Tenho estado a ver vídeos e textos nas redes sociais lamentando a precariedade da Estrada Nacional Número UM de Moçambique, ligando o país do Rovuma a Maputo.
Trata-se de uma obra construída em finais da década de 1960 ou princípio da década de 1970 pelo regime colonial português.
Um amigo que vive na África do Sul desde 1962 brinca comigo quando conversamos sobre dificuldades que Moçambique enfrenta em diversas áreas, que incluem falta de estradas devidamente asfaltadas e outras infra-estruturas de qualidade.
Aliás, na universidade, o meu professor de Gestão Financeira gozava comigo no meio de outros estudantes dizendo que mesmo a preço de banana não aconselharia ninguém a comprar o meu país [Moçambique] porque não tem assets de valor e qualidade comercial.
Fora da academia, o meu amigo Daniel Muralha, natural da Beira, dizia não compreender por que razão os governos africanos (moçambicano e angolano, em particular) não conseguem conservar infra-estruturas públicas herdadas do tempo colonial.
Conta que no passado era extremamente difícil fazer obras nas colónias, porque todas as autorizações eram feitas em Lisboa, seguindo processos burocráticos, longos e os despachos eram enviados por navio. Na altura, os sistemas de comunicações eram de baixa qualidade, mas muitas obras públicas foram bem construídas.
Portugal estava a travar guerras em Angola, Moçambique e na Guiné-Bissau e não recebia apoio financeiro internacional como acontece hoje com Moçambique e com outros países.
Esta semana, o Presidente de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi, anunciou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) vai retomar o apoio financeiro ao orçamento que estava suspenso na sequência da descoberta das dívidas inconstitucionais contratadas pelo então governo de Armando Emílio Guebuza.
A Estrada Nacional Número UM, é única via rodoviária que liga o país, mas o governo de Moçambique não consegue pô-la em boas condições de transitabilidade permanente. Em algumas zonas ou províncias a estrada parece carreiro por onde andam animais.
Em plena cidade de Maputo, capital do país, as ruas estão cheias de buracos. Muitos prédios – conquistas da revolução – ostentam “rosto” de tristeza. Moçambicanos que constroem nos bairros periféricos dos centros urbanos enfrentam graves problemas de arruamentos.
Novas obras públicas têm “esperança de vida” mais curta em relação a infra-estruturas construídas no tempo colonial.
A elite política dirigente considera as críticas como manifestações de saudosismo do passado. Mas em privado quase todos reconhecem que as coisas deviam ser muito melhores.
A massificação da educação escolar, bandeira das independências africanas, transformou-se numa simples soma aritmética de passagens de classe sem conhecimento.
Semana passada estive no interior de Massinga, em Inhambane, e encontrei um aluno da sétima classe que não sabe ler dois algarismos, como número “oitenta e seis”, por exemplo. Apenas sabe dizer oito, seis...assim por diante.
Fiquei muito chocado e preocupado com a situação, mas logo lembrei que para chegar àquele zona andei por estrada cheia de buracos a partir de Maputo.
REDACTOR – 30.03.2022
NOTA: E é de não esquecer que para além desta estrada, havia a cabotagem, na ESTRDA NACIONAL MAR, com mais de 10 navios.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE