Cidadãos que se juntaram às Forças de Defesa e Segurança contra os ataques armados dizem que só descansarão quando o último terrorista for derrotado. Governo local admite importância do envolvimento dos populares.
João Mussa é o homem encarregue de comandar a Força Local no distrito de Nangade, um dos locais que ainda continua a registar ataques terroristas em Cabo Delgado.
Combateu durante cerca de 10 anos na luta de libertação nacional e desmobilizou-se após a conquista da independência. Mas a consciência patriótica levou-o a voltar a vestir a farda e a empunhar a arma, desta vez para lutar contra um novo e perigoso inimigo.
"Nós estamos decididos [a lutar contra os terroristas]. Até quando nós, os próprios pais, morrermos, os nossos filhos vão ocupar essa posição de elementos da Força Local. O nosso objetivo final é eliminar o inimigo [terroristas]”, disse à DW João Mussa, membro da Força Local.
Jovens também aderiram
Para além de antigos combatentes, a Força Local junta também jovens que, dia e noite, trabalham em toda a extensão territorial dos respetivos distritos para prevenir novos ataques através da vigilância, desmantelamento e perseguição de ações terroristas.
Embora enfrente dificuldades de ordem material, o grupo está determinado a não descansar até à eliminação completa da violência em Cabo Delgado.
"Estamos eliminando [os terroristas] aos poucos. E estamos a tentar acabar com eles", frisa.
A Força Local é suportada pela Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLIN) e trabalha em coordenação com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS) e as tropas estrangeiras que combatem os insurgentes no norte do país.
Governo admite importante ajuda
As autoridades reconhecem o trabalho da Força Local na estabilização de Cabo Delgado, numa altura em que a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) admite que a ameaça terrorista ainda permanece. António Supeia, secretário de Estado nesta província, assinala que o empenho do grupo, em colaboração com as outras forças envolvidas no combate ao extremismo violento, tem permitido o restabelecimento da paz.
"Vocês trabalham debaixo da chuva, trabalham debaixo do sol, fazem grandes distâncias para combater e desalojar o terrorista. É por isso que hoje o terrorista anda de um lado para o outro. Vocês, de forma determinada e heróica, têm combatido o terrorista. O terrorista tem medo de vocês", refere o governante.
O trabalho da Força Local é também visto e aplaudido pelos habitantes de Nangade. Estes dizem que por culpa dos ataques muitos projetos e atividades ficaram estagnados. Aufi Apadre, um jovem residente, espera que, com a determinação dos que estão na linha da frente, dias melhores possam regressar ao distrito.
"Na qualidade de jovem, neste momento preocupa-nos a insegurança. Queremos que haja tranquilidade no nosso distrito para haver desenvolvimento para os jovens. Tivemos alguns jovens que faziam negócios aqui [em Nangade], que saíram por causa da situação e estão a desenvolvê-lo noutra zona, onde há segurança", comentou o jovem.
Mais de 784 mil pessoas fugiram desde o início dos ataques armados, em 2017, em Cabo Delgado, segundo estimativas da Organização Internacional das Migrações. Pelo menos, 4.000 pessoas morreram.
DW – 24.05.2022
NOTA:” (João Mussa) Combateu durante cerca de 10 anos na luta de libertação nacional e desmobilizou-se após a conquista da independência.” Deveria ter 30 anos na altura da independência. Terá agora mais de 75 anos. Não parece, bem como os outros nas fotos. Mas há algo que me intriga: Porque será a força local quase só composta por macondes? Já alguns morreram em combate. Como foram tratadas e enquadradas as suas consequências?
As “milícias” da auto-defesa dos aldeamentos no tempo colonial não conheciam etnias. Mas…”abaixo o tribalismo”!
Fernando Gil
Macua de moçambique