A Sasol anunciou, na semana passada, que deixou de considerar o fornecimento de gás por via do African Renaissance Pipeline (ARP), um ‘mega gasoduto’ avaliado entre 6 e 8 mil milhões de dólares que ligará os projectos de gás de Cabo Delgado operados pela TotalEnergies SE e Eni SpA, que se estenderá por 2.600 quilómetros, entre os campos no norte de Moçambique para as suas operações na África do Sul. A companhia sul-africana não pretenderá “ficar presa às infra-estruturas num momento em que o mundo se afasta dos combustíveis fósseis”, disse o Director Executivo Fleetwood Grobler.
Aquela que é a maior produtora de combustíveis da África do Sul, havia avançado, em 2020, que iria potencialmente comprar uma participação do APR, mas, nesta altura, entrar em projectos deste tipo significaria para a empresa ficar “ligada a isso durante 30 ou 40 anos porque é essa a natureza do investimento”, disse Grobler numa entrevista na sede da Sasol, em Joanesburgo. “O gás, a longo prazo, é também um combustível fóssil e estamos comprometidos a chegar às emissões net zero, é esse o nosso compromisso”.
E aquele que é o segundo maior emissor de gases com efeito de estufa da África do Sul, tem agora como objectivo uma redução de 30% nas emissões até 2030, em grande parte através da substituição de uma parte do carvão que utiliza para produzir combustível sintético e produtos químicos, por gás natural. Assim, o enfoque da empresa em opções que envolvem menos investimento reflecte um mix energético em rápida mudança que, em última análise, verá a procura de gás seguir-se a uma saída do carvão.
Para o conseguir, a empresa sul-africana está a considerar importações de gás natural liquefeito do terminal da Matola planeado pela TotalEnergies e pelo Grupo Gigajoule em Moçambique, e a apostar, como se sabe, num maior desenvolvimento dos seus próprios campos no país, nomeadamente na zoa de Temane. Ainda falando sobre a importância do gás enquanto energia de transição, disse que “é preciso fazer a ponte durantes os próximos 10 ou 15 anos e depois é preciso sair”.
O ARP, que conta entre os seus accionistas a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos e a China Petroleum Pipeline Engineering Company, tem recebido manifestações formais de interesse para financiar o projecto de três grandes bancos onde se incluem o Banco Industrial e Comercial da China, o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco de Construção da China.
A sua construção já foi por algumas vezes adiada, estando nesta altura prevista para iniciar em 2024, para estar pronta em simultâneo com o projecto de exportação de gás natural da TotalEnergies que, como se sabe, aguarda nesta altura luz verde por parte da petrolífera francesa para arrancar, estando em stand by desde Março passado, quando insurgentes afiliados ao Estado islâmico invadiram a vila de Palma.
Para além deste facto, tem sido por diversas vezes adiado, face ao enorme volume necessário para a construção da obra (entre 6 e 8 mil milhões de dólares) que foi tendo dificuldades em encontrar parceiros de financiamento (com o afastamento da Sasol tem menos um potencial investidor), e chegou a ser um projecto considerado economicamente inviável e com riscos elevados por parte da Fitch.
No entanto, a African Renaissance Pipeline Limitada, a empresa moçambicana que planeia o projecto não se mostra preocupada com a saída da Sasol do lote de potenciais investidores e, de acordo com a Bloomberg, “regista nesta altura o interesse suficiente por parte de outros compradores”, disse Kwasi Agbley, um conselheiro da direcção da ARP. “Nós não baseámos o nosso projecto na Sasol”, disse Agbley, por telefone. “Já temos manifestações de interesse de potenciais utilizadores domésticos para quase 60% da capacidade do gasoduto”, garantiu.