ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Se você prestar atenção na sociedade é a parte de baixo que faz tudo.
Quem é que planta tudo que se come? É mão pobre.
Quem costura todas roupas, que se vestem de marca ou não, é a mão pobre.
Quem é que bate a calçada, quem é que bate os tijolos, uns em cima de outros; quem permite que a Universidade funcione é tudo pobre.
Quem recolhe o lixo, quem cata os feridos e leva para o hospital, quem os recebe no hospital, tudo pobre!
Então, os pobres são a base da sociedade.
Quem é que liga as maquinas? São os pobres.
Você pega o sistema tributário. Quem é que financia o Estado? A massa contribuinte sai do consumo, então o pobre financia o Estado.
Os pobres construem; eles botam para funcionar, eles mantém, reparam, eles sustentam o Estado, e no entanto, são enganados, são inferiorizados, são sabotados, têm seus direitos humanos negados, seus direitos fundamentais negados…são colocados em uso como se fossem animais, é ali, que é preciso tomar consciência de classe, porque é ali que está a força da sociedade, só que, está inconsciente.
Para isso, nega-se a instrução, nega-se a educação como no sistema esclavagista; o escravo não pode saber ler, não pode ter instrução, porque se não, ele se esclarece e se revolta, é isso que acontece na minha visão.
A parte mais importante da comunicação é o receptor, então não adianta falar em paradigma, não adianta falar em academia, porque a academia foi formulada para servir de cerca de aluno esfarrapado, além disso, o conhecimento não é o que está para a maioria para não dar acesso, é preciso pegar essa cerca e derruba-la.
O Einstein, já dizia, se você não consegue falar para sua avó o que você acabou de aprender, então você não entendeu nada! Você tem que falar a língua do ignorante, porque ele foi ignorantizado. Quando eu estou diante dum tipo 'desdentado, analfabeto' eu não estou diante dum inferior, eu estou sim diante duma vítima de crime social, a sociedade é criminosa!
Se eu tive meus direitos desrespeitados, eu tenho uma dívida com essa gente, logo não tenho superioridade nenhuma, eu tenho sim uma responsabilidade à mais, eu tenho que ser mais 'tolerante', eu tenho que aprender a falar língua dele, para mostrar para ele, que não é inferior coisa nenhuma ele é a base da sociedade e é o mais forte de todos. Por isso, a dependência dos de cima dos de baixo, eles dependem dos debaixo e aí eles procuram inferiorizar para os de baixo não terem consciência de classe.
E, às vezes eu fico pensado que moral tem «um cara», que paga uma pessoa um salário que ele já mais aceitaria para fazer o que «esse cara» sabe fazer, e no entanto, isso é um lugar-comum. E o empresário diz háaa…eu dou emprego! Você não dá emprego coisa nenhum, você explora as pessoas, paga o mínimo, corta direitos trabalhistas, e ainda olha para as pessoas com desprezo. Isso… é desumano!
De facto, a culpa é que a sociedade não tem humanidade; a humanidade está na periferia que divide o último pão sem pensar. Isso é que bonito!
Eu nasci na [elite] mas… eu fui encontrar parte mais linda da humanidade na periferia; pedindo comida, dormindo no chão ali, eu encontrei a humanidade mais bonita, só que, eu percebi ali está todo o mundo ignorantizado, sabotado, [puta sacanagem] e ai, eu decidi, prefiro falar com os debaixo para mostrar que eles não são tão fracos e não são tão inferiores.
Por isso, os mais fortes é que estão inconscientes, é preciso mostrar para os mais fortes que eles são, porque eles não sabem, a sociedade não os deixa saber.
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [02] de Maio de 20[22]