A tempestade tropical Gombe que, recentemente, fustigou a província de Nampula, causou, de forma particular, a destruição aos edifícios histórico cultural da Ilha de Moçambique, que há mais de três décadas faz parte do património da humanidade.
A primeira capital de Moçambique, com mais de 200 anos como cidade, guarda consigo considerável acervo da história, que já não pertence apenas ao país, mas sim ao mundo inteiro e que nalgum momento serve de atração turística daquela zona insular.
A par dos edifícios, a história da ilha foi igualmente afectada com a queda de árvores centenárias da espécie figueira brava, com significativo valor cultural e simbólico nas comunidades locais. O dilema agora está na reposição dos danos, e de acor[1]do com as autoridades locais existe uma legislação que acautela a gestão e classificação do património edificado e paisagístico da região, nomeadamente os decretos nº 54 e 55, ambos de 28 de Novembro de 2016.
Aliás, para além de se exigir o cumprimento rigoroso do que estabelecem tais decretos, a Convenção do Património Mundial prevê a solicitação de assistência internacional para efeitos de reabilitação e reconstrução do património cultural. Por essa via, existe incapacidade local de intervir para o património em causa, acreditando-se que démarches estejam em curso, para a reabilitação e preservação do património histórico e não só, que na Ilha de Moçambique foi afectado pelo ciclone Gombe.
Mas o ciclone devastou de forma severa a cidade mais antiga do país, sendo que nem a pedra e cal e muito menos o Macuti resistiram a fúria dos ventos e chuva forte do passado dia 11 de Março. Contabiliza-se a morte de seis cidadãos e o ferimento de outras 15 pessoas na Ilha de Moçambique, para além da destruição de diferentes infraestruturas públicas e privadas.
Mesmo o alerta antecipa[1]do da chegada do ciclone não permitiu que os residentes da Ilha de Moçambique fossem capazes de se prevenir o suficiente, no sentido de evitar o impacto do fenómeno. A tempestade tropical destruiu 3.604 casas de construção precária e 1.938 habitações convencionais, uma realidade que afectou um total de sete mil famílias, cujo sustento está comprometido, pois houve a perda de 2.788 hectares de culturas de mandioca, milho, amendoim e feijões.
A actividade pesqueira que devia assumir a função de “salva-vida”, sofreu a destruição de 28 embarcações pelo que também se ressente desta crise. Aliás os números se estendem ao sector de Educação, que registou a destruição de mais de 100 salas de aulas, sendo 63 de construção precária e 37 convencionais, e na sequência 12.972 alunos ficaram afectados.
Os serviços estão a ser prestados de forma parcial em virtude da destruição total e parcial de seis unidades sanitárias. De acordo com o administrador do distrito da Ilha de Moçambique, Momade Ali, a queda de postes de energia influenciou a paralisação no abastecimento de água potável, para além de que os furos de captação do precioso líquido ficaram submersos.
O fornecimento de energia eléctrica foi reposto depois de 10 dias de apagão, mas o abastecimento de água potável e as comunicações pelas companhias de telefonia móvel em voz e dados ainda estão irregulares.
As intervenções no quadro do plano de emergência estão a ser coordenadas entre a edilidade e o governo do distrito, contudo as duas entidades estão desprovidas de condições para o efeito. Entretanto, foram arroladas algumas necessidades de emergência como kits de abrigo, material para a reconstrução de casas e de infraestruturas públicas, bem como a distribuição de insumos agrícolas. Lembre-se que, em 1498, estabeleceu-se a Ilha de Moçambique como uma escala na rota comercial entre Portugal e a Índia, naquele que se tornaria um importante entreposto de escravos.
Ocupando uma área de 245 quilómetros quadrados, a ilha foi a primeira capital do país, permanecendo de pé diversos monumentos históricos, como a Fortaleza de São Se[1]bastião.
WAMPHULA FAX – 04.04.2022