Por Francisco Nota Moisés
Morreu Dom Alexandre, primeiro cardeal católico moçambicano (2)
"Dom Alexandre participou nos processos de pacificação, com realce para o que determinou o fim da guerra civil, em 1992."
Que a sua alma descanse em paz. Requiescat in Pace!
Encontrei-me inesperadamente com o Cardeal Alexandre Maria dos Santos que não conhecia em Nairobi, Quénia, em Janeiro de 1989 durante a dita guerra civil entre os terroristas da Frelimo e os então alcunhados bandidos armados da Renamo. Os frelimistas tinham provado serem terroristas e foram sempre terroristas e até então são ainda terroristas como a logica exige que uma vez indivíduos são terroristas, tais indivíduos são sempre terroristas. Os homens da Renamo não eram bandidos armados, mas os seus lideres com Afonso Dhlakama e agora Ossufo Momade a testa eram e são autênticos bandidos apolíticos cujos homens humilharam a Frelimo e os seus aliados do Zimbabwe e da Tanzânia que foram estrondosamente derrotados. Mas a liderança banditesca da Renamo, pondo os seus interesses em vez dos interesses do povo moçambicano, venderam-se e entregaram a vitória dos combatentes da Renamo á Frelimo numa bandeja de pau preto. Que pouca vergonha e agora a sua organização é uma verdadeira bagunça que nem mesmo o próprio Deus pode ajudar para se organizar.
Como um inimigo jurado da Frelimo, tudo o que vinha de Maputo ou de Moçambique me cheirava mal incluindo ele, o malogrado bispo Jaime Gonçalves da Beira, o bispo anglicano Dinis Singulane e membros do Conselho Cristão de Moçambique que estiveram com ele no Panafric Hotel. Para mim essa gente era da Frelimo até aos seus calcanhares.
Não me lembro como é que me abri a ele no Panafric Hotel onde o governo do Quénia que me tinha locado depois do meu regresso da minha andança de mais de 500 quilómetros a pé com militares da Renamo na Zambézia, Tete e Sofala. Aquela viagem aconteceu depois de eu ter ajudado o governo de Nairobi a estabelecer contactos com a Renamo na Zambézia em 1988 a pedido do Joaquim Chissano, o então autointitulado presidente de Moçambique. Alexandre Maria dos Santos me pareceu como um homem calmo, inteligente e aberto. Ele me fez um pedido especial, dizendo: "vocês intelectuais que vivem fora de Moçambique, não devem se esquecer, não devem deixar sozinho, o povo de Moçambique que não tem ninguém que possa o defender." Não comentei e não lhe disse nada em resposta.
Mais tarde naquele mesmo dia andei com o cardeal do Panafric Hotel à baixa, uma distância de cerca dum kilometro e meio à baixa da capital queniana onde ele tratou do seu bilhete de avião.
O dia seguinte o governo de Nairobi colocou ao serviço um carro que nos tomou para a pitoresca região do Rift Valley onde tive um maravilhoso jantar com os religiosos num restaurante acessível somente de carro à beira do Lago Nakuru que é uma reserva de animais selvagens e de milhares e milhares de aves ou flamingos que vimos antes de regressarmos a Nairobi que deixei no dia seguinte para o meu país, o Canadá.