Alarmes soam intensamente no Niassa
- Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique não confirma nem desmente ataques no distrito de Mecula
- Centenas de soldados e Polícias de unidades especiais enviadas para os distritos fronteiriços com Cabo Delgado
Numa realidade que já era claramente previsível, relatos cada vez mais objectivos indicam que os grupos terroristas que fogem do aperto das Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique, do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, dos distritos das regiões centro e norte de Cabo Delgado, entraram e estão já a protagonizar ataques na vizinha província do Niassa.
Como era de esperar, por agora, a acção confina- -se aos distritos e aldeias que fazem fronteira entre as duas províncias, mais a norte do país. Além de Cabo Delgado, Niassa faz fronteira com a República Unida da Tanzânia.
No concreto, soube o media[1]FAX, grupos terroristas, que parece já terem estabelecido novas bases nas densas e completamente despovoadas matas do Niassa, atacaram, ao longo da semana passada, uma aldeia do distrito fronteiriço de Mecula. Trata-se da aldeia Gomba, a 150 quilómetros da sede distrital.
O ataque teve lugar na quinta-feira. Na ocasião, diz-se, uma viatura da Reserva Nacional do Niassa foi incendiada, exactamente num local conhecido por Chitande. Quando ainda pairavam dúvidas sobre a identidade dos autores do ataque da quinta-feira [inicialmente havia suspeitas de a viatura ter sido incendiada por caçadores furtivos], eis que por volta das 5 horas de sábado, o posto policial da localidade de Naulala, a 60 quilómetros da sede de Mecula, também era atacado. Houve troca de tiros, dizem fontes locais, ajuntando que um agente da Polícia da República de Moçambique perdeu a vida. O grupo conseguiu ainda vandalizar e roubar medicamentos no centro de saúde local, assim como queimar duas residências, das quais a do chefe do posto.
Por outro lado, há relatos que sugerem novas incursões terroristas, ao longo do fim-de-semana, exactamente nas aldeias fronteiriças de Mecula. Além de Mecula, Marrupa é outro distrito do Niassa, que partilha largos quilómetros de fronteira com Cabo Delgado. a vila sede distrital de Marrupa tem a categoria de município.
Não há ainda dados precisos de danos humanos na população civil das aldeias atacadas, mas comenta-se muito o facto de os espaços habitados da zona fronteiriça estarem, a cada dia que passa, a ficar sem gente.
Com a extensão dos ataques para o Niassa, os terroristas conseguem obrigar à dispersão da concentração de tropas governamentais de Moçambique, Ruanda e da SADC, que antes tinha o centro e norte de Cabo Delgado como únicas preocupações.
Nisto, a partir da capital provincial, Lichinga, e de algumas regiões de Cabo Delgado, numerosos efectivos foram vistos a seguir viagem em direcção a Mecula e Marrupa. Alguns foram transportados em autocarros da Nagi Investimentos.
Apesar da forte presença das FDS, as zonas centro e norte de Cabo Delgado continuam a registar ataques terroristas.
Aliás, Mecula e Marrupa estão na lista dos 12 distritos de Cabo Delgado, Niassa, Nampula, Zambézia e Inhambane, contemplados nesta que é a fase piloto da alocação e actuação das companhias independentes das Forças Especiais da Polícia da República de Moçambique, cujo desdobramento iniciou logo após o fim da formação, na semana passada.
Polícia não confirma nem desmente
Em torno da situação em algumas aldeias fronteiriças de Mecula, o media[1]FAX chegou à fala, neste domingo, com o porta-voz da Polícia da República de Moçambique no Niassa, Alves Mate. Ele não confirmou, mas também não desmentiu nada em torno das informações que dão como certa as incursões terroristas em Mecula.
Alves Mate disse ao mediaFAX que, neste momento, “a Polícia não tem nada a declarar em relação ao assunto [ataques terroristas]”. “A haver iremos informar, mas por agora nada de concreto podemos dizer” – disse o porta-voz, num discurso cauteloso que, de alguma forma, sugere preocupação em torno de questões relacionadas com segurança e tranquilidade públicas nas aldeias fronteiriças com Cabo Delgado.
Por outro lado, ao longo da semana passada, o Secretário de Estado da província do Niassa, Dinis Vilanculos, voltou a apelar para a necessidade de os distritos de Mecula e Marrupa reforçarem a vigilância, tendo em conta aquilo que chamou “possibilidade” de os terroristas entrarem para a província do Niassa.
MEDIA FAX – 29.11.2021
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