Por Edwin Hounnou
O povo tem o direito a se sentir insatisfeito quando o seu destino estiver em mãos incertas que não sabem por onde se deve assegurar para construir o seu futuro. Estamos há 47 anos que estamos independentes mas continuamos a depender das importações de produtos como óleo alimentar, batata, arroz, cebola, etc. As gerações mais jovens não sabem que o país produzia lençóis e mantas. Nunca ouviram falar que fabricava carruagens para comboios e mobiliário hospitalar. Não imaginam que produzia pneus para nossas viaturas. Não sabem que fabricava baterias, geleiras e fogões. Agora importamos tudo até aquilo que bem poderíamos produzir na nossa terra. Faltam-nos ideias.
Precisamos de pessoas sem medo para mudarmos o país e alcançarmos a independência económica. O país tem vindo a retroceder por cada dia que passa. Quando chegámos à independência, Moçambique tinha uma economia musculada. Produzia a banana e frutas como a toranja, laranja, pêssego e litches. Era, em Africa, o terceiro país com a indústria metalomecânica robusta, mas tudo desapareceu. A revolução tudo varreu.
A nossa insatisfação fundamenta-se na dúvida e incerteza que se desenham sobre o nosso futuro. A nossa dúvida cresce e avoluma-se cada vez mais com a falta de rigor na maneira de fazer as coisas. A nossa insatisfação pela forma como somos governados vai subindo de nível. Não acreditamos no senso comum e trivial de que, a esse passo, venhamos a mudar o rumo do nosso país. Temos carvão mineral, dezenas de rios com corrente de água, 360 milhões de terra arável, um invejável complexo ferroportuário, o nosso país aloja a terceira maior barragem mundial de geração de energia eléctrica, areias pesadas por tudo quanto seja canto, porém, tudo isso não nos servirá para nada.
Não temos a cultura de trabalho e só queremos benefícios. Não temos uma direcção firme. Não faltam recursos, mas falta-nos o Homem para introduzir mudanças. Faltam-nos boas ideias e não temos objectivos claros do que queremos nem como queremos. Abandonamos a agricultura de facto e passamos a campanha política de distribuição de tractores e alfaias agrícolas. Não temos dinheiro para as nossas eleições, nem para comprar livros escolares, nem para adquirir medicamentos nem para construir estradas.
O regresso do Fundo Monetário Internacional, FM, é bom para alavancar a economia nacional que estava a murchar devido à ganância de alguns com espírito de enriquecimento fácil de alguns que foram contrair dívidas à margem da lei alegando tratar-se de sigilo da defesa da pátria o que provocou a retirada dos países e instituições de apoio programático. Viramos um estado pária ainda que os seus promotores tivessem mentido dizendo que, quando deixaram o poder, o país estava bem. Isso de dizer que estávamos a atravessar um deserto, segundo Rogério Zandamela, governador do Banco de Moçambique, é uma falsa publicidade. Não nos rejubilamos com o FMI, como pensa o Presidente Filipe Nyusi. O FMI não nos vem prestar nenhum tipo de favor.
O FMI não são nenhuma boia da nossa salvação nem que nos distribuíssem dólares de graça, isso não garantiriam o progresso do nosso país. Estamos admirados quando vemos pessoas, aparentemente esclarecidas, Filipe Nyusi e Rogério Zandamela a baterem palmas pelo retorno dessas instituições de finanças internacionais porque, mais cedo que tarde, veremos membros do governo, ajoelhados no Clube de Paris, a pedirem perdão da dívida ou o seu rescalonamento, como sempre acontece, devido à incapacidade do governo em pagá-la. Precisamos de imaginar soluções para desenvolvermos o nosso país e não perdermos tempo com canções de peditórios.
O FMI não é pai de ninguém. Eles funcionam como qualquer banco que tudo faz para endividar o seu cliente para depois cobrar juros. Devemos trabalhar de maneira afincada a fim de encontrarmos a chave do nosso futuro que não passe por Washington nem por Paris, mas pelas nossas mentes e trabalho.
O FMI não voltou com nenhum Plano Marshall para nos tirar do buraco da pobreza, como o que tirou a Europa dos escombros da Segunda Guerra Mundial. Vieram para fazer negócio de dinheiro com o nosso Estado, devorado pelas elites políticas do partido no poder atrelados aos seus aliados externos. Temos que mostrar, apesar de pobres, que pensamos e só assim seremos respeitados.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 13.04.2022