ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Uma potência nuclear usa argumentos frágeis ou questionáveis para invadir um país menor com intenção de destituir Governo local sem que acção militar seja aprovada no conselho de segurança da ONU, essa poderia ser uma descrição da guerra na Ucrânia, mas eu estou falando da guerra no Iraque iniciada há quase duas décadas e essa comparação tem sido bastante recorrente nas últimas semanas.
Destarte, nesta carta, eu vou com ajuda de 'grandes especialista' em conflito e resolução falar sobre as semelhanças, diferenças e até influências entre esses dois conflitos, no que, o caso de Iraque pode indicar para o futuro da Ucrânia.
Para quem não lembra, em Março de 20[03] tropas dos Estados Unidos [EU] e de aliados invadiram o Iraque, sem anuência da ONU ou da NATO para derrubar o regime de Saddam Hussein. Os EU acusavam o país de desenvolver armas de destruição em massa, o que se mostraria falso depois. O director do centro de negociação e conflito internacional da Universidade Stanford e conselheiro do Departamento de Estado dos EU Allen Weiner, disse que, «a invasão do Iraque em 2003 foi ilegal, um erro e se provou muito prejudicial aos interesses da política externa americana…nos 20 anos subsequentes».
Nas palavras de Weiner, «é possível questionar, até certo ponto, se o que fizemos no Iraque em 2003 não pode ter encorajado ou entrado no cálculo de Putin … sobre sua capacidade de se safar quando ele decide invadir a Ucrânia».
A percepção, de que, a guerra no Iraque serviu como precedente e modelo para Putin é disseminada entre analistas de política internacional e conflitos. Ao anunciar invasão ucraniana o próprio Putin, citou a guerra do Iraque como um caso especial entre uma série de inventos; «nossos colegas ocidentais não gostam de lembrar».
Arlene Clemesha, especialista em estudos árabes observa o seguinte: «em boa parte, o que deixou Putin tão à vontade para fazer essa guerra contra Ucrânia, foram os precedentes no Médio Oriente… foi saber que ele tem um longo histórico de casos para dar como exemplo e dizer: não venham apontar o dedo contra mim, antes de pensar no que vocês mesmo fazem».
Mas, Clemensha, faz uma ressalva. «A Rússia precisa ser avaliada por suas acções à luz das leis, da moral e da ética. O facto, de que, outros países também tenham feito…coisas más, erradas não altera o julgamento sobre a Rússia e sua acção na Ucrânia».
Dito isso, vamos agora aos paralelos tanto no Iraque, quanto na Ucrânia.
As crises se avolumaram por anos até desaguar em invasões. As hostilidades entre Ucrânia e Rússia iniciaram em 20[14], quando manifestações populares levaram a queda do então presidente ucraniano Viktor Ianukovytch um aliado do kremlin. A revolta popular conhecida como Euromaidan estoirou ainda em 20[13], depois que Ianukovytch cedeu aos interesses de Putin e se recusou a assinar um acordo de aproximação com a União Europeia [EU] como queria a maior parte dos ucranianos. Moscovo reagiu a destituição do aliado anexando até então ucraniana Crimeia e passou a apoiar as actividades militares de separatistas russos nas províncias de Lugansk e Donetsk.
Há oito anos a região é palco dum conflito que já matou [5,7] mil soldados separatistas russos e [4,6] mil militares ucranianos. Sem respaldo internacional o Presidente Putin classifica a situação como genocídio. De lá para cá a Ucrânia fez três eleições democrática elegendo três líderes diferentes, todos distantes da Rússia, que não mais conseguiu estabelecer aliados no poder em Kíev. Volodymyr Zelensky o actual presidente chegou ao poder em 20[19] em uma curta carreira política catapultada pelo papel de presidente que ele interpretou como ator e comediante na tevê.
Zelensky, vinha tentando estreitar laços com a EU e a NATO o que desagradava Presidente Putin para quem uma possível entrada da Ucrânia na NATO representaria uma ameaça para a soberania russa.
O Iraque, por sua vez, era governado havia quase três décadas por Saddam Hussein, enquanto ele limitava os controlos da população e dos demais poderes sobre seu Governo, gradualmente convertido em aristocracia tentava expandir os limites de sua influência e do próprio território iraquiano. Nos anos [80] Saddam empreenderam uma guerra com irão, que pretendia também combater grupos populacionais iraquianos aquém o governante via como ameaça. Em [88] tropas de Saddam lançaram bombas de gás [venenoso] sobre a cidade de maioria curda arabija na fronteira com o irão. O episódio que matou ao menos [5] mil pessoas foi considerado o maior ataque de armas químicas do período moderno.
Esse evento escandalizou a comunidade internacional e seria central para explicar o que aconteceria com o país quinze anos mais tarde. Segundo Weiner «o Conselho de Segurança da ONU adoptou dezenas de resoluções entre 1990 e 2003 condenando o Iraque. Não só Saddam virou um pária… mas o Iraque passou a ser visto pela comunidade internacional como um país que violava…suas obrigações e representava uma ameaça à paz e à segurança internacionais».
Depois, com a guerra com irão, Saddan ainda tentou anexar o vizinho Kuwait, momento em que as tropas americanas e da NATO enfrentaram directamente pela primeira vez os militares iraquianos e os derrotaram. Mas, a perspectiva, de que, os americanos agissem militarmente no Iraque só passou a ser real, depois dos ataques de [11] de Setembro, quando o Governo George.W.Bush, inclui o país no chamado eixo do mal como um Estado abrigo, do que, chamaram de terroristas e produtores de armas químicas. Ora, o problema é que as evidências disso eram frágeis, Saddan não tinha relação com os ataques de [11] de Setembro e os americanos não mostraram provas dos supostos stok’s iraquianos de armas químicas, que já mais foram encontrados depois da dessava dos EU no pais.
E destarte, nem a ONU, e nem a NATO aceitaram apoiar a empreitada.
Javed Ali cientista político da Universidade de Michigan e ex-analista do FBI com actuação no Conselho de Segurança Nacional dos EU diz o seguinte sobre o assunto: «é fácil entender por que as pessoas pensam que os EU não têm moral alto para
criticar ou punir a Rússia com base no que fizemos no Iraque. Cometemos erros tremendos na guerra do Iraque. A própria decisão de ir à guerra em 2003 foi um erro, já que não era uma guerra necessária na época, apesar do sofrimento do povo iraquiano sob o Governo de Saddam Hussein. E além de tudo, revelou-se que as justificativas para a acção eram falhas ou não sólidas o suficiente. Há algumas lições realmente dolorosas que os EU aprenderam com a guerra do iaque, e parece que Putin está cometendo exactamente os mesmos erros de cálculo».
Diante disso, como reagiu a comunidade internacional em cada caso. A acção americana no Iraque rachou a NATO, enfraqueceu publicamente a ONU cuja decisão foi desrespeitada. Em Setembro de 20[04], o então Secretário-geral das ONU Koff Annan afirmou que a invasão americana tinha sido ilegal, curiosamente um dos líderes da resistência na ONU da ofensiva americana no Iraque foi o Presidente russo Vládimir Putin.
(Continua…)