ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Nos últimos dias de forma mais imperceptível tanto os Estados Unidos [EU], quanto a Rússia começaram a se expressar de forma progressivamente menos belicista com relação as tensões a volta da Ucrânia. A entrega das respostas dos EU e da NATO a extensa lista de garantias de segurança do Presidente Vládimir Putin, parecia indicar pelo menos à primeira vista que as tensões fugiriam do controle, já que, tanto os EU quanto a NATO se recusaram a aceitar qualquer um dos pontos exigidos pela Rússia com destaque para a retirada de toda e qualquer presença militar da Aliança no Leste europeu e um Acordo impedindo, que alguns membros entrem para a Aliança, principalmente; a Ucrânia e a Geórgia, mas também que se estenderia a países como a Suécia e a Finlândia.
Com o Ocidente se recusando aceitar pontos que o Presidente Putin tinha classificado como inalienáveis para segurança da Rússia, tudo realmente levava a crer que o caminho estaria definitivamente aberto para uma confrontação militar, no entanto, como indica um Documento de qualidade impressionante, o que aconteceu foi justamente o oposto.
Por exemplo, o ministro russo dos Estrangeiros Sergey Lavrov, disse semana passada que tinha ficado muito [decepcionado] com o teor da resposta dos EU, no entanto em pronunciamento posteriores disse, que apesar das questões principais não terem sido respondidas da forma como a Rússia gostaria, os EU deixaram em aberto a negociação diplomática daquilo que ele chamou de questões secundárias de segurança. Disse também, que a resposta dos EU foi mais aberta e promissora, do que, a resposta da NATO, mas como sabemos quem dá as cartas na NATO são os EU, por isso, qualquer decisão estratégica tomada por EU automaticamente se estenderá a Aliança.
O Secretário da Defesa dos EU, o General Lloyd Austin, disse explicitamente que uma guerra na Ucrânia, não é inevitável e as tensões podem ser resolvidas pela via diplomática; um discurso semelhante ao do Secretário Estado Antony Blinken, que apesar de ter dito, que os EU estão preparados para reagir a qualquer ataque russo; disse também, que uma guerra não é inevitável e que muitas questões poderão ser resolvidas na mesa de negociações.
Ora, essas palavras cautelosamente e optimistas parece mostrar, que a estratégia russa na Ucrânia de exigir o impossível, para receber aquilo que realmente quer pode estar funcionado.
Mas, o que a Rússia realmente quer? O Presidente Putin sabia muito bem que as exigências de garantias de segurança não seriam acolhidas, além disso, exigir o fim da Aliança em todo o Leste europeu era algo, que se parecia mais a uma condição de [Armistício] imposta por um país vencedor em uma guerra, e ele sabia muito bem que a resposta seria não!
Mas, o Presidente Vládimir Putin fez na mesma essa exigência excessivamente alta, pois àquilo que a Rússia quer na região é algo muito mais simples: o que a Rússia quer é, ser respeitada no Leste europeu, ou seja, quer ter voz activa nas futuras decisões de expansão da NATO, e quer mostrar para o mundo todo que a Ucrânia pode até se aproximar da NATO, mas que nunca em hipótese alguma poderá se tornar membro pleno.
Por um, por outro lado, a Rússia não precisa de um «tratado formal» assinado com a NATO que impeça a Ucrânia de entrar na Aliança, já basta fazer exactamente àquilo que já vem fazendo desde 20[14] que é apoiar, armar e financiar grupos separatistas pró-russos na região de Dombás. As tais questões secundárias referidas pelo ministro Lavrov, são na verdade questões principais para Rússia, já que, pode incluir o retorno do tratado de forças nucleares de alcance intermédio, um tratado assinado em 19[87] que baniu da Europa mísseis balísticos de cruzeiro com o alcance entre os [500] / [5.500] Km.
Se estão lembrados em Fevereiro de 20[19] o ex-Presidente dos EU Donald Trump, abandonou o tratado alegando que a Rússia estava descumprindo o que significa, que os EU e a NATO podem implantar mísseis balísticos de curto e médio alcance na Europa, e se há uma arma que verdadeiramente incomoda o Presidente Vládimir Putin são os mísseis balísticos de curto e médio alcance.
Outra questão secundária que é na verdade uma outra questão principal para a Rússia, são os exercícios conjuntos da Aliança no Leste europeu. Repare, sempre que a Aliança faz exercícios com [15] / [20] mil soldados, a cem o duzentos Km da fronteira russa é como uma autêntica bofetada na cara do Presidente Putin, uma forma da NATO olhar nos seus olhos e dizer: «estou aqui e não tenho medo de você». E isso é algo que incomoda profundamente o Presidente Putin e por isso a perspectiva, de que, os EU estão dispostos a reduzir a dimensão e a frequência de exercícios militares no Leste europeu é também uma grande vitória para o Kremlin.
Na verdade, o Presidente Putin, efectivamente não quer uma guerra na Ucrânia, pois ele sabe que é isso que os EU e NATO querem. Se a Rússia invadir o território ucraniano, será a [desculpa] perfeita para os EU e NATO iniciarem uma guerra por procuração contra os russos apoiando, financiando e armando a Ucrânia até aos dentes para transformar a guerra em um conflito longo cansativo para Moscovo. Todo que o Presidente Vládimir Putin, quer na Ucrânia é, manter a situação exactamente da forma que já está, apoiando os separatistas pró-russos em Dombás e mantendo tropas ao longo da linha da fronteira como forma de pressão para impedir a entrada da Ucrânia na NATO.
Portanto, Ao negociar com os EU, as tais questões secundárias o astuto Presidente Vládimir Putin, conseguiu àquilo que realmente queria e em contrapartida ainda mostrou ao mundo todo que o seu país [Rússia] está em plena forma, tanto a nível logístico, quanto também operacional.
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [30] de Janeiro 20[22]