Por ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Hoje, eu escolhi trazer a obra do Marx, O Manifesto Comunista. Esse livro foi escrito não só por Karl Marx, mas também por Friedrich Engels. Eu escolhi essa obra, porque acho que tem uma questão bastante interessante que foi marca principal do Marx que é, a teoria comunista e sobre como as suas ideias reverberaram na história da filosofia e não só.
Eu li o livro pela primeira vez, já lá vão [13] anos precisamente em 20[08]. O livro é composto por [9] partes, que constituem [9] momentos com conteúdos e objectivos diferentes. E eu reflecti bastante sobre o livro, e eu só confirmo o que eu sempre disse: que é muito importante nós lermos e ouvirmos coisas que nós não gostamos; livros e autores que fundaram teorias que nós criticamos e que não concordamos como o Comunismo e, eu então resolvi reler de facto esse livro.
Destarte, neste artigo vou trazer umas partes do livro, algumas reflexões, vou procurar ser bastante prático e menos intelectual, vou falar dos principais objectivos do Comunismo apresentado na obra principalmente, vou tratar mais do capítulo nono página [82] que discute o proletariado e a burguesia.
«A meta imediata dos comunistas é a mesma de todos os outros partidos proletários: a formação do proletariado em uma classe, a derrubada da supremacia burguesa e a conquista do poder político pelo proletariado».
Você percebe, que o objectivo é bastante claro. A intenção era o poder político dos proletários, ou seja, é transformar a classe do proletariado em classe dominante, essa classe necessita de um representante, mas especificamente, ela precisa de um líder que acaba ficando com todo o poder.
Marx e Engels acreditavam que o Comunismo seria democrático, que o líder que representaria a classe trabalhadora faria a vontade dos trabalhadores, seria feita a vontade do povo e o povo estaria no poder, mas essa democracia não deu certo como podemos observar. Então, Marx e Engels ou acreditavam ou fingiam acreditar.
Posteriormente, nesse capítulo vão colocar algumas acções bastante autoritárias desse regime comunista, que precisariam ser realizadas através de [10] acções eu vou enumerar todas, mas vou aprofundar algumas.
- Abolição de propriedade em terra e aplicação de todos os alugueres de terra para fins públicos.
- Um imposto de renda pesado progressivo ou gradual.
- Abolição de todo o direito de herança. Ou seja, você não tem mais direito de dar o que você juntou a sua vida toda para as pessoas que você ama e isso, se você conseguisse juntar alguma coisa no sistema Comunista.
- Confisco de propriedades de todos os emigrantes e rebeldes. Ora! Eu fiquei bastante pensativo e apreensivo em relação aos rebeldes. Quem seriam esses rebeldes? Será que seriam as pessoas que contestariam esse Estado ou este Governo? Ou será que, quer dizer, que se você questionar esse regime, esse Governo, o Estado vai tirar tudo o que você tem. Acho que isso é bastante opressivo.
- Centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio, de um Banco nacional com capital do Estado e um monopólio exclusivo.
- Centralização do sistema de transportes nas mãos do Estado.
- Extensão de fábricas e de instrumentos de produção pelo Estado levar o cultivo a terra inculta e a melhoria do solo em geral de acordo com plano comum.
- Responsabilidades iguais para todo trabalho, estabelecer exércitos industriais em especial para agricultura.
- Combinar as indústrias de agricultura com a de manufactura, abolição gradual das distinções entre cidade e campo com uma distribuição mais igual da população.
- Educação gratuita, para todas as crianças em escolas públicas, abolição do trabalho infantil em fábricas de modo actual e combinação de educação com produção industrial e etc.
Eu quero-me aprofundar mais um pouquinho nesse último ítem. Vou mudar um pouco de capítulo e ler um pedaço que diz: «mas, dirão vocês nós estaremos destruindo as relações mais íntimas ao trocarmos a educação real (domestica) pela social. E não está a educação, também a vossa educação determinada pela sociedade? Pelas relações sociais em que educais, pela intromissão mais directa ou mais indirecta da sociedade, por meio, da escola e etc. Os comunistas não inventaram o efeito da sociedade sobre a educação; apenas transformaram o seu carácter, arrancaram a educação à influência da classe dominante» [Marx e Engels].
Ora! O que significa mudar o carácter da educação? Será, que o Estado não quer certificar que o seu filho não está recebendo uma educação burguesa? Dessa forma você não tem mais o direito de educar o seu filho em casa; você é obrigado ou obrigada a deixar seu filho nas mãos do Estado. Destarte, o objectivo é bastante claro. É manter o Comunismo no poder, através da educação das pessoas desde pequenas. E qual é essa educação burguesa, que eles tanto condenam e tanto temem? É claro é a educação filosófica, moral e religiosa. Porque eu digo isso. Vejamos o seguinte:
«As acusações contra o comunismo feitas de um ponto de vista religioso, filosófico e geralmente, ideológico não merecem um exame sério; será necessário uma profunda intuição para entender as ideias, os pontos de vista e as concepções do homem. Resumindo, a consciência do homem muda de acordo com as mudanças nas condições da sua existência material, nas suas relações sociais e na sua vida social [Marx e Engels].
O que os autores [Marx e Engels] querem dizer nesta parte do livro é o seguinte: que as considerações religiosas e filosóficas são tão patéticas, que não merecem uma atenção dos seus leitores. O materialismo, também é algo muito óbvio, que não precisa ser arraigado pelos leitores e que, essas ideias religiosas e filosóficas são provenientes apenas de uma relação material da luta de classes.
«O que mais prova a história de ideias, do que, a produção intelectual muda de carácter na proporção em que a produção material muda? As ideias dominantes de cada época sempre foram as ideias da classe dominante» [Marx e Engels].
Neste parágrafo, Marx e Engels dizem que, ideias não têm valor algum, que são apenas abstracções provenientes de uma relação social, material resultante da luta de classe.
Mas então, o comunista não é uma ideia? Marx e Engels não eram tão cândidos assim, eles perceberam que seus leitores, talvez pensassem nisso e eles escreveram destarte suas conclusões teóricas sobre o Comunismo:
«Suas conclusões teóricas não estão baseadas de modo algum em ideias ou princípios que foram inventados ou descobertos, por este ou aquele futuro reformador universal, mas são
apenas expressões generalizadas das condições de uma luta de classe, que existe de facto, de um movimento histórico que se passa diante de nossos olhos» [Marx e Engels].
Você vê, percebe, que para Marx e Engels o Comunismo não são ideias é como uma [ciência exacta], que não se pode contestar e que se pode conhecer, através do empirismo, ou seja, uma espécie de Comunismo científico que não se pode contestar destarte como a ciência. Essa, era a estratégia de Marx e Engels quando diziam que não era uma ideia.
Destarte, Marx e Engels poderiam condenar outras ideias apresentando como se fosse algo material e banal e o Comunismo como algo [profético]. Isso não é opinião minha basta olhar no livro.
Mas, voltando um pouco para a educação das crianças. Marx e Engels perceberam que a educação para as crianças era muito importante para que o Comunismo se mantivesse no poder, mas o que eles não tinham percebido é que, essa educação para crianças devia ser colocada em prática antes mesmo do Comunismo chegar ao poder. Mas, isso só foi [percebido] alguns anos depois por pessoas como; António Gramsci e Theodor Adorno entre outros. Contudo, isso é um assunto que continua provocando debates em vários círculos académicos e intelectuais.
A meu ver, eu acho que é preciso muita confiança na capacidade administrativa do Governo para acreditar que o Estado possa administrar os vários sectores da sociedade e várias empresas. Destarte, da análise feita do livro é possível perceber o autoritarismo que se concretizou na prática. E avaliando e analisando mais profundamente o livro, essas avaliações de autoritarismo só se confirmam, que o Comunismo não foi deturpado; não houve distorções enormes da teoria, que foi colocada em prática, mas também não houveram acidentes históricos.
O Comunismo é ditatorial e autoritário por natureza; o Comunismo se tornou na prática o que foi projectado para ser teoria ainda que, os autores ou pessoas que lutam em favor do Comunismo tenham uma boa intensão, contudo, não muda o facto de o Comunismo foi projectado teoricamente para ser uma ditadura; sempre foi assim e sempre será.
Certamente, o Comunismo de Marx já aconteceu. Os comunistas inspirados pela obra O Manifesto Comunista de Marx e Engels adoravam dizer que, «o Comunismo é uma teoria bem-intencionada, democrática e salvadora da pátria e dos trabalhadores e que até hoje só não deu certo porque ela foi deturpada”. Então, o Comunismo e o Marxismo ainda estão por vir.
Será…que é mesmo verdade?
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, 01 de Dezembro de 20[21]