EDITORIAL
Este sábado, o brigadeiro Chongo Vidigal, director de Operações no Ministério da Defesa, disse haver um reagrupamento da auto-proclamada Junta Militar da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), grupo dissidente do braço armado do principal partido da oposição.
Em abono da verdade, não há nada que se possa estranhar nisto. Ou seja, tal significa consequência normal de um Governo que conduz o País de forma errática.
Desde a execução extra-judicial de Mariano Nhongo- líder da auto-proclamada Junta Militar da Renamo, o Governo desleixou-se. Não tomou nenhuma iniciativa para chamar à razão aos integrantes deste grupo. Portanto, não se deve queixar das consequências que possam advir.
Cabo Delgado resulta de atitudes como esta. O fiasco do acordo do Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) também. Há, e sempre haverá, problemas na irresponsabilidade e no comportamento leviano e demagógico de governos que descumprem o que prometem, voltam atrás nas suas próprias falas e mentem abertamente.
Os planos de Governo de candidatos frelimistas à chefia do Executivo nunca foram levados a ferro e fogo. Destinam-se, pura e simplesmente, à conquista do poder. Um exemplo robusto desse comportamento condenável deu-se na eleição presidencial de 2014, quando Filipe Nyusi, no seu discurso inaugural, disse que o seu Governo seria composto por tecnocratas.
Em menos de 24 horas, o Presidente da República descumpriu na totalidade o que prometera publicamente e na presença, até, de chefes de Estados de outros países que haviam sido convidados para testemunhar a tomada de posse.
Na prática, o Presidente foi mais longe na incoerência entre discurso e acção, pois chamou, entre vários incompetentes, os seus próprios amigos para comporem o Governo, comportamento que custou rápido desgaste de sua popularidade e criou dificuldades para a governabilidade.
Se depois da posse o candidato eleito vai em direcção contrária ao que divulgou e nega as suas próprias promessas, o resultado é a criação de um ambiente de incerteza, insegurança jurídica e desconfiança.
Tal quadro prejudica justamente os que elegeram o governante confiando no seu plano de Governo e nas suas promessas, desestimula investimentos privados, inibe os negócios e joga a economia em retrocesso.
Se o Governo colaborar para criar mais confusão, dando menos valor à palavra empenhada e tendo menos seriedade no trato das promessas públicas, a guerra em Cabo Delgado, os raptos, a estagnação económica e o surgimento de mais Nhongos são consequências normais.
A Frelimo sempre difundiu a crença de que a pobreza que afecta os moçambicanos é coisa de inimigos da pátria, dos apóstolos da desgraça, quando na prática se trata da reacção negativa às políticas erráticas e à falta de seriedade e confiabilidade nos planos e na palavra dos camaradas.
A Frelimo devia, a esta altura, ter aprendido que sacudir o capote às suas responsabilidades jamais colocará o País nos carris.
Isto parece um País de garotos. Sente-se a falta de indivíduos crescidos em Moçambique!
O indivíduo que governa este País, apesar de ter idade suficiente para ter juízo, ele apresenta características de um adolescente brincalhão, indiferente ao que diz e faz. Não é à toa que estamos a chafurdar na lama! (Laurindos Macuácua)
DN – 28.02.2022