ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Não conseguir se alimentar pelo menos uma vez ao dia, tem-se tornado cada vez mais a realidade de muitos moçambicanos. Hoje, a quantidade de pessoas passando fome em Moçambique é, em torno de [1,38] milhões de pessoas, uma realidade que já tinha-se intensificado antes da pandemia e piorou muito com ela. Agora, como é que é possível Moçambique, sendo um dos países com óptimas condições para produção da comida tenha gente ou parte da sua população passando fome?
Moçambique, esta localizado no Continente africano, mais especificamente na Costa oriental da África Austral, tendo [801,590 Km²], com [30.832.244] de habitantes. Faz fronteira ao Norte com a Tanzânia; a Noroeste com o Malawi e a Zâmbia; a Oeste com o Zimbabwe; a Sul com África do Sul e a Suazilândia e a Leste faz fronteira com o Oceano Indico designadamente por Canal de Moçambique.
No ano de 20[15] / 20[22] a 'pobreza' aumentou grandemente no pais, são um pouco mais de [1,38] milhões de moçambicanos, [16]% da população que são considerados pobres. Ou seja, a renda per capita, familiar é menor do que [5,5] dólares ao dia. O que isso quer dizer? Que somando a renda de todos os membros da família e dividir por cada um deles, o tanto de dinheiro que tem em cada família proporcional a cada membro em torno dá no máximo de [350] meticais por mês. É muito pouco!
E dentro dos que são considerados mais pobres está a 'extrema pobreza', que são aqueles que recebem menos de [1, 9] dólar por dia. Ou seja, cada membro da família têm menos do que [200] / [325] meticais por mês para sobreviver e, tem muita gente nessa situação no país, alguns milhões.
Para piorar a situação, enquanto as pessoas estão perdendo seu emprego, enquanto as pessoas estão recebendo menos, de outro lado, a inflação dos alimentos disparou em 20[22], chegando a inflação dos alimentos de [10 / 11% ]. Isso significa que com tanto de dinheiro que você comprava de comida no iniciou de 20[22] já não dá para comprar a mesma quantidade agora no mês de Julho, tem coisa que você já não vai conseguir mais comprar e um dos exemplos é o arroz que subiu em torno de [10%]. É muito!
Agora o mais incrível é que, o pão subiu [15,6%]. De mais! E é algo que é essencial e isso está impactando grandemente o moçambicano e especialmente os mais pobres.
Em 20[19], [821] milhões de pessoas no mundo sofria algum tipo de insegurança alimentar, mas destas [149] milhões passavam fome ou morriam literalmente de fome, com a pandemia e não só, esse número disparou e muito isso vai fazer com que, em Moçambique actualmente [1,38] milhões de pessoas estejam passando fome; literalmente têm dias que não conseguem comer. E é triste essa realidade!
[1,38] milhões de pessoas que não têm segurança alimentar. E o que é a segurança alimentar? Segurança alimentar é quando a pessoa consegue em todos os momentos ter acesso alimentos, a quantidade que quer, em boa qualidade podendo-se alimentar nutricionalmente adequado [bem] às necessidades básicas que tem cada ser humano.
Quer dizer, segurança alimentar é, quando você pode comer quanto quiser, quando quiser, e se quiser e como deve ser nutricionalmente se alimentar de carboidratros, lipídios, proteínas, vitaminas proporcional às necessidades do corpo.
Agora, realidade triste é que em Moçambique, [1,38] milhões de pessoas têm segurança alimentar, mas não conseguem se alimentar exactamente como deveria ser. E a insegurança alimentar pode ser dividida em [3] tipos:
A primeira leve; que é quando a pessoas tem a preocupação se realmente vai ter o alimento para comer, faltando em algumas situações parte dos alimentos nutricionalmente necessários, ou seja, a pessoas não vai comer uma fruta, não vai comer uma carne, peixe enfim… não vai comer algo que é necessário para que o seu corpo esteja balanceado nutricionalmente.
Já a insegurança alimentar moderada é quando a pessoa não consegue se alimentar na quantidade que é adequada. Por exemplo; não consegue fazer as [3] refeições do dia, ou, se consegue fazer as [3] refeições do dia, não consegue se alimentar na qualidade adequada comendo muito mais carboidratos que é muito barato e deixando de comer proteínas, e vitaminas, destarte a pessoa fica subnutrida [desnutrida]. Um exemplo disso, é você tomar um chá com pão de manhã; comer um prato com batata e arroz ao meio dia, e a noite comer xima com peixe seco. As proporções de carboidratos são muito maiores do que dos outros nutrientes que também são necessários para o nosso organismo.
E, por fim temos a insegurança alimentar aguda, que é quando a pessoa tem dias que não consegue se alimentar; não consegue nem fazer nem uma refeição e, é nessa situação que temos [1,38] milhões de moçambicanos que estão passando fome, tem dias que não conseguem se alimentar. E as desigualdades que temos nas diferentes regiões do país são também reflectidas nessa insegurança alimentar nesse quadro, nesse mapa tristonho da fome. Sendo que, [35% ] da população da região Norte do país passa fome , [6%] da população do Nordeste passa fome, [23%] da população do Centro-Oeste passa fome e no Sul e Sudeste [19%] da população também esta em condição de passar fome, ficar sem comer durante um dia ou mais dias.
O pior é que, enquanto temos essa grande 'porção' de moçambicanos passando fome no nosso país, Moçambique é um dos países da África e do mundo com excelentes condições para produção e exportação de alimentos só ficando na região da África Austral, atrás da África do Sul. Ou seja, nós produzimos alimentos e exportamos comida que dá para alimentar [30.832.244] de pessoas no país. De facto, isso, mostra que o problema da fome no mundo, mas principalmente em Moçambique, não é que falte alimentos, e sim, que tem problemas na distribuição desses alimentos para toda a população, problema gerado pela perda e pelo desperdício dos alimentos.
A perda é, quando acontece um descarte não intencional dos alimentos e, isso é gerado pela falta duma 'estrutura' apropriada para o transporte, para manutenção, para a colheita desses alimentos. Mas, o desperdício é descartar alimentos que ainda tem valor e, está relacionado principalmente com o comportamento dos comerciantes e dos consumidores. Por exemplo, é deixar vencer o prazo dos alimentos na prateleira, é comprar alimentos em excesso e atirar para o lixo, é preparar muita comida do que o necessário, depois ter que descartar. Enfim, são alguns exemplos que levam ao desperdício de alimentos no país.
Moçambique está na lista dos países que mais desperdiça alimentos no mundo gerando descarte de aproximadamente quase [30] % de todo o que é produzido; a questão que isso não é só um problema de Moçambique. No mundo se acredita que se desperdice em torno de [913] milhões de toneladas de comida, ou seja, [17%] da produção mundial. É muito!
E, quais os alimentos mais desperdiçados pelos moçambicanos: é o arroz e está carro, é o peixe, é o feijão, é a carne de vaca, é o frango, é o tomate, é a cebola, é a batata, é o milho [xima], é a mandioca, é o pão, são as hortaliças, são as frutas. São os alimentos mais desperdiçados pelo moçambicano.
Lembrando, que em Moçambique nós temos [1,38] milhões de pessoas em condições de insegurança alimentar, isso corresponde a mais do que [16] % da população passando fome. E de quem é a culpa? Será que a causa de tamanha desgraça é somente da pandemia? Será que a culpa é do Presidente? Será que a culpa é dos Governadores? Será que a culpa é dos Directores nacionais/províncias, dos Administradores distritais pelas medidas que tomaram do 'fechamento do comércio', será que a culpa é dos vereadores ou talvez dos comerciantes que ficaram mais gananciosos e agora querem mais lucros ou será que a culpa é minha é sua quando desperdiçamos alimentos.
Portanto, independente de quem é a culpa, nós temos que fazer muito mais para sair dessa situação, para melhorar a condição para termos menos irmãos moçambicanos morrendo a fome.
Porque quem tem fome; tem presa!
Manuel Bernardo Gondola
[24] de Julho 20[22]