Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Hoje, vou explicar para vocês as principais características que o Maquiavel identifica como sendo vinculadas ao bom governante no seu livro «O Príncipe». Neste livro, o Maquiavel vai nos ensinar, obviamente pelo próprio nome aquelas características que ele considera como sendo essenciais ao bom Príncipe, ou seja, ele vai definir àquilo que é o bom governante. E ele identifica [6] características principais que definem o quê que é, ou quem é o bom governante.
Primeira característica; diz respeito a destinação entre virtú e a fortuna. Ou seja, Maquiavel vai nos ensinar, que virtú corresponde àquelas virtudes pessoas do governante, porém com um detalhe: quando falamos de virtudes pessoas, não estamos falando sobre ser bom, sobre ser moralmente correcto, sobre fazer o bem. Ou seja, virtudes aqui ou a virtú no sentido do Maquiavel são as características próprias do governante.
Dizendo em outras palavras; se o governante percebe que em determinado momento ele precisa fazer o mal para se manter no poder, portanto ele vai fazer o mal no momento certo; se ele faz o mal no momento certo ele tem virtú na visão do Maquiavel. Portanto, lembrem-se virtú são características próprias do governante, que podem ser boas ou podem ser prejudiciais ou moralmente boas ou moralmente prejudiciais.
E o que é que fortuna? A fortuna é sorte, a fortuna e o acaso. A fortuna é aquilo que acontece de bom para o governante, mas que não depende das suas acções. Portanto, lembrem-se bastante simples: virtú características próprias do governante não importa se são moralmente boas ou prejudiciais e fortuna é a sorte, é aquilo que acontece ao acaso e que não depende das acções do governante.
Segunda característica. Diferenças entre as boas e más crueldades. Ou seja, o Maquiavel nos ensina que uma boa crueldade é aquela que é feita uma vez só. Ou seja, o governante aplica o mal sobre os seus súbditos de uma vez só, porque a tendência é que o súbdito esqueça disso ao longo do tempo. Já a má crueldade é aquela que é feita aos pouquinhos e aí o súbdito, se vê oprimindo constantemente ao longo do tempo, e para o Maquiavel isso é péssimo. Porquê! Porque isso vai gerar no súbito a tentativa de revolta contra o governante.
Terceira característica é, o governante saber aquém ofender e como ofender. Maquiavel nos ensina, que o governante deve buscar ofender sempre aos pequenos, aqueles que são mais fracos. Porquê! Porque o mais fraco não vai ter capacidade de resposta em relação ao governante, por sua vez, se o governante precisar ofender a um grande, a um forte a ofensa deve ser a maior possível para que esse grande, para que esse forte não tenha capacidade de [revidar] em relação ao governante.
Quarta característica. O governante deve saber as diferenças entre ser amado, ser temido e ser odiado. O Maquiavel nos ensina que todo o governante deve sempre buscar ser amado e temido. Ou seja, o povo [súbdito] deve gostar dele por um lado, mas ao mesmo tempo devem teme-lo. Esse é o mundo ideal para Maquiavel.
Se não for possível ser amado e temido ao mesmo tempo, o governante deve escolher qual; sempre ser temido e não ser amado, porque Maquiavel nos ensina que o amor vai e vem, mas o temor sempre permanece. Portanto, buscar ser amado e temido ao mesmo tempo, se não der os dois, seja temido. Porém, o governante nunca deve ser odiado e porquê! Porque segundo o Maquiavel, o ódio faz com que o súbdito acredite que não tenha nada a perder, e se ele não tem nada a perder ele vai-se revoltar em relação ao governante.
Quinta característica. Diz respeito as diferenças entre agir como homem, como leão ou como raposa. O que quer dizer isso! Maquiavel nos ensina, que o governante deve agir como homem em determinados momentos de preferência no maior número possível de momentos. E agir como homem significa seguir as leis, ser correcto, ou seja, buscar e fazer aquilo que as leis dizem, que ele efectivamente deve fazer.
Mas, o governante, também precisa saber agir como leão, quer dizer, o governante precisa saber que em determinados momentos ele vai usar da força física e ao mesmo tempo ou além disso, o governante, também precisa saber agir como raposa. E agir como raposa é usar astúcia [ser esperto]. Ou seja, o governante precisa saber que em determinados momentos ele vai precisar passar a perna em alguém para se manter no poder.
E última característica, diz respeito a arte da dissimulação. Ou seja, todo o governante precisa saber parecer ser. Ele deve parecer ser bom, ele deve parecer ser religioso, ele deve parecer ser generoso, mas no fundo no fundo ele não necessariamente precisa ser bondosa, generoso e…etc. Quer dizer, ele deve demonstrar para os súbditos, que é, mas se necessário ele precisa saber como não ser, ou seja, ele precisa saber como ser aquelas coisas negativas, mas ao mesmo tempo parecer ser bom para o cidadão.
Essas são então, as [6] características, que o Maquiavel nos ensina e identifica como sendo as características do bom governante.
E eu termino, te respondendo o que é um bom governante. O bom governante não é aquele que age em benefício do povo, o bom governante não é aquele que é correcto moralmente; o bom governante é aquele usando essas [6] características, permanece o máximo de tempo possível no poder.
Espero ter reproduzido correctamente a recomendação de outro modo, estou obviamente disposto a corrigir-me.
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, ao [03] de Novembro 20[21]