Autoridades congolesas confirmam incursão ruandesa na República Democrática do Congo. Civis relatam tiroteio entre militares dos dois países, e Parlamento congolês convoca ministro da Defesa para dar explicações.
Após a incursão das tropas do Exército ruandês na segunda-feira (22.10) no território da República Democrática do Congo (RDC), residentes do Kivu do Norte estão a pedir providências às autoridades congolesas.
Integrantes das Forças de Defesa Ruandesas (RDF, na sigla em inglês) conseguiram entrar na RDC e ocupar seis aldeias no Kivu Norte, uma província de histórica instabilidade que tem estado sitiada há mais de seis meses.
Homens armados fizeram a incursão na RDC e foram identificados como soldados ruandeses, segundo fontes oficiais congolesas. Em Kibumba, os residentes que testemunharam o tiroteio, como Arsène Kenzire, lamentaram a ausência de militares suficientes na fronteira para se opor à incursão.
Kenzire disse à equipa reportagem da DW África que, apesar da "falta de pessoal", militares congoleses conseguiram capturar soldados ruandeses.
"Foi aqui que a troca de tiros entre estes dois exércitos começou. O que é grave é que as Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC) tinham falta de pessoal, retiraram-se e deixaram o terreno para os soldados ruandeses", diz o residente de Kibumba.
Província sitiada
Para a população, é difícil compreender como pode ocorrer a incursão de um Exército estrangeiro numa província sitiada.
Para Josué Walayi, residente de Nyiragongo, o incidente é antes de tudo uma humilhação.
"É uma humilhação grave. O Governo deve dizer-nos qual é o verdadeiro objetivo do estado de sítio. Estamos a compreender que não é realmente o objetivo de trazer de volta a paz ao Kivu Norte. Desde que o estado de sítio começou, não temos visto qualquer progresso", reclama.
Para enfrentar este tipo de incidente e o desafio de garantir e restaurar a autoridade estatal, o deputado Juvénal Munubo, membro da Comissão de Defesa e segurança da Assembleia Nacional, recomenda o reforço do exército congolês.
Tropas desmotivada
Mnundo sugere que é necessário continuar com o recrutamento dentro das FARDC porque os desafios são imensos para a segurança da RDC.
"Devemos encorajar os jovens a aderir efetivamente às FARDC. Mas há um problema com a supervisão daqueles que já se encontram nas FARDC. Existe um problema de motivação que não facilita a tarefa de recrutamento", explica o parlamentar.
Estes problemas não são novos. E esta não é a primeira vez que este tipo de incursão militar em solo congolês é relatada. Para garantir respeito pela integridade do território nacional, Juvénal Munubo propõe agilização da reforma das FARDC
"Podemos fazê-lo reforçando a diplomacia, devemos ter uma diplomacia que se imponha e nos faça respeitar na regiã", sugere o deputado.
Para o parlamentar reforçar a vigilância das fronteiras e modernizar a administração das fronteiras com equipamentos apropriados é outra medida importante. "Devemos obviamente lutar contra a corrupção dos agentes nos postos fronteiriços", salienta.
O ministro da Defesa da RDC, Gilbert Kabanda, terá de se explicar sobre o incidente aos deputados congoleses. O deputado Jackson Ausse apresentou esta terça-feira (19.10) um pedido ao gabinete da Assembleia Nacional para que Kabanda seja questionado.
DW – 22.10.2021