O cientista norte-americano E.O. Wilson, considerado o “herdeiro natural de Darwin”, morreu, este domingo, aos 92 anos, em Massachusetts, Estados Unidos, anunciou na segunda-feira a fundação que leva o seu nome. Edward Osborne Wilson leccionou na Universidade de Harvard por mais de quatro décadas e escreveu dezenas de livros.
O biólogo norte-americano afirmava possuir “um vínculo especial” com o Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, que ajudou a salvar, e onde um laboratório com o seu nome foi inaugurado para estudar e proteger a biodiversidade da região.
Considerado pela National Geographic Society “o maior naturalista do nosso tempo”, o cientista documentou a história do parque moçambicano e publicou-a em livro, com fotografias de Piotr Naskrecki. E. O. Wilson descreveu as maravilhas daquele que considerou ser o parque mais rico do mundo, do ponto de vista ecológico, e, na obra, falou da recuperação do ecossistema do parque, após vários anos de uma guerra civil que dizimou muitos dos animais selvagens que ali habitavam.
Segundo a revista Time, o norte-americano teve “uma das grandes carreiras científicas do século XX”, lembrando o seu importante trabalho de mapeamento do comportamento social das formigas, através do qual mostrou que as suas colónias comunicam entre si através de um sistema de feromónios.
Duas das suas obras renderam-lhe prémios Pulitzer: o primeiro, em 1979, por On Human Nature; o segundo, em 1991, por The Ants.
Responsável por múltiplos avanços nas áreas da evolução e do comportamento animal assim como do estudo da biodiversidade, Wilson tornou-se, nos últimos anos, uma voz importante na defesa das espécies em risco.
À época, ele também recebeu críticas ao sugerir, num dos seus livros, que os humanos se comportam, em grande medida, de acordo com princípios escritos nos seus genes. Nesse sentido, foi acusado de determinismo genético e de justificar as desigualdades, uma polémica que chegou a tal ponto que, em 1978, manifestantes lhe atiraram uma jarra de água gelada durante uma conferência.
Quando começou a sua carreira na biologia evolutiva na década de 1950, o estudo de animais e plantas era considerado por muitos um hobby antiquado e obsoleto. E, então, Wilson tornou-se pioneiro em novos campos de pesquisa.
Wilson também se tornou um pioneiro no estudo da diversidade biológica, desenvolvendo uma abordagem matemática sobre os motivos de diferentes lugares terem diferentes números de espécies.
O cientista era conhecido ainda pelos seus incansáveis pedidos para preservar os diferentes ecossistemas do planeta. “Se não agirmos rapidamente para proteger a biodiversidade global, perderemos a maioria das espécies que compõem a vida na Terra”, disse.
Também se destacou por propor o projecto “Half-Earth”, uma iniciativa ambiciosa que defende a preservação de metade da superfície da Terra, tanto terrestre como marítima, de forma a evitar a extinção das espécies, inclusive a própria espécie humana. “Sei que parece radical”, admitia Wilson, em 2016. No entanto, isso “é mais fácil de fazer do que se pensa”, acrescentou na altura. “Quem somos nós, que somos apenas uma espécie, para acabar com a maioria das espécies restantes que vivem connosco neste planeta em função das nossas necessidades egoístas?”