A África central permaneceu inacessível aos Europeus até uma época relativamente recente. O continente começou a revelar os seus segredos através da divulgação internacional dos resultados das primeiras explorações de Livingstone, o primeiro que elaborou um quadro cientificamente consistente da geografia do interior, com base em observações astronómicas. Esse espaço, contudo, estava longe de ser desconhecido quer pelos geógrafos europeus mais empenhados, quer e principalmente pelos práticos do sertão — portugueses, afro-portugueses e suaíli — que trilhavam os caminhos africanos e por vezes relatavam ou descreviam de forma empírica as suas viagens.
Este artigo procura dar conta da teia de interesses portugueses na África centro-meridional que se geravam a partir da costa oriental, da importância das suas actividades económicas e realizações, nomeadamente o seu papel na abertura ao mundo exterior de zonas até então fechadas. Procura determinar ainda as causas do insucesso das redes de comércio afro-portuguesas que partiam da costa oriental no contexto da forte concorrência que se lhes deparou por parte da rede muçulmana de Zanzibar e anglo-bóer, bem como demarcar estas redes de comércio privado das iniciativas governamentais que foram levadas a cabo nos domínios científico, político e comercial.
A história da penetração portuguesa na África central foi já objecto de múltiplos estudos. A maior parte deles foi elaborada nas últimas décadas do século XIX, quando a corrida a África por parte das potências europeias levou a diplomacia e a propaganda portuguesas a procurarem, por exemplo, fazer valer o argumento da prioridade na descoberta do lago Niassa e do curso superior do Zambeze, bem como fazer prevalecer os "direitos históricos" dos portugueses sobre regiões frequentadas por exploradores e agentes ingleses (').
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