Por Edwin Hounnou
Estamos numa encruzilhada. Apesar de possuirmos recursos como carvão natural, ouro, grafite, uma longa costa marítima, gás natural, cinco portos de águas profundas, florestas em todo o território, mais de 60 rios com curso de corrente permanente, a terceira barragem do mundo de geração de electricidade, areias pesadas, mais de 36 milhões de terra arável, uma riqueza faunística incalculável, porém, ainda somos pobres. Continuaremos a pedir dinheiro para pagar salários ao presidente, aos deputados, governantes, funcionários públicos, etc. Vamos pedir dinheiro para fazer estradas, pontes, escolas e centros de saúde. De mão estendida, pedimos medicamentos, livros para os nossos meninos do ensino primário. Os nossos recursos serão motivo para nos digladiarmos uns aos outros por eles enriquecerem a um punhado de privilegiados.
Nada justifica que um país pleno de recursos de toda a espécie continue pobre e de mão estendida para tudo quanto precisar como para erguer infraestruturas, prover serviços básicos de saúde ao povo e educação. É possível reverter a história do nosso país caracterizada por corrupção, roubos de fundos públicos, extorsão e de chorudas comissões nas empreitadas do Estado para um desenvolvimento efectivo. O caminho a percorrer ainda é longo. O gás de Pande e do Rovuma deveriam servir os nossos interesses, antes de encher os bolsos das multinacionais e das elites políticas da Frelimo. Exploram carvão mineral de Tete, mas o povo continua na pobreza e coberto de poeira. Não sabemos a quem beneficia o gás de Pande, porém, temos a certeza de que o povo não está a tirar proveito. As areias pesadas de Moma, em Nampula, e de Chibuto, em Gaza, que só deixam buracos e não benefícios. A construção de um posto de saúde, de uma sala de aulas, distribuir enxadas, catanas e sementes, não satisfazem o povo com essas migalhas que caem da mesa das multinacionais que exploram nossos recursos.
Por que somos ainda pobres apesar de tantos recursos que possuímos? O que está mal entre nós? Não somos predestinados a vivermos pobres pelo resta da vida. Não estamos à pobreza. Podemos sair da pobreza e precisamos de pensar as razões que nos mantêm nas masmorras da pobreza. Não podemos pensar que estamos condenados à pobreza. Recusemo-nos a viver na pobreza e o roubar não é nenhuma solução para fugirmos da pobreza, como nos indicava um certo discurso. Trabalho é o único caminho. Precisamos de um líder visionário e dedicado ao trabalho para que seja seguido pelo povo. A boa governação é uma questão que não deve ser negociada. Queremos ser bem conduzidos para chegarmos seguros ao nosso destino que se chama desenvolvimento. Temos o país sem estradas, sem escolas, nem centros de saúde de qualidade por não termos governantes de qualidade. Quando um chapa-100 anda mal e provoca acidentes, a culpa não pode ser dos passageiros, do motorista e de mais ninguém. Os pronunciamentos a dizer que somos pobres por sermos preguiçosos, são falsos e, totalmente, infundados.
Os governos da Frelimo, que têm o leme do país desde 1975, ano da independência, são os maiores culpados pelo nosso atraso socioecónomico. O refúgio no colonialismo e na guerra serve para esconder a incompetência e incúria da Frelimo e de seus governos. Assistimos a constante saques a fundos públicos por gatunos e caloteiros, operam esquadrões da morte para silenciar vozes discordantes. Há governantes de todos os escalões que inflacionam os contratos do Estado, para ficarem com nosso dinheiro. Não haverá desenvolvimento enquanto o país continuar dirigido por contrabandistas que contrataram dívidas ocultas e paralisaram a nossa economia, mesmo assim continuam de olho virados ao poder. Tudo devemos fazer para afastá-los da direcção do nosso país.
O presidente e seus ministros aumentaram seus salários em dobro. O presidente dos 400 leva agora 800 mil meticais. Os ministros que encaixavam 280 passam a levar 400 mil meticais. Os trabalhadores tiveram um aumento entre 4.5% a 7.5%, que resulta em cerca de cinco mil meticais, o que dá para comprar um frango de 1.5kg ou dois quilos de carapau de tamanho 16. O governo diz que o aumento salarial é de acordo com o desempenho da economia por sector. O governo tem uma fábrica de dinheiro só para si? Qual é o sector que proporciona tanto dinheiro assim ao governo? É uma anedota!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 18.05.2022