EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (76)
Sabe, Presidente, preferiria estar errado, mas não vejo sinceridade no conteúdo dos que dizem que o senhor está disposto a fazer de tudo para concorrer a um terceiro mandato. Eu acho que a acontecer, seria uma temeridade. Como pode?
Por que cargas de água um partido como a Frelimo deixaria isso acontecer? O Presidente até aqui ainda não se curvou no altar do purgatório para espiar os seus pecados. E não são poucos. Decisões erráticas, promessas não cumpridas, além de até aqui-segundo mandato- não perceber muito bem quais são as atribuições de um chefe de Estado.
Continua perplexo!
Se o Presidente, de facto, concorresse e viesse a ganhar- de livre e justa -, diria que nestes últimos dez anos, o povo moçambicano foi assolado por uma epidemia da ignorância: emburrecemos na última década!
Se os congoleses são sistematicamente assolados pela ébola; nós, os moçambicanos, temos a burrice! É que os erros que o Presidente vem cometendo desde o primeiro mandato, ofuscam o pouco que conseguiu. É um verdadeiro compêndio de aberrações.
O Presidente é citado como tendo feito parte desta vergonha que se chama dívidas ocultas- e nunca se explicou ao povo que o elegeu; lidou mal com a questão de Cabo Delgado; continua lidando mal com a questão do endividamento do País e com o acordo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração dos homens residuais da Renamo- e ainda chama ao que assinou com o Ossufo Momade de Acordos de Paz Definitiva (?).
Desde o início, com o seu negacionismo, o Governo minimizou a gravidade da guerra em Cabo Delgado. Tripudiou sobre ela. Fez pouco caso das centenas de moçambicanos que eram degolados pelos “jihadistas”. Agia como se tivesse uma garantia secreta que só estalando os dedos tudo voltaria ao normal.
Quando indagado sobre o número de mortos em Cabo Delgado, o Presidente minimizava e até distanciava-se dos argumentos dos pesquisadores sobre as motivações dos extremistas.
Para falar a verdade, o Presidente até aqui não tem um plano concreto sobre o que será de Cabo Delgado no pós-guerra! Vê-se que ainda continua a titubear. Não tem nada claro!
Não restam dúvidas hoje – quando a Nação alquebrada pelo demolidor número de pobres, cai desolada – sobre a falta de clareza na política desenvolvimentista do seu Governo.
O Presidente parece alimentar algum tipo de obsessão funesta e singular de desprezo ao pobre povo. Até o chama de “patrão” só para o imbecilizar.
Foi o Presidente, no topo da hierarquia de decisões de Estado, quem retardou a vinda de militares de países vizinhos para nos ajudarem no combate aos “jihadistas”, levando nossos irmãos moçambicanos a morrerem por fome, doença…a vida em Cabo Delgado colapsou de uma forma sem precedentes.
Foi o Presidente quem repudiou dos sistemáticos apelos para que abrisse as portas para a entrada de auxílio no País. Politizou a guerra enquanto a população era dizimada como cães em Cabo Delgado. E quer um terceiro mandato?!
Depois de um infindável rosário de decisões abomináveis do seu Governo? Eu devo estar são neste País de loucos! Não dizia o poeta que em Moçambique a única forma de liberdade que se conhece é a loucura?
DN – 24.09.2021