ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Olha, a primeira resposta simples a essa pergunta é…sim!... Evidentemente que sim! Agora, eu acho que tem no mínimo [2] elementos, que fazem com que, agente pense que o Marx não seja mais actual. Um é o elemento polarizado do debate, que empobrece continuamente um dos polos do debate que quer fazer com que o outro apareça como um espantalho, que seria um valor de forma crítica, dizendo por exemplo, que hoje não faz nenhum sentido, porque tal Organização política se revelou uma dissolução, que é falso, que sempre foi ou que pelo menos se tornou.
E uma outra resposta, essa é um pouco mais sólida intelectualmente falando é de que, o Marx, não seria actual, porque havia no pensamento do Marx, um grau importante de utopia, e esse grau importante de utopia era justamente a ideia de que, o Capitalismo entraria em crise ainda na época do Marx, lá no século [XIX] e que essa crise, iria por sua vez, gerar uma classe. A classe dos trabalhadores proletária, que iria fazer a revolução, porque isso era um determinismo histórico, que o Marx havia herdado da lógica dialéctica hegeliana, que via a história determinada por princípio racional intrínseco a ela.
Se outras vezes escrava, pois a leitura do Marx, luta de classes e que você poderia ler a história nessa chave [perspectiva] e lê-la, também a partir daqui para frente. O Marx, como um exemplo claro dos chamados jovens hegelianos, àquilo que também convencionou-se para nós na filosofia chamar-se de esquerda hegeliana, que entendia que você poderia ampliar método hegeliano, e ele ficou para traz, digamos assim, poderia aplicá-lo para frente.
E isso ficou complicado; ficou complicado pela experiência da Revolução soviética, de todos os Estados que seguiram a Revolução soviética, mesmo a China, que acabou abrindo para uma sociedade de mercado mantendo o privilégio do autoritarismo político de um só partido.
Mas, isso complicou como utopia, pois deu errado; o regime comunista foi uma tragédia, economicamente foi um fracasso, politicamente uma [ditadura terrível] e… todo o mundo sabe disso.
Então, isso acaba fazendo com que, se pense que o Marx não é mais válido, ou seja, útil o que for hoje em dia. Porém, a hermenêutica materialista marxista continua sendo válida, no sentido de que, ela continua sendo uma ferramenta do entendimento da realidade, a partir dos meios de produção ou dos modos de produção que geram a realidade. Portanto, é um equívoco pensar, que a sociedade brota do céu ou do chão de uma forma mágica, a partir só do que as pessoas pensam. Não! A sociedade, a vida é extremamente determinada pelos meios materiais que a geram.
A isso, vou dar um só exemplo: pensa por exemplo, num jovem que hoje tem entre [15] / [17] anos, ela é super pautado pelo facto, de que, tem uma ferramenta na mão chamada celular. Portanto, você consegue entender muito do que acontece com a juventude pelo facto de que, a vida dela é pautada por meio de produção de informação o celular. Do mesmo modo, como a pessoa que anda de mércedes-benz desde que nasceu, ela não tem noção exactamente do que significa pegar um machimbombo [chapa]. Quer dizer, ela tem uma outra percepção da realidade.
A medida que o mundo foi se industrializando, ele foi acelerando o termo social. Porquê! Porque você começou a acelerar os meios de produção, você começou a criar uma necessidade de consumo, essa necessidade de consumo, gerou uma ciência chamada marketing, a ciência chamada marketing, gerou uma virtude cívico que hoje em dia se chama optimismo. Por consequência, todo mundo hoje tem que pensar que tudo vai dar certo, porque se não as pessoas não consomem tudo do muito do que tem que ser consumido para poder gerar demanda e dar conta da necessidade de crescimento contínuo da economia. Então, é evidente que o Marx continua muito válido hoje em dia.
Agora, é claro que eu posso entender por exemplo, que o Capitalismo pode entrar em crise por conta das suas [contradições]. Na época do Marx, ele e o Engels previam que ia gerar um grande fluxo de pessoas sem emprego por conta da automação, que era vista na época com o avanço das máquinas e que isso iria separar por exemplo, a força produtiva do Capitalismo em reprodução do capital, da função social do trabalho, porque isso ia ter muitos desempregados e máquinas fazendo o trabalho dum amontoado de pessoas.
Ora! Isso não aconteceu naquele momento, mas isso continua sendo um problema quando você pensa, por exemplo, naquilo que no mundo do mercada chamam de executivo, que nada mais é do que o processo de produção, processo de acúmulo de capital partindo-se de pressuposto, que você precariza a relação com o trabalho.
Ou seja, todo o mundo acaba virando uma espécie de uber na vida; você trabalha, perde emprego muito rápido, você tem a precarização do salário e ao mesmo tempo você tem a racionalização disso para produzir mais e gerar mais capital e isso no mundo corporativo se chama de [disrupção], mas na verdade significa: pagar menos para as pessoas, despedir mais, produzir mais e gerar mais capital para quem quer capital.
A meu ver, o Marx continua válido hoje em dia. A diferença hoje sintetizando, eu diria assim: é o Marx, sem Hegel, se quiser, é o Marx em utopia sem racionalidade duma história, que avança para um mundo cada vez melhor, mas o Marx percebendo que, o Capitalismo enquanto tal, gera [contradição] e pode nos levar a uma condição muito semelhante com a da queda do Império Romano. Quer dizer, o Capitalismo começa a apodrecer, perde força de fundamentação da estrutura social, cria caos social, desorganização política, mas…nem por isso você tem no horizonte uma opção ao Capitalismo.
Compreendeu!
Manuel bernardo Gondola
Em Maputo, aos [22] de Setembro 20[21]