A história da Sena Sugar Estates contada por Paul Lapperre estende-se por mais de 100 anos, tendo o autor feito um esforço considerável para atingir um resultado com maior equilíbrio do que investigadores anteriores, como Vail e White (1980) no seu Capitalism and Colonialism in Mozambique: A study of the Quelimane District; Ishemo (1995) em The Lower Zambezi Basin in Mozambique: A study in economy and society, 1850-1920; e Judith Head (1980) na sua tese de doutoramento State, capital and migrant labour in Zambezia, Mozambique: A study of the labour force of the Sena Sugar Estates Limited. Todos eles pintaram um quadro bastante unilateral, que culminou numa aura de «notoriedade» em torno da Sena Sugar Estates.
Doce Amargura coloca alguns dos aspectos totalmente inaceitáveis desta história no seu contexto. Qualquer exploração de açúcar em Africa que tenha existido por quase um século tem um percurso com lados mais sombrios e outros mais brilhantes. Para a Sena Sugar Estates, o lado sombrio era, sem dúvida, o «dilema do trabalho barato» e todas as questões raciais que lhe estavam ligadas.
No lado positivo, esteve a peculiar «mentalidade de fronteira» do meu bisavô, ao construir um Império do Açúcar num canto remoto do mato africano a partir de 1890. Pitt Hornung morreu em 1940 e o testemunho foi passado ao meu avô, Bernard Hornung, e ao meu tio-avô, George Hornung. O terceiro irmão, mais novo, John Peter Hornung, tombou na Primeira Guerra Mundial.
Na década de 1960, o meu tio, John Derek Hornung, transformou, com uma eficiência e rapidez incríveis, aquilo que era uma clássica plantação colonial de trabalho forçado numa empresa moderna e mecanizada.
Coube ao meu pai, Stephen Hornung, a ingrata tarefa de supervisionar, quase impotente, o colapso do próspero império do açúcar quando a independência de Moçambique chegou, em 1975. Discutir com ideologias marxistas-leninistas em questões de produção industrial era absolutamente impossível e a Sena Sugar Estates estava condenada. A guerra civil entre a FRELIMO e a RENAMO fez o resto.
Milhares de pessoas qualificadas e dezenas de milhares de africanos foram privados de ganhar a vida. Doce Amargura é a história de um grande empreendimento e do seu distinto fundador, J. P. Hornung. Um industrial pioneiro, ousado, e por vezes implacável, na Africa Oriental Portuguesa.
Seria um erro sugerir e atribuir culpas pelo colapso da Sena Sugar Estates Limited. Na reabilitação da que outrora foi a Pérola da Zambézia, devemos usar as lições do passado para garantir que os mesmos erros não se repitam.
Bernard Hornung The Warren Bashurst Hill Horsham, West Sussex
* Nascido em 1942, Paul Lapperre estudou Ciências do Solo Tropical e Química do Solo no State College for Tropical Agriculture, no International Training Centre for Aerial Survey and Earth Sciences (ITC) e na Agricultural University Wageningen (LUW) nos Países Baixos. Trabalhou em Moçambique, no Quénia, na Somália, na Zâmbia e no Reino Unido antes de regressar aos Países Baixos para iniciar uma nova carreira na Eindhoven University of Technology (TU/e). Aqui, fez um doutoramento em Ciência e deteve cargos de pesquisa, lecionação e gestão antes de se retirar como Associate Professor of Technology and International Development em 2005. Paul Lapperre é casado com uma médica especialista, reformada, e têm três filhos. Dois deles nasceram no Luabo.
NOTA: Mais uma "obra" da FRELIMO que levou milhares de trabalhadores para o desemprego.