A concentração do contingente ruandês (Rwanda Defense Force/ RDF) em pontos estratégicos como Mocímboa da Praia e Palma não foi acompanhada pelo reforço significativo do contingente da SAMIM na província moçambicana, nem em pessoal nem em meios de combate, especialmente aéreos
A degradação das capacidades militares da África do Sul, com efeitos sobre a prontidão para combate, está a reflectir-se operacionalmente nos objectivos e eficácia da acção da SAMIM (SADC - Mission in Mozambique) em Cabo Delgado.
A cobertura e apoio aéreo às operações no terreno é considerada essencial para a eliminação da ameaça insurgente na região. Apontado por fontes militares como reveladores de que os ganhos iniciais dos contingentes estrangeiros em Cabo Delgado não estão estabilizados é o ressurgimento de ataques simultâneos das células armadas de inspiração islâmica, nomeadamente em Nangade, distrito situado junto à fronteira com a Tanzânia, praticamente sitiado e isolado desde 18 de Fevereiro, somando-se a outros focos de insurreição reincidentes desde o início do ano.
A SAMIM previa destacar três batalhões de 620 operacionais, dotados de apoio aéreo e duas companhias das Forças Especiais em operações de perseguição e neutralização. A capacidade actual encontra-se aquém do previsto e a falta de meios aéreos de combate e vigilância limita a capacidade operacional em terra.
A concentração do contingente ruandês (Rwanda Defense Force/ RDF) em pontos estratégicos como Mocímboa da Praia e Palma não foi acompanhada pelo reforço significativo do contingente da SAMIM na província moçambicana, nem em pessoal nem em meios de combate, especialmente aéreos.
A SAMIM totaliza hoje cerca de 2.000 militares, metade dos quais sul-africanos, que têm vindo a reforçar lentamente a respectiva participação. As duas companhias das forças especiais da SANDF enviadas para Cabo Delgado carecem de apoio aéreo, à semelhança do ocorrido na República Centro-Africana em 2013, onde a presença sul-africana acabou por ser retirada após 15 baixas mortais.
Pretória decidiu, entretanto, preparar a substituição das companhias pela força de combate Alpha, mas permanecem dúvidas sobre a capacidade de mobilizar dezenas de veículos blindados de combate Casspir tendo em conta as limitações orçamentais impostas ao sector da defesa.
A reunião do Comité de Defesa do parlamento sul-africano, em Fevereiro confirmou o estado crítico do “portfolio” das SANDF. Segundo avaliações militares sobre os meios aéreos da SAAF/SANDF, quase 80% da frota de aeronaves encontra-se inoperacional.
Assim, encontram-se activos quatro dos 11 helicópteros Rooivalk; 17 dos 39 helicópteros Oryx; dois dos seis aviões de transporte de tropas C-130; três dos 30 helicópteros A109 LUH; três dos seis helicópteros BK117, frequentemente usados em apoio médico; três dos 16 aviões de transporte Dakota C47. Na frota de aviões de combate, os 26 F-39 Gripen já não voam e não existe qualquer manutenção activa, e dos 24 Hawk, que podem ser utilizados em operações ofensivas, apenas três estão operacionais.
Dos oito Cessna Caravan, cinco estão operacionais; apenas dois dos 35 aviões de reconhecimento e voo nocturno PC7 Mkll estão funcionais. Outros meios aéreos das SANDF estão em situação semelhante. No total, apenas 46 das 215 aeronaves estão ainda operacionais. Das restantes, c. 50 encontram-se em situação de colapso, sem recuperação possível.
A falta de manutenção da frota é apontada como a principal causa do estado crítico da força aérea em resultado do desinvestimento continuado do Estado nas capacidades militares do país. Esta situação arrastou as empresas sul-africanas do sector da defesa com a DENEL Dynamics, responsável pela manutenção de aeronaves como os Oryx e Rooivalk, e ARMSCOR.
A frota de A109 LUH, com 20 anos de uso, dispõe de um contrato de manutenção que envolve os italianos da Leonardo Helicopters e os britânicos da Safran Helicopters Engines, mas este chegará ao fim em Março e o financiamento para a sua extensão não foi ainda libertado pelo Estado.
A capacidade de projecção de forças da força aérea sul- -africana é hoje igual à existente há 60 anos e a falta de aeronaves para formação de pilotos tem obrigado a RAS a enviar pilotos para formação em Cuba e Rússia. Nos outros ramos, a situação é também considerada crítica.
Na Marinha, três navios-patrulha foram encomendadas pelas SANDF à ARMSCOR em 2018 devendo ser entregues entre o 1º semestre de 2022 e 2024, colmatando apenas uma pequena parte das insuficiências operacionais das forças navais sul-africanas que foram obrigadas a recolher o único meio naval empenhado no Canal de Moçambique, em apoio às operações terrestres em Cabo Delgado.
Nos últimos 17 anos, apenas uma fragata e um submarino foram objecto de actualizações. A frota naval carece de modernização e manutenção, mas não está previsto cabimento orçamental para o efeito nos próximos 10 anos.
No ramo do Exército, a falta de meios de combate continua a limitar a capacidade operacional. O atraso na aquisição de novos equipamentos e veículos de combate está calculado em 16 anos.
A maior parte do equipamento do Exército data dos anos 1970-1980. Dos 23 batalhões de infantaria necessários para a total operacionalidade do Exército fora das fronteiras do país (RD Congo e Moçambique), apenas estão disponíveis 14 batalhões, muitos dos quais incompletos.
REDACTOR – 25.02.2022