse conflito tive início em 19[55] e é considerada a primeira guerra civil sudanesa, que teve seu fim em 19[72], quando foi assinado o Acordo de Adis Abeba, que deu autonomia a região Sul do Sudão, depois de [17] anos de conflito. Contudo, ainda havia tensões entre os grupos e aí, é que aparece um dos principais atores do mundo: o petróleo.
Desde 19[59] já se explorava petróleo no Sudão, mas dessa vez encontraram um montão no Sul, e sem consultar qualquer poder administrativo do Sul do país, são feitas as várias concessões para empresas estrangeiras, principalmente a Chevron, o que emputeceu os governantes do Sul, que mesmo tendo a riqueza em suas mãos ninguém os ligava.
Agora que o Governo não estava mais gastando dinheiro sinistro na guerra civil, era o momento de investir em infra-estruturas e também na produção que era muito importante para economia do país. E há quem diz que o Governo de Cartum tentou, mas tinham dois grandes problemas: corrupção e má gestão. Apesar do Governo possuir muito dinheiro para investimento, os planos económicos falharam e nem sempre por culpa só do Governo. Na década de 19[70], houve uma grande crise de petróleo, que prejudicou a industria do pais e fez com que, os melhores Quadros da região tivessem que ir em busca de outras oportunidades em outros países.
Nessa época o Presidente do país era Jaafar Nimeiry, que estava perdendo apoio político, ele tentou se agarrar ao poder com o apoio da irmandade muçulmana. Os muçulmanos já estavam na política, no Exercito, no sector público, na educação e acharam óptimo estar próximo do Presidente principalmente, porque ele abraçou [apoiou] várias ideias da irmandade como a implantação da Sharia; a lei islâmica que valeria para todo o país.
O sul, que já achava que estava tendo suas vontades e identidades ignoradas, agora tinha certeza. Uma nova guerra civil começou em 19[83] e ela foi ainda mais brutal do que a primeira. Nimeiry que precisava manter o controlo da região Sul, procurou destruir os Exércitos rebeldes só que, como isso era muito difícil, procurou dificultar ao máximo a vida no Sul. Chegou mesmo a paralisar a distribuição de alimentos para o Sul e, se no Norte a fome já era um problema seríssimo, no Sul a coisa ficou ainda mais feia. A esse ponto o Governo de Nimeiry já estava sendo questionada até por seus próprios apoiantes e ele não conseguiu se manter no poder.
Destarte, figuras menos conhecidas se renderam no poder até que o General Omar al-Bashir toma o poder e mostrou o que é que era [repreensão]. Oponentes políticos foram presos, e os seus Partidos foram proibidos e o sistema judiciário foi completamente desmantelado. Com Omar al-Bashir, uma nova política de expansionismo islâmico ganhou força e para enfraquecer os rivais do Sul, Bashir procurou impedir que ajuda humanitária chegasse.
Ele assumiu o poder em 19[89] e durante o seu Governo a economia até cresceu, e o país de facto se modernizou, o que não significa que a vida lá passou a ser fácil, ele continuo dificultando o envio de alimentos para a região Sul, problemas económicos ainda eram visíveis e se sentia falta de produtos básicos.
Foi um Governo altamente impopular e corrupto, fazendo do Bashir um dos líderes mais questionáveis do mundo. A guerra civil durou até 20[05], quando foi assinado o Tratado de Naivasha que estabeleu que o Sul, novamente teria uma administração separa e que dentro de alguns anos eles poderiam fazer um referendo, onde decidiriam se se separariam do Sudão ou não.
Até ao fim desse conflito, centenas de milhares de sudaneses perderam a vida, milhões ficaram desagregados e o problema da fome foi agravado no país. Em 20[11], um novo capítulo na história do Sudão se iniciou, porque aquele referendo no Sul, de facto aconteceu e [99%] dos votantes foram a favor da sua separação do Sudão, fazendo nascer o Sudão do sul, o mais jovem país do mundo. O país tem pouco de mais [10] anos de idade e apesar de ser rico em petróleo já nasceu um dos mais pobres do mundo.
O Sudão do Sul/Norte tiveram várias divergências quanto as suas fronteiras e também como dividiriam poços de petróleo. Menos de [30%] da população é alfabetizada e o país é um dos piores do mundo quando o tema é assistência médica. É um consenso entre especialistas, que o Sudão do Sul, não estava organizado e preparado o suficiente para declarar a sua independência, e isso originou novas divergências políticas, e uma nova guerra civil aconteceu na região.
Actualmente o Presidente do país é Salva Kiir, que aparece em público usando um chapéu de cowboy. Ele sempre foi activo nos grupos que lutaram pela independência do Sudão do Sul e pertence a principal etnia da região os Dinka, e foi um dos fundadores do movimento Exército pela Libertação do Povo Sudanês. Infelizmente, o grupo colocou seus interesses à frente dos outros grupos étnicos e… é nítido a política de exclusão contra esses grupos inclusive, contra os Nuer, da qual pertence o seu Vice-Presidente Riek Machar. Machar uma vez declarou o seu interesse em se tornar Presidente do Sudão do Sul e por muitos isso foi entendido como uma ameaça, porque ele iria promover um golpe para tomar o poder no país. Começam então as hostilidades entre os dois líderes nacionais, e grupos apoiados pelo Salvar Kiir, começam a fazer ataques aos grupos apoiados por Machar. Salva Kiir, diz que os ataques só são para responder aos ataques feitos pelo Machar, enquanto Machar diz que… não fez ataque nenhum. Isso foi em 20[13] e causou uma das principais crises humanitárias da actualidade. Ambos os lados da guerra são acusados de cometer crimes contra a população civil como estupro e assassinatos, principalmente o grupo apoiado pelo Governo.
Segundo a ONU uma série de direitos humanos foram violados: [380] mil pessoas morreram nessa guerra civil e [4] milhões tiveram que abandonar suas casas, isso e equivalente a [⅓] do país. As forças humanitárias e membros da ONU, também são alvos de ataques. Militares de vários lugares do mundo foram enviados ao Sudão e tem como objectivo garantir os direitos humanos, proteger os civis e dar suporte as agências humanitárias.
A ONU acredita que mais de [19] mil crianças foram recrutadas como soldados no Sudão do Sul. Outros países, como Uganda e etiópia, também se envolveram no país, as vezes ajudando recebendo refugiados, por vezes atrapalhando fortalecendo os grupos militares. Mas em 20[18], depois de várias tentativas chegou a encher paciência da comunidade internacional é assinado o Acordo de paz entre o Presidente e o seu Vice. O Salva Kiir e o Machar ainda são os dirigentes nacionais, mas segundo especialistas que analisam a questão no Sudão do Sul, há um grande desinteresse do Governo em resolver os problemas que o país enfrenta. Já faz alguns anos que a independência não é comemorada no país. Em 20[19], a Transparência Internacional apontou o Sudão do Sul como o [2°] pais mais corrupto do mundo, atrás da Somália que é mais corrupta.
Devo lembrar, que os conflitos no Sudão não se resumem a Norte contra o Sul; tem uma região no Oeste do pais chamada Darfur, que começou um grande conflito em 20[03], mas, tensões já existem contra o Governo desde a sua independência o motivo é o mesmo do Sul: falta de representatividade política e de investimentos.
Quando o Sudão conquistou a sua independência Darfur tinha [1/5] do território do país e [10%] da população do país vivia por lá. Não era uma região majoritariamente muçulmana, mas isso não impediu o Governo de impor o islamismo por lá também. Populações não islâmicas começaram a promover um levante e a resposta do Governo foi armar as milícias islâmicas para combater os rebeldes na região. Essas milícias islâmicas ficaram conhecidas como Janjaweed e foram responsáveis por cometer vários crimes [massacres] contra população civil. Existem vários relatos de mulheres, que afirmam terem sido sequestradas pelo grupo e mantidas como escravas sexuais. O Governo negou qualquer apoio a grupos extremistas e diz que, a tensão é provocada por conflitos tribais.
Segundo a ONU, [300] mil pessoas morrem no conflito em Darfur, sejam elas assassinadas no campo de batalha ou por doenças. Em 20[08], o Tribunal Penal Internacional [TPI], acusou o Presidente Bashir de crimes de guerra, crimes contra humanidade, e genocídio alegando que ele tinha responsabilidade pelo conflito em Darfur.
Bashir foi Presidente do país até 20[19], quando foi retirado à força do poder e condenado pasmem-se, a [2] anos de prisão por enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro. Contudo, essa condenação não fez o TPI desistir do gajo, ainda o querem que comparece lá para ser julgado.
Por isso, a história recente do Sudão não é elegante, destarte como não é com vários países africanos. Claro que, não se pode responsabilizar exclusivamente essa situação a variedade de etnias que existem no país. Factores climáticos internos, interferências externas e uma série de decisões políticas profundamente erradas contribuíram para o país se encontrar não situação em que está.
E, quando se fala da situação actual no/do Sudão do Sul alguns especialistas dizem que para resolver os problemas do país só uma nova gestão, porque a gestão que está lá no momento não é praticamente eficiente.
Enfim…o Sudão se dividiu, mas…
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [15] de Agosto de 20[21]