Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
A intensificação da guerra no Dafur, e a terrível crise económica no Sudão, levaram os militares a derrubarem o seu próprio Regime em 20[19] colocando no cargo de Primeiro-ministro Abdallá Hamdok, um civil cuja a missão era preparar o país para as eleições democráticas em 20[22].
«Vamos dizer ao mundo que o Sudão está de volta. Há um novo amanhecer, uma nova esperança» [Abdallá Hamdok].
Durante esse processo de preparação Hamdok demitiu mais de [50] políticos e Oficiais de topo com objectivo de purificar a Administração do país de qualquer resquício da antiga ditadura, iniciando profundas reformas que dentre outras coisas visavam acabar com as leis que violavam o direito das mulheres proibindo a mutilação genital, e banindo as leis que limitavam o acesso das mulheres ao ensino, ao trabalho e chegando mesmo a banir leis de trajes.
Reformas que prometiam transformar o Sudão em um dos países islâmicos mais [tolerantes] do mundo com relação as mulheres. As demissões de políticos e Oficias militares de topo e todas as reformas sociais, e económicas que estava implementando atraíram a desconfiança de líderes islâmicos mais conservadores com o Primeiro-ministro Hamdok sofrendo uma tentativa de assassinato em Março de 20[20] e uma tentativa de golpe de Estado em Setembro de 20[21] por militares, que ainda eram aliados e alinhados com o antigo Presidente o General Omar al-Bashir, que governou o país por três décadas entre 19[89]-20[19] e deixou o poder após protestos.
Al-Bachir era acusado de autoritarismo e se viu numa situação insustentável após uma série de protestos contra suas acções para combater a precária situação económica do país naquele momento ele acabou sendo derrubado por militares, que declararam um Estado de emergência. No entanto, manifestantes de rua continuaram exigindo o retorno de um Governo civil ao Sudão. Eu devo lembrar, a repressão a esses protestos culminou no que ficou conhecido como massacre de Cartum. No dia [3] de Junho, [100] pessoas morreram após militares dispersarem num protesto em frente a um Quartel em Cartum, usando armas de fogo. O massacre acabou levando à suspensão do Sudão da União Africana, isso fez com que os militares fossem forçados a negociar um plano com o objectivo de estabelecer reformas, por meio, dum regime democrático.
Para muitos com tantas reformas sendo feitas em tantas áreas em simultâneo era só uma questão de tempinho, até que, a ala islâmica mais conservadora, tanto entre os políticos como os militares tentassem derrubar o Governo, e foi exactamente isso que aconteceu no dia [25] de Outubro de 20[21], quando militares prenderam o Primeiro-ministro e muitos membros do seu Governo. O golpe foi comandado pelo General Abdel Fattáh al-Burhan, que anunciou pela tevê estatal o fim do Conselho Soberano liderado por Abdallá Hamdok e que era composto, também por militares alegando como motivo principal do seu derrubo o crescente [atrito] entre as diversas facções políticas no país motivadas pelas reformas profundas que estavam sendo implementadas pelo Governo do Primeiro-ministro Hamdok.
O General Burhan, anunciou a imposição do Estado de emergência e alterou a data das eleições passando de 20[22] para algum momento em 20[23] informando que em breve anunciaria um novo Chefe de Governo provisório, indicado por si: «um governo competente e independente cuidará do país até as próximas eleições. Ele será formado respeitando e representando todo o povo sudanês».
Mas, alertou que os militares continuarão no poder. Disse ainda, que ele próprio irá liderar uma iniciativa para [reescrever] uma nova Constituição do país, uma iniciativa que apesar de não contar com a participação de civis, já recebeu o nome de transição democrática. Poucas horas após o golpe, milhares de manifestantes tomaram as ruas da Capital, Cartum, em consequência pelo menos [7] pessoas foram mortas e [160] feridas em confronto com as Forças de segurança com os protestos aumentando de intensidade.
Em 20[20] graças justamente as reformas implantadas pelo Primeiro-ministro Hamdok, agora deposto o Sudão foi retirado da lista dos países financiadores do terrorismo internacional permitindo a comunidade internacional a enviar milhões de dólares em ajuda com os Estados Unidos que desde 20[20] envia [700] milhões de dólares anuais para aquele pais, informando a seguir ao golpe que esse fundo inserida em um programa de ajuda de emergência ficará suspenso até a libertação do Primeiro-ministro.
Para António Guterres, Secretário-geral das Nações Unidas: «Alguns líderes militares sentem que estão em total impunidade, podem fazer o que quiserem, porque nada lhes acontecerá. E meu apelo, obviamente, e para que, principalmente as grandes potências, se unam pela unidade do Conselho de Segurança, a fim de garantir que haja uma dissuasão efectiva em relação a esta epidemia de golpes de Estados».
Portanto, trata-se do [11º] golpe de Estado no Continente nos últimos [10] anos, o que mostra o quanto o nosso Continente está distante da estabilidade política e da pretenda democracia.
Infelizmente!
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [31] de Outubro 20[21]