ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
O Acordo de Minsk 20[14] incluiu entre alguns temas; a possibilidade da Ucrânia, ter uma autonomia. Obviamente por se tratar de um país independente pode ingressar na NATO, mas também de ingressar na União Europeia [UE], entre outros tipos de Acordos e parcerias que eles poderiam desenvolver com países ocidentais.
Ora, do ponto de vista russo isso é uma afronta, e última coisa que a Rússia não quer é ver a NATO fazendo fronteira com a Rússia, onde consideram acaba sendo uma grande ameaça à sua segurança nacional. Vlámidir Putin diversas vezes deixou claro, que não aceita esse papel da NATO e da UE em cima da Ucrânia e vive ressaltando todos os laços históricos, étnicos e culturais entre os russos e ucranianos.
A civilização russa, teve o seu início na Ucrânia, no que era chamado Kiev-russo, lá atrás no processo de milhares de anos onde o desenvolvimento de toda essa civilização tem na Ucrânia, o seu berço e o Putin sempre lembre disso.
No momento em que voz escrevo esta carta, temos [100.000] tropas russas na linha da fronteira com a Ucrânia, incluindo alguns batalhões de operações especiais de assalto, que são tradicionalmente utilizados em invasões como os que ocorreram na Geórgia e também na Tchetchénia.
A Rússia, vem montando toda essa operação na linha de fronteira com a Ucrânia, com alguns objectivos; não necessariamente de invadir apesar, de que, todos os indícios estão dando, de que, isso vai acontecer. E é importante lembrar, que a Rússia tem um Exército de aproximadamente [350.000] soldados, mas que isso pode aumentar rapidamente. A Ucrânia, hoje tem um Exército muito melhor, do que, tinham em 20[14] quando aconteceu a invasão da Crimeia.
Hoje, a Ucrânia conta com aproximadamente [250] / [280] mil soldados, podendo ampliar um pouco em caso de necessidade, mas em termos de equipamento e técnica militar eles estão obviamente muito melhor, do que, estavam em 20[14]. Eles importaram muitas armas e receberam muita técnica militar dos Estados Unidos [EU] e de outros países europeus, mas isso não é suficiente para contrapor todo o poderio técnico-militar russo.
De acordo com um Documento de qualidade impressionante, essas [100.000] tropas, ainda precisam de alguns elementos básicos para que, a concepção ideal de uma invasão passa ser considerada como eminente pelos especialistas de Pentágono e também de Londres, que estão avaliando de muito perto. A identificação da inteligência desses países é de que, falta um processo logístico melhor ligando essas tropas dos principais centro urbanos, que podem oferecer todo o processo logístico [armamento e munições], mas também de víveres e etc.
E existe, também uma dificuldade no momento que precisaria em tese ser corrigida nos próximos dias, que é a questão dos bancos de sangue, que eles teriam que ter à disposição para poder montar para se justificar e poder apoiar esse processo de invasão. Obviamente, isso é dentro da visão do que seria ideal, mas dentro duma invasão não há necessidade de que os ideais estejam postos.
Um outro Documento indica, na concepção russa, a medida que eles vão avançando eles podem obter grande parte disso, que eles necessitariam pôr internamente dentro da sua cadeia logística, eles podem obtendo à medida que vão avançando dentro do próprio território ucraniano. Então, tudo isso está em aberto.
Por isso, as forças ucranianas estão em alerta máxima, existem já algumas trincheiras sendo preparadas no Leste do país já visando esse primeiro impacto defensivo, mas as próprias forças armadas ucranianas, sabem que é muito difícil repelir uma invasão russa, principalmente até a metade do país e os russos, também entendem que uma invasão, que tomaria todo o país seria um processo de anos e doloroso, e que de certa forma poderia [exaurir] as capacidades financeiras e também militares da Rússia para embarcar numa aventura como essa.
Um outro Documento indica, que dentro das hipóteses de conflito, que são analisadas tanto em Washington, Londres e outras Capitais existe hipótese, de que, a medida que a Rússia avance em território ucraniano numa velocidade que eles não acreditam que seria muito rápida, os EU principalmente abasteceriam todo o Exército ucraniano com mais equipamento para que, pudessem resistir o máximo possível e impedir a chegada das tropas russas até a capital [Kiev], a fim de que acabassem de tomar tudo.
Uma das hipóteses, que é levantada é, a possibilidade da existência de duas Ucrânia caso a invasão russa venha ser bem-sucedida pelo menos até a metade do país, gerando uma Ucrânia do Leste e uma Ucrânia do Oeste, onde os russo trariam todo o aspecto nacionalista e étnico para justificar a ocupação e a presença nessa parte do território, enquanto aqueles rebeldes nacionalistas do ponto de vista do Governo de Kiev seriam aos poucos empurrados para o lado de Kiev que não seria invadido.
Para Rússia, isso não é um cenário negativo, porque essa eventual Ucrânia do Leste, serviria como o colchão entre a Ucrânia ocidentalizada, e o território russo, que no fim é o que Kremlin quer; impedir a NATO de estar nas fronteiras russas e podendo destarte ameaçar do ponto de vista russo toda a segurança nacional.
Um outro Documento de qualidade impressionante observa, que dificilmente, Exércitos ocidentais da UE e da dos EU, se envolveriam directamente nesse conflito. Os EU não têm nenhum desejo de entrar num confronto directo com tropas russas na Ucrânia, ao mesmo tempo que, a UE dependente do gás russo, vai tomar uma posição com mais cautela afim de não [irritar] tanto os russos para que o fluxo do gás siga e ao mesmo tempo tenta marcar presença em nome da democracia e em nome da independência da Ucrânia.
Na verdade, isso vai ser um teste de fogo muito importante para todo o mundo, porque se a posição da UE acabar sendo mole, isso vai fazer com que, vários outros países europeus daquela região começam a perder gradativamente ainda mais confiança que eles têm na UE, e isso é um problema grande. Ao mesmo tempo, a medida que eles tomarem decisões muito macias [frágeis], em relação a Ucrânia, isso vai fazer com que, a Rússia entende que tem uma grande vantagem no que é o fornecimento do gás, e que basicamente não importa o que eles façam; a UE não vai tomar nenhuma decisão pesada.
Os EU, além de fornecer armamentos para as tropas ucranianas, certamente iniciaria mais um pacote amplo de sanções contra a Rússia. Esse pacote de sanções contra a Rússia, poderia ou não ser acompanhado pela UE, de acordo com pressão que os russos fizessem em cima do fornecimento de gás. Então, essa é uma questão [incógnita], que fica no ar.
Um outro Documento indica, que dentro das lógicas e das possibilidades de sanções, que são avaliadas aqui mais geraria impacto seriam sanções contra o sistema financeiro russo, que traria grande dificuldade para todo processo de exportação e importação de produtos entrando e saindo da Rússia com países ocidentais que já estão integrados e ligados e dependentes de alguma forma em toda cadeia financeira americana.
Destarte, no caso de uma sanção directa contra o sistema financeiro russo [Banco Central da Rússia], isso poderia acelerar uma pausa ou pelo menos um cessar-fogo no caso duma invasão, porque isso aceleraria o desperdício de recursos para sustentar uma guerra, que não seria simples principalmente em comparação ao que foi em 20[14] entre a Rússia e a Ucrânia.
No entanto, a Inglaterra tem sido um pouco mais [vocal] em termos de possibilidades, do que, poderia ser feito em relação a Rússia. Apesar de que alguns especialistas afirmam que uma intervenção, uma participação militar não deve ser descartada, dificilmente isso aconteceria, por conta da pressão da opinião pública inglesa, que não gostaria de ver seus soldados engajados numa guerra na Ucrânia, contra um Exército poderoso como da Rússia, principalmente depois de todas as dificuldades, que eles tiveram e todo impacto, nacional que existiu da participação inglesa em guerras contra adversários historicamente mais simples que aconteceram nas últimas décadas.
De facto, o gás acaba sendo um aspecto central nessa eventualidade de um conflito, porque a UE sabe que está de mãos atadas, não tem outra alternativa a não ser o Norte extremo, que é o gasoduto que sai da Rússia e fornece o gás para Europa Ocidental, e que, eles não têm outra alternativa principalmente na época do inverno.
Então, esse ponto seria interessante, porque mesmo com as sanções e com toda narrativa que poderia ser agressiva ou não da UE em relação a Rússia, a Rússia não terminaria as suas exportações de gás, porque ela também se tornaria mais dependente dessas exportações por conta da necessidade de recursos financeiros, em contra partida a UE, também não aplicaria ou não aceitaria sanções em cima dessas exportações do gás, que é algo que os EU tentariam convencer a UE e ao mesmo tempo eles tentariam aplicar sanções nesse linha. Isso, poderia criar um mau estar entre a UE e EU, que conceptualmente concordaria com todas as posturas americanas em relação a invasão na Ucrânia, mas por outro lado, a UE não quer que se veja sem nenhuma alternativa em relação ao fornecimento de gás russo.
Logo, esse é um ponto que possivelmente poderia ter um impacto muito rápido, no processo de invasão, que poderia acelerar o processo de pausa ou até de um cessar-fogo. Por outro lado, a Rússia não mostra nenhum indício que está esmorecendo, pode ser. Mas, o Vlámidir Putin à medida que ele aumenta o seu número de tropas e a espectativa é que, esse número de tropas possa chegar [170.000] até o começo de Fevereiro isso, ou seja, ele aumenta também a espectativa da opinião pública russa que de certa forma espera que ele mantenha essa postura [pressão], porque ela comprou a narrativa da ameaça da presença da NATO nas suas fronteiras.
Destarte, para o Vlámidir Putin colocar [170.000] tropas, que é um volume monstruoso e criar todo um aparato de invasão, simplesmente para recuar, àquilo que teria que acordar com UE, NATO e com os EU, teria que ser muito vantajoso para que a opinião pública russa reconhecesse esse movimento como uma movimentação estratégica, se não, isso pode dar uma fragilidade para Vlámidir Putin domesticamente que ele não quer e também não faz parte da sua característica.
Por isso, Janeiro e Fevereiro, vão ser meses críticos. O fluxo de aumento ou diminuição de tropas vai dar grandes indícios, do que, é que pode acontecer à medida como os rumores e de desenho de sanções que poderiam surgir. Mais importante, do que, EU, é o papel da UE nessa história.
E, o facto de a UE estar de braços atados por conta do gás russo, faz com que, seja um ator principal, que precisa de cada vez mais uma postura bem pensada e estratégica para que, eles busquem uma saída diplomática antes que a situação fique complicada para UE.
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [16] de Janeiro 20[22]