Por Edwin Hounnou
Na tenda gigante onde decorre o julgamento sobre as dívidas ocultas, na cadeia da máxima segurança, mais conhecida por BO, salta à vista a ausência dos quatro principais actores da contratação do maior escândalo financeiro havida no país – as dívidas ilegais que jogaram ao chão o sonho do povo, designadamente, Armando Guebuza, presidente da República, à data dos factos e maestro da equipa para delinquir o Estado moçambicano, Manuel Chang, então ministro da Economia e Finanças, que encaixou, na sua conta pessoal sete milhões de dólares, Filipe Nyusi, na altura ministro da Defesa Nacional, o grande entusiasta pela artimanha e o maior interessado pelo suposto sistema de defesa e monitoria da costa marítima e, por último, o partido Frelimo, no poder desde a independência nacional através de fraudes eleitorais como violência policial, ajuda fraternal dos órgãos eleitorais e financiamentos da grande máfia que explora os nossos recursos naturais como a madeira e outros, recebeu 10 milhões de dólares em quatro tranches deste grande calote a fim de financiar a sua campanha eleitoral e do seu candidato, Filipe Nyusi, hoje Presidente da República. Nyusi recebeu uma viatura de marca Land Cruiser, pintada com símbolos do partido e 1.500 mil dólares.
Qualquer julgamento judicial que se pretenda enquanto não envolver as quatro entidades – Armando Guebuza, Filipe Nyusi, Manuel Chang e o Partido Frelimo – não passa de uma mera peça teatral para divertir o público. O povo pode bater palmas, saltar de alegria, contorcer-se de emoção até entrar em delírio, porém, enquanto não se explicarem como esses nomes e unidade entraram em cena da roubalheira do calote, nós continuaremos a pensar que o Partido Frelimo serve de uma grande escola da malandrice. Não duvidamos de que o Partido Frelimo é uma verdadeira escola da máfia que semeia e consolida a pobreza no nosso país e é urgente, se ainda almejamos a paz e desenvolvimento socioeconómico, a sua remoção do caminho do povo. Os ideais da independência, do desenvolvimento e da liberdade deram lugar ao gangsterismo de Estado, ofuscando a credibilidade dos bons que existem no partido independentista. Ainda acreditamos que os bandidos, assassinos e caloteiros constituem uma minoria no partido governamental, por isso, o combate contra esse bando pode ser fácil por mais que se escondam na couraça do Estado entre carros de assalto, AKM's e foguetes.
Nyusi não deveria se esconder por detrás da impunidade (e não imunidade) que o cargo de Presidente da República lhe confere para explicar aos moçambicanos como seu nome aparece envolvido nas dívidas ocultas, se não quer ser tomado como um lesa-pátria que chegou ao poder para se enriquecer através de ilicitudes. Tem que ir, sem esperar que seja chamado, ao tribunal a fim de contar a sua versão sobre as dívidas ocultas que mancharam o nome do nosso país. Se não o fizer, voluntariamente, ficaremos com a sensação de que Nyusi está-se bater pelo terceiro ou quer continuar no poder, por outras formas quaisquer como uma maneira de se esquivar do julgamento ou para que não seja ouvido e, possivelmente, condenado. Para o seu próprio bem que se predisponha a apresentar a sua versão dos factos de modo a dissipar as nossas dúvidas.
Queremos ser governados por um presidente, íntegro, honesto, que não teme a justiça, sem as mãos sujas de dinheiro ganho de maneira desonesta, que não esteja envolvido com pessoas corruptas, que não tenha medo de ser rico de forma a suscitar dúvida, como estamos a ter agora. Temos mais dívidas do que certezas sobre como ganham a riqueza que as elites frelimistas nos exibem. Ficamos escandalizados quando reparamos como os seus meninos levam a vida e os luxuosos carros em que se fazem transportar, escoltados pela polícia que recebem seus salários a partir dos impostos que pagamos ao Estado. Quando expressamos as nossas dúvidas e inquietações, enviam seus cães para, por vezes, nos partirem as pernas e, em outras ocasiões, para nos tirarem a própria vida.
Sabemos muito bem que apenas poderia ser Armando Guebuza a mandar passear a Assembleia da República, mandando o seu ministro das Finanças a escrever e ensinar os avales de garantir segundo os quais o Estado moçambicano assumiria os pagamentos das dívidas contratadas pelas empresas EMATUM, MAM e PROÍNDICUS, caso não conseguissem cumprir com os seus compromissos. O argumento de que “eh, eu não assinei nenhum documento que me comprometa", cai por terra. Não há, de entre os ligados às dívidas ocultas mais responsável que Armando Guebuza. Queremos ouvi-lo a explicar, em tribunal, como manter o seu truque.
Não é menos importante que Nyusi vá, também, ao Tribunal em quê via a vantagem ou mais-valia daquele projecto de sistema de custo altamente inflacionado pela máfia internacional. Há documentos bastantes que demonstram Nyusi a solicitar o seu colega das Finanças, representante do Estado no cambalacho para fechar a negociata. Filipe Nyusi pediu autorização ao Presidente da República a fim de continuarem com o projecto e este anuiu. Foi dito em Tribunal e todos nós ouvimos muito bem. Mesmo assim se acha inocente da burla que protagonizaram contra o povo?! Manuel Chang, aliás, “Yellow Man“, como era chamado pela restante gang, está na África do Sul a pagar sozinho a factura do dinheiro levado, aos sacos para casa, pela quadrilha.
O partido Frelimo está fora do prazo, por isso, é um produto nocivo à saúde pública. Está de todo despido de moral e ética. Não tem um pingo de patriotismo, virou uma associação para delinquir o país. É um agrupamento de uns vende-pátria. Não se importa em destruir a economia e travar o desenvolvimento de uma nação para beneficiar um grupo de bandidos que tem pressa de acumular riqueza sem o menor esforço. Estamos reconhecidos pela condução vitoriosa da luta pela libertação nacional, mas daí para frente já não serve para nada. Vemos os seus dirigentes ora enganados no calote, na corrupção do bem comum, em negociatas de minas de rubis em que se juntam a estrangeiros e transformam o nacional em estrangeiro na sua pátria. Em nome da guerra, estão a fazer um autêntico saque à economia nacional. Estão em tudo quanto cheire dinheiro – carvão, ouro, grafite, em complexos ferro-portuários e portagens.
O povo está a sofrer muito. São eles próprios que se associam para fazer a logística das forças armadas nacionais e, assim, vão ficando podres de dinheiro. Somos, hoje, um país pária e ostracizados pela comunidade internacional por culpa de oportunistas e lesa-pátria. O povo tem que acordar para dar outro destino ao seu país. E para que isso seja possível precisamos de muita coragem para desempregarmos os bandidos do leme do nosso barco comum. É preciso que o povo não se deixe impressionar por aqueles que, em épocas eleitorais, nos distribuem capulanas, t-shirts, camisetes, um copo de sumo e com o povo cantam e dançam. São marimbondos. Eles são a causa da nossa pobreza.
Com dirigentes comprometidos com a causa nacional, o nosso país é um verdadeiro diamante por lapidar. Temos tudo para sermos um país desenvolvido ou, pelo menos, em franco desenvolvimento e não um país pobre e de pedintes. Moçambique não vai sair do chão enquanto for dirigido por gatunos. A bola está do lado do povo. Deus quer ver o povo moçambicano feliz mas antes de tudo tem que se livrar de carraças e piolhos que lhe chupa o sangue com dívidas ilegais, corrupção e usurpação de terras. Falando em termos rigorosos, o colono de ontem era muito melhor que o colono de hoje.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 08.09.2021