EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (88)
Desculpa, Presidente: vou-lhe ser sincero; aliás, como sempre fui consigo. Não entendi nada sobre “o estado da Nação ser de auto-superação, reversão às tendências negativas e conquista da estabilidade económica”. Não só faltou no seu informe anual à nação o que muitos moçambicanos queriam ouvir, como também foi um discurso enfadonho, descritivo e sem nada de concreto.
Mesmo sobre a situação de Cabo Delgado-tema no qual o Presidente elaborou muito-, não disse concretamente o que o seu Governo pretende fazer, ou está a fazer, para melhorar a situação daquele povo sofrido. Ao lado de acções militares, o que se está a fazer? Continua-se a falar de números.
Por exemplo, diz que para o ano haverá mais empregos, mas não especifica como é que se vai chegar a isso, numa situação em que muitas empresas fecharam ou estão a fechar as suas portas devido à pandemia de Covid-19 e outros factores.
A CTA queixa-se da falta de negócios. A economia estagnou. Mas o Presidente vislumbra uma oportunidade de emprego para o povo. Nem o Midas era capaz de tanta magia! Eu não estaria longe da verdade se disse que perdi o meu tempo, ontem, ouvindo o seu informe. Reitero: que condições é que o Governo pensa criar para que esses empregos existam?
Eu não ouvi nada disso, o que me leva a desconfiar que estou diante do mesmo tratante de sempre. Sobre a administração da Justiça, o Presidente não disse nada. Numa altura em que decorre na BO o julga[1]mento do maior escândalo de corrupção de que há memória neste País. Escândalo esse que não poupa o Presidente, porque, ao que tudo indica, parece estar envolvido até ao pescoço.
E a organização que dirige - a Frelimo. Se hoje Moçambique está nestes níveis de pobreza, grosso modo, é devido a esse vergonhoso calote que se diz que o Presidente fez parte. Portanto, era, no meu entender, legítimo que a partir daquele pódio da Assembleia da República o Presidente explicasse aos moçambicanos tudo o que querem saber sobre este calote. Nunca falou sobre isto. Esquiva-se. Mete-lhe nojo. Desconversa. Porquê?
O problema, meu Presidente, não são simplesmente as dívidas. É o que permitiu que estas dívidas fossem contraídas e que certas pessoas se aproveitassem disso. Até hoje nem o senhor, muito menos o partido Frelimo se pronunciaram. O que se está a fazer para garantir que esses roubos não aconteçam no futuro? Nunca em suas intervenções, mesmo as de ocasião, o ouvi falar sobre o problema que está por detrás do problema que apoquenta, nesse momento específico o País.
Parece que o Presidente actua na escuridão, apalpa. Como é que pensa em criar condições para a solução de um problema que nunca identificou?
“O estado da Nação é de auto-superação, reversão às tendências negativas e conquista da estabilidade económica”. Acredito que mesmo o próprio Presidente da República não tem ciência do que efectivamente pretendia dizer com estas palavras. Ainda acho que essa coisa de governar lhe ultrapassa.
DN – 17.12.2021