Por Edwin Hounnou
Estamos satisfeitos por, finalmente, uma parte dos caloteiros que comprometeram o desenvolvimento da economia nacional terem sido levados à barra do tribunal ainda que nos brindem com a falta de educação, e sem respeito, nos encherem os ouvidos com as intermináveis respostas de não sei...não posso responder...não tenho memória de elefante...não me recordo...isso é da minha vida privada...hoje não quero pegar em documentos...não me associem a outros...abstenho de responder...numa tentativa de ocultar a verdade material. Estamos consolados por, apesar da falta de colaboração da maioria dos réus na descoberta da verdade, o tribunal, querendo, vai descobrir a prática ou não dos crimes de que os arguidos são acusados.
As leis de combate à corrupção são tão brandas que aguçam a ousadia de cometimento de crimes. Isso deveria remeter a Assembleia da República a pensar em leis mais duras que punam com severidade os gatunos de todos os tamanhos. Que os que estão sendo julgados na BO não mostram qualquer arrependimento pelos crimes praticados. Alguns disseram que não vão devolver o que roubaram porque, argumentam, que o dinheiro lhes foi doado pelo grupo PRIVINVEST e não pelo Estado moçambicano.
Estão tranquilos por saberem que as leis são inofensivas e, sobretudo, o Estado se encontra capturado por um gangue do qual eles integram. A forma como falam parece que estão na escolinha do barulho e se vestem como se estivessem em de passagem de modelo em terras de onde Jean Boustani despacha toneladas de vinhos para seu amado “papai”.
Estamos tristes por nos apercebermos de que os grandes deste crime lesa-pátria continuam o jogo de esconde-esconde a partir da bancada-sombra. Não terá sido feita a justiça se os principais governantes, designadamente Armando Guebuza, presidente da República, à data dos factos, Filipe Nyusi, ministro da Defesa quando da roubalheira, Manuel Chang, ex-ministro das Finanças, e o Partido Frelimo, cuja campanha eleitoral, de 2014, foi financiada pelo dinheiro do crime, tinham a obrigação constitucional de defender o Estado mas não cumpriram a sua obrigação e pior ainda, participaram, de forma activa, no calote que lesou o país e o jogou na sarjeta. Estes governantes e o seu partido cinquentenário não podem permanecer na bancada-sombra a assistir a farsa. Durante o seu julgamento, nos Estados Unidos, Jean Boustani disse que o presidente Guebuza era informado sobre os valores que distribuía por cada um. Só nós que não sabíamos da festa. Até funcionários de bancos Credit Suisse e VTB levaram aos sacos.
Armando Guebuza, antigo Presidente da República, Filipe Nyusi, antigo ministro da Defesa e actual Presidente da República, e então coordenador do comando operativo, Manuel Chang, ministro das Finanças à data dos factos, conhecido por Chopstick entre os caloteiros, foi o governante que assinou os avales ilegais que comprometeram o Estado às dívidas ocultas e o Partido, Frelimo com responsabilidades acrescidas no país, têm muito que explicar ao povo sobre o que, de concreto, fizeram com os 2.2 biliões de dólares porque os equipamentos não chegaram e os dinheiros desapareceram de vez.
Dividiram-se entre eles todo esse dinheiro e o povo fica a pagar a factura e depois vão pensando num possível terceiro mandato como se fossem uns inocentes ou anjinhos e bons servidores públicos enquanto são grandes gatunos. Em sociedades modernas onde todos os cidadãos e instituições são iguais perante a lei, o Partido Frelimo teria sido, em 2014, desqualificado por fraude, pois que a sua campanha foi financiada por fundos das dívidas ocultas crime. Outros que participaram do festival da roubalheira continuam a passear a sua classe cá fora, como Maria Isaltina Lucas, antiga directora nacional do Tesouro, quando houve a contratação das dívidas ocultas, Eugênio Matlaba e Henrique Gamito, gestores das empresas EMATUM, SA e MAM, SA, respectivamente. Há muita gente à solta ainda por recolher para a prisão. Há muitos gatunos por julgar e condenar.
Não podemos saltar de alegria por terem recolhido o peixe miúdo à prisão. Há muitos que deveriam ter sido recolhidos também se a lei, no nosso país, não fosse como uma de pesca selectiva. Há rede para apanhar peixe-raia, magumbe e camarão-fino, aquilo que chamam de “thepwe". Este tipo de rede não serve para pescar tubarão. As leis moçambicanas só apanham os não amadurecidos como António Munguambe e Paulo Zucula, antigos ministros dos Transportes. Os grandes que continuam a passear cá fora comparam-se a tubarão com capacidade suficiente para rasgar ou mesmo destruir a rede para “thepwe". Moçambique ainda não tem rede para apanhar tubarão, por isso, nos vão entretendo com um julgamento de peixe miúdo, um julgamento sem grandes novidades, para divertir o público mais distraído.
Até ao momento, ainda não conseguimos entender o que faz a Procuradoria-Geral da República não promover os famosos processos autónomos contra Manuel Chang porque tudo parece que não há nada contra ele. Se for extraditado para Moçambique, Manuel Chang será um homem livre. Ninguém lhe fará sem
Ja o que for e os seus camaradas apenas lhe dirão bem-vindo à pátria amada, camarada! Vai sair do aeroporto, será recebido pelos seus familiares amigos e seus comparsas. Daí vai para casa fazer a sua vida normal e sem quaisquer preocupações. Um ladrão não manda prender a outro ladrão por isso, torcemos para que seja extraditado para os Estados Unidos. Lá, vai contar toda a verdade que, pelo regime, nunca chegaremos a saber quem comeu o quê e quanto comeu. A culpa não pode ser distribuída entre peixe miúdo, mainatos e o que falaram com Jean Boustani sobre os seus problemas estomacais.
Os que estão sendo badalados como Maria Isaltina Lucas, Eugênio Matlaba e Henrique Gamito não há nada contra eles. Podem continuar a levar a vida como quiserem que a Procuradoria tem nada contra eles. Não temos dúvidas de que a Procuradoria, que é temida por pequenos roedores, não torra farinha com os grandes do regime. Eles mordem em tudo que for oportuno e roem em tudo o que quiserem e nada mesmo lhes acontece. Temos mais dúvidas que certezas se a Procuradoria já formalizou algum processo com o nome de autónomo contra os que andam ausentes da BO. Como a corrupção não é combatida com vigor. O corrupto é uma espécie em extinção. O corrupto é tomado como inteligente e admirado pelas vítimas da corrupção.
O Banco de Moçambique só serve para punir gestores de bancos comerciais quando pisam a linha vermelha, porém, a campainha não toca quando um indivíduo que ontem tinha na sua conta 1000,00 meticais e no dia seguinte, a partir do nada, recebe um milhão de dólares. O então governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gove, não tem nada a explicar ao tribunal? Quem mandou desligar? O que se passou? Estas questões carecem de respostas dos que andam fora da rede do tribunal e assistem o julgamento deitados nas suas poltronas em salas ventiladas com ar condicionado.
Esperamos que a justiça se vingue contra os caloteiros.
O povo tem que despertar para tomar de acordar o seu destino, mandando para cadeia os corruptos de todos os tamanhos. Que sejam julgados, sem mais delongas, os cidadãos Armando Guebuza, Filipe Nyusi, Manuel Chang por eles terem sido os responsáveis pela contratação das dívidas ocultas e mandem apear o Partido Frelimo cuja campanha foi financiada por dinheiro das dívidas ocultas. Eles sabem muito sabem com quem ficou o nosso dinheiro. Recolham e julguem, também, os grandes!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 29.09.2021