EUREKA por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (96)
De um Governo espera-se que governe. Do actual Governo, contudo, a conclusão, perto da metade do segundo mandato de Filipe Nyusi, é que seria esperar demais que ele se dedicasse à faina.
Temos um Governo desorientado. A equipa está manifestamente a jogar mal, está desorientada, está desgastada, está cansada, está com dificuldades até de caminhar- e se pedíssemos para correr? Aliás, esta equipa sempre jogou assim. Nunca conheceu o sabor da vitória! E este evidente desgaste brutal não é só do Governo. Atinge a Frelimo. Ou seja, o Governo e o partido Frelimo é que boicotam o País.
Andamos na contramão da história por culpa da Frelimo. A Frelimo proíbe aos moçambicanos de serem cidadãos. Quer indivíduos. Quer esses energúmenos que cercam o Presidente, sob capa de assessores, enquanto ajudam-lhe a destruir o País.
Quantas vezes manifestações pacíficas de gente honesta foram abortadas pela Polícia à mando da Frelimo? Todavia, há dias atrás, em virtude do que Armando Guebuza disse na tenda da BO sobre o chefe do Comando Operativo, falanges do partido-Estado saíram à rua para se manifestarem contra os pronunciamentos de Guebuza em apoio do Presidente Filipe Nyusi.
E nem informaram nenhuma autoridade sobre a marcha. Aqueles despachos de Eneias Comiche- quem, afinal, disse que ele tem poder para isso?- proibindo a marcha não circularam.
Se houve Polícia na rua, era para ajudar os manifestantes a cantar, bem alto, o nome de Filipe Nyusi. É tudo gente da mesma cartilha. Já que é assim, chego facilmente à conclusão de que para ser cidadão, em Moçambique, é preciso ser da Frelimo- qualquer um chegaria a esta conclusão.
O caminho é recto. Não há como se perder! Para exercer direitos fundamentais, se não é da Frelimo, deve passar por um processo penoso e ilegal, que resulta sempre no indeferimento politicamente orientado.
Sabiam o Presidente e a Frelimo que ninguém nasce cidadão? Tornamo-nos cidadãos nos vários processos formativos da sociedade. A família, a escola, o trabalho, os movimentos sociais, as manifestações culturais, as instituições – todos são responsáveis de uma maneira ou de outra pela formação do cidadão.
A educação para a democracia, educação política e outros, assumem essa premissa de formação do cidadão em vários espaços como primeiro movimento em direcção à construção, manutenção e aprimoramento da democracia.
Dessa forma, ninguém nasce democrata, também nos tornamos democratas nos vários processos formativos de uma sociedade democrática. Para isso, é preciso conhecer a democracia, praticá-la e defendê-la na escola, no trabalho, nos movimentos sociais, nas manifestações sociais, nas instituições em geral.
Estaríamos assim mais próximos de compreender a democracia como um bem cultural, um valor presente no nosso quotidiano, nas mais diferentes situações.
Agora, se proíbem o cidadão de ocupar o único espaço que verdadeiramente lhe pertence, a rua, como é querem que o País funcione? Isso não é sabotar Moçambique e os moçambicanos? Não é querer mal o País?
DN – 25.02.2022