Uma disputa de terra entre militares e civis terminou com disparos e agressões no bairro Chingodzi, arredores de Tete, em Moçambique. Incidente devia ter sido debatido hoje, mas polícia e autarquia faltaram ao encontro.
Os populares reivindicam vários hectares de terra localizados junto ao quartel da polícia militar, na cidade de Tete, centro de Moçambique. Afirmam que herdaram os terrenos dos seus antepassados e ali nasceram, cresceram e desenvolveram a prática agrícola.
Acusam agora os militares de se apoderarem do espaço, alegando que pertence ao quartel e que está interdito à habitação e outras atividades.
No entanto, segundo a população, os mesmos terrenos estão a ser comercializados a outros civis e a ser distribuídos para a fixação de residências dos próprios militares.
Indignados, dezenas de populares saíram à rua na terça-feira (17.08) para reivindicar as suas terras. Mas cerca de 50 polícias militares reprimiram a manifestação, agredindo as pessoas - incluindo mulheres idosas - e disparando mais de uma centena de balas reais para acabar com os tumultos.
"Nós queremos justiça. Não queremos ver mais essas coisas, por isso levamos o caso para a frente, para nos resolverem o problema, porque se tivéssemos ficado assim só, ontem poderíamos morrer", disse um popular à DW.
"Houve disparos aqui ontem, havia à volta de 45 militares que vieram aqui, todos eles armados, encontraram-nos aqui e começaram a disparar de qualquer maneira, começaram a nos espancar e daí fomos levados para o quartel, chegamos lá algemados e nos espancaram de novo", relata outro manifestante, acrescentando que agora "não consegue andar" devido à violência de que foi vítima.
Para a manhã desta quinta-feira (19.08), estava marcado um encontro que juntaria os populares que se sentem injustiçados, a polícia militar e o conselho municipal da cidade de Tete, sendo que os dois últimos faltaram ao encontro, sem dar nenhuma explicação.
A DW África tentou ouvir a vereação que tutela a urbanização, mas esta não se disponibilizou para qualquer esclarecimento. Tentámos também, sem sucesso, obter explicações do chefe da unidade residencial, acusado pela população de estar a cooperar com os militares na venda dos espaços.
"Agora não posso falar nada, não posso falar nada agora", disse o chefe da unidade residencial.
Caso irá a PGR?
E as vítimas contestam a indisponibilidade e exigem: "Ele como chefe está a dizer que não pode falar agora, vai falar quando? Fala agora, fala agora!"
O advogado Bento Salazar condena os atos protagonizados pelos militares e deixa um apelo aos populares: “Recomendo que todo cidadão que se sentiu lesado se aproxime da Procuradoria e faça uma participação de forma indiscriminada, detalhada e incluindo até a indicação do nome, as caraterísticas de todo membro da FADM que participou neste ato criminal”.
Enquanto isso, a população do bairro Chingodzi continua à espera de uma solução para a disputa do terreno.
DW – 20.08.2021