ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Logo após a Rússia invadir a Ucrânia no dia [24] de Fevereiro, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, fez um pronunciamento aflito dizendo, que seu país tinha sido abandonado referindo, que a Ucrânia estava combatendo a invasão russa apenas com as armas que já estavam em seu arsenal. E de facto, daquilo que foi possível observar antes da invasão russa, a Ucrânia tinha recebido apenas umas poucas centenas de lançadores de misseis antitanques e antiaéreos com países como Alemanha limitando-se a enviar capacetes.
Isso mostra que quando a Rússia atacou a Ucrânia, não tinha muito mais armas, do que, aquelas que já tinha acumulado ao longo dos meses e anos anteriores, com quase [200] mil soldados russos avançando pelo Norte, Nordeste, Leste e Sul, as perspectivas para o Governo de Kíev nos primeiros dias da invasão eram muito sombrias. Até o quarto ou quinto dia da guerra as potenciais ocidentais [imperialistas], que bem pouco tempo, antes estava fazendo discursos de apoio a Ucrânia em caso de guerra se calaram ou diminuíram a intensidade e a amplitude dos seus discursos de apoio.
Quem segue o conflito ou a guerra na Europa sabe que naqueles dias, eu acompanho a invasão russa praticamente, minuto a minuto, e também acompanho as declarações dos Estados Unidos [EU], Inglaterra, NATO e União Europeia [EU] e a impressão com a qual eu fiquei é que, todos esses países sem excepção entraram em uma espécie de modo de 'stand bay' com o receio de agir a favor da Ucrânia, pois, lá no fundo àqueles países achavam que a Rússia fosse vencer a guerra em poucos dias. Mas, no final de Fevereiro, e principalmente no iniciou de Março, tornou-se óbvio para o mundo, que apesar dos grandes avanços russos as principais cidades ucranianas como Kíev, Kharkiv e Odessa estavam aguentando o impacto inicial.
Por exemplo, no iniciou de Março, já era consenso entre os países, que a Ucrânia tinha sim alguma 'chance' de evitar a dominação completa russa do seu território e só foi então, a partir daquele momento que países como os EU, Inglaterra, Países Bálticos, Polónia e Alemanha começaram efectivamente a enviar grandes ajudas matérias para Ucrânia, principalmente sob a forma de lançadores de misseis antitanques e antiaéreos. E agora a guerra completando mais de [80] dias, após terem constatado no terreno a forma desesperada com a qual os ucranianos estão se defendendo, muitos outros países mergulharam de cabeça no envio de ajuda material e logística para Ucrânia com a Austrália anunciando envio de [20] carros de combate, a Eslováquia enviando sistema completo da defesa antiaérea [S300] de médio e longo, a República Checa enviando carros de combate [T72] e veículos blindados de transporte de tropas e com a Inglaterra anunciando semana passada o envio de [120] veículos blindados, além dum reforço no envio de lançadores de mísseis antitanque, antinavio e antiaéreos.
De facto, se a Ucrânia, nos primeiros quatro ou cinco dias da invasão estava efectivamente lutando sozinha contra a Rússia, neste momento o que vemos ali é uma autêntica guerra por procuração entre os EU, NATO, UE e outros países aliados contra a Rússia. E para quem não está familiarizado com o termo uma guerra por procuração é quando duas grandes potências militares se enfrentam [indirectamente] no campo de batalha.
Lembrando, que a história recente está repleta de casos de guerra por procuração como por exemplo, a guerra da Coreia nos anos [50] que colocou de um lado os EU e a ONU, do outro lado, a China e a União Soviética [US]. A guerra do Vietnam entre os anos [60] / [70] é um outro exemplo clássico de guerra por procuração com os EU, de um lado, enfrentando a US que armou e equipou o Exército Norte vietnamita.
Nos anos [80], quando os soviéticos invadiram o Afeganistão países como EU e China, na época um grande inimigo soviético armaram os afegãos até aos dentes com granadas antitanques [RG7] ou bazzouk, e principalmente com mísseis antiaéreos. E agora no século [XX], também vemos guerras por procuração como que está acontecendo no Iémen, com Irão financiando e armando os Iemenitas para atacar o seu grande inimigo a Arábia Saudita.
A guerra na Ucrânia tem hoje todas as características duma guerra por procuração com diversos países e bloco de países declarando apoio diplomático, financeiro e logístico para um dos lados, mas sem se 'comprometer’ com o envio de tropas, que é justamente o que diferencia um confronte directo dum confronto indirecto entre as grandes potências.
Um facto curioso é que, desde o fim da segunda guerra mundial, a Rússia e os EU nunca se enfrentaram directamente no campo de batalha, em nenhum momento em quase [80] anos a Rússia ameaçou ou pressionou militarmente algum membro da NATO, e em nenhum momento os EU ou algum membro da NATO pressionou militarmente a Rússia ou algum aliado russo.
Mas, os enfrentamentos indirectos, as tais guerras por procuração foram várias com isso voltando a acontecer nesse exacto momento na Ucrânia.
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [17] de Maio 20[22]