ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Por causa da invasão russa na Ucrânia no dia [24] de Fevereiro, muitos países impuseram duras e pesadas sanções contra a Rússia, sanções que vão desde o afastamento da qualificação da selecção principal de futebol ao mundial do Qatar, a interrupção na emissão de vistos, passando pelo bloqueio de bens e contas bancárias de líderes políticos e personalidades de destaque e chegando até mesmo ao banimento da compra de alguns produtos.
Por causa da guerra, a Rússia é hoje o país mais sancionado do mundo todo ultrapassando de longe a Coreia do Norte e o Irão países, que ao longo dos últimos anos foram acumulando sanções muito por culpa dos seus respectivos programas de mísseis e de armas nucleares.
Mas, porquê as sanções não evitam guerras?
O caso mais clássico que efectivamente comprova que sanções não evitam guerras aconteceu entre 19[40] / 19[41] entre os Estados Unidos [EU] e o Japão. Em 19[40] o Japão estava envolvido em uma guerra terrível e sangrenta na China com quase dois milhões de soldados japoneses ocupando toda Manchúria e outras regiões chinesas com aquela presença militar resultando em crimes de guerra terríveis e na morte entre 19[32] / 19[40] de quase cinco milhões de chineses.
Além disso, o Japão estava-se aproximando da Alemanha e da Itália, assinando em Setembro de 19[40] o chamado Pacto Tripartido nascendo destarte naquela ano o Eixo. O aumento da influência japonesa na Ásia e no Pacífico, também estava ameaçando as Colónias europeias e dos EU naquela região com o Japão apresentando, a partir do final de 19[40] um discurso cada vez mais belicistas e ameaçador culminando em Setembro de 19[40] na entrada do Japão na Indochina francesa , um movimento que espalhou pânico na Europa e nos EU, que viram nisso a confirmação da política imperialista japonesa na Ásia.
Tudo isso levou o Presidente Roosevelt, a impor duras sanções contra o Japão, incluindo embargo a venda de sucata de metal e o encerramento do Canal do Panamá a navios japoneses. Essas sanções atingiram Tóquio em cheio, já que, naquela época quase [75%] da sucata de ferro consumida no Japão vinha dos EU e com o acesso pelo Canal de Panamá fechado o Japão deixou de ter acesso directo ao cobre que comprava de portos na Costa Leste dos EU.
Contudo, essas sanções ao invés de trazerem japoneses para mesa de negociações os afastaram ainda mais com o Japão expandindo a sua ocupação da indochina com tropas japonesas passando ameaçar a importante Colónia inglesas da Malaia.
Com as tensões subindo e com o Japão aumentando ainda mais a sua agressividade, o Presidente Roosevelt, decidiu impor ainda mais sanções congelando todos os bens japoneses nos EU em Julho de 19[41] e em Agosto proibindo a venda de petróleo e gasolina para o Japão. Essas últimas sanções foram brutais para a economia japonesa porque naquela época mais de [70%] do petróleo consumido no Japão vinha dos EU.
De acordo com os registos da época, as reservas japonesas de petróleo dariam para no máximo dois anos de guerra na China. Por causa de todas essas sanções e como o Japão não queria perder os territórios conquistados na Indochina e principalmente na China, os japoneses totalmente encurralados só viram uma solução; tomar a força os recursos que os EU se recusavam a vender amigavelmente. E foi por isso, que no dia [7] de Dezembro de 19[41] o Japão atacou a base aeronaval de Pearl Harbor no Hawaii e quase uma dezena de outros alvos na Ásia e no Pacifico, tudo com o objectivo de capturar territórios ricos nas matérias primas que tinham sido embargadas pelos EU nos meses anteriores.
O que aconteceu entre 19[40] / 19[41] entre os EU e o Japão com sanções cada vez mais fortes encurralando um país naturalmente belicista, provou que aplicação de sanções mesmo que sejam muito duras e punitivas não impedem uma guerra ou a sua continuação.
Agora mesmo no século [XXI], também há exemplos claros de como as sanções não funcionam como por exemplo; na Coreia do Norte. No início desse século era + evidente que os norte-coreanos estavam perto de testarem uma bomba atómica e por isso muitos países liderados pelo EU aplicaram pesadas sanções contra aquele país com objectivo de impedir os norte-coreanos de desenvolverem esse tipo de arma.
No entanto, apesar de serem sanções muito pesadas e duras em 20[06], a Coreia do Norte, testou com muito sucesso o seu primeiro engenho explosivo nuclear e, apesar do aumento exponencial das sanções em resposta a esse teste, os norte-coreanos continuaram evoluindo no seu programa nuclear e mesmo com o país estando financeira e comercialmente isolado do resto do mundo em 20[17], testaram uma bomba de hidrogénio miniaturizada e misseis balísticos intercontinentais capazes de atingir praticamente qualquer ponto do território dos EU.
O irão, um país, também muito sancionado, por causa do seu programa nuclear e de mísseis, segue também de perto o caminho da Coreia do Norte. Em 19[40] / 19[41] quando as sanções impostas pelos EU praticamente empurraram o Japão para a guerra e as sanções aplicadas contra a Coreia do Norte, nas últimas duas décadas que não impediram aquele país de ter mísseis balísticos e armas nucleares, mostra claramente que as sanções não impedem guerras, e não impedem os países de obterem aquilo que querem, uma vez que, duma forma e de outra se um país realmente quiser algo encontrará alguma 'artimanha' de contornar as sanções para alcançar esse objectivo.
Agora em Abril de 20[22], a Rússia é o país mais sancionado do mundo todo, sanções que foram aplicadas para desencorajar os russos na sua invasão da Ucrânia, apesar de afectar em muito a economia dos países onde são aplicadas com o Banco Mundial prevendo uma contracção de [11%] na economia russa neste ano, essas sanções não serão suficientes para expulsar a Rússia da Ucrânia e acabar com a guerra.
Moscovo, pode não conseguir compensar totalmente as sanções, mas com certeza encontrarão alguma forma de manter a sua economia activa e consequentemente de manter a guerra na Ucrânia.
Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [15] de Maio de 20[22]