"E o Presidente, no lugar de falar para toda a Nação, como tem sido quando se trata de reforçar ou abrandar as medidas de combate à Covid-19, só fala para os membros do seu partido"

EUREKA por Laurindos Macuácua

Cartas ao Presidente da República (114)

Presidente: vamos falar da Tabela Salarial Única, vulgo TSU. Não acha que a sua racionalidade é posta em causa? Não acha que o Governo devia explicar detalhadamente seus critérios? As contestações, a cada dia que passa, vão crescendo. O povo até esqueceu que existem moçambicanos, em Cabo Delgado, que dormem ao relento, sem nada para enganar o estômago; e pior: a serem decapitados, tipo cabritos, É só TSU!

E o Presidente, no lugar de falar para toda a Nação, como tem sido quando se trata de reforçar ou abrandar as medidas de combate à Covid-19, só fala para os membros do seu partido. Fê-lo, na quarta-feira, quando disse aos militantes do partido Frelimo que não deveriam 'ficar em pânico" face a inconformidades na aplicação da nova Tabela Salarial Única, garantindo que todos terão os seus salários.

Afinal quem são os reais beneficiários da TSU: funcionários públicos ou militantes da Frelimo? O que o Presidente disse, implicitamente, significa que todo o funcionário público é membro do partido do poder. E isto abre um outro questionamento: no Aparelho de Estado, afinal, os funcionários ainda continuam a ser pressionados a filiarem-se ao partido Frelimo?

Se havia um certo desânimo, por parte dos funcionários militantes do partido Frelimo, muito provavelmente será desta feita- porque satisfeitos com a TSU- que vão, descarada e provocadoramente, acelerar o uso do tempo pago pelo Estado para reali­zarem reuniões de carácter estranho à administração pública com a finalidade de "recensear" quem ainda não é filiado ao partido dos camaradas.

E se antes já amedrontavam, por via de células instaladas no Aparelho de Estado, funcionários que não eram filiados à Frelimo prejudicando a sua progressão na carreira administrativa, agora, encorajados pela TSU, talvez até irão "trabalhar' munidos de chamboco para chamboquear aquele funcionário público que ainda tiver a veleidade de negar a Frelimo.

Em resumo, eu entendo que a TSU é isto: um grande balão de oxigénio para os funcionários militan­tes da Frelimo terem mais fôlego de ajudar o partidão a adornar-se do Estado moçambicano.

Se a TSU fosse para todos os funcionários do Estado, sem distinção da sua cor partidária, o Presi­dente teria dado as explicações que deu aos membros da Frelimo, a todo o povo moçambicano!

DN – 22.07.2022