Prefácio
Cerca de três ou quatro décadas atrás quando alguém, no Brasil, dizia que estudava “África” recebia invariavelmente um olhar de admiração e espanto.
Admiração, pois certamente vinha à cabeça do interlocutor todo o imaginário acerca do “continente das trevas”, exótico, com seus animais portentosos e ferozes e pessoas com hábitos estranhos, bárbaros e desumanos, popularizado pela cultura pop dos gibis e filmes dos heróis Tarzan e Fantasma que, por serem brancos, se acreditava, entendiam melhor a África do que os próprios africanos. Sentia-se certa ponta de inveja; afinal o objeto de estudo fazia reviver as fantasias da infância.
Espanto, pois era preciso muita coragem para escolher tema e área geográfica tão distante quer fisicamente, quer intelectualmente: não havia bibliografia, documentação, interlocutores e nem se adequava aos gostos em moda na academia de então.
Quando dizia que estudava África, na verdade era para esconder que estudava um tema menor, situado num tempo curto e em único país. Se esse país fosse Moçambique, a situação piorava e aí o interlocutor se sentia perdido, pois podia nem mesmo saber onde ficava e, definitivamente, o corajoso era tomado por alguma espécie de hippie do mundo universitário, um outsider.
Com o passar do tempo, a academia brasileira foi “descobrindo” que a África era mais do que a origem de pessoas escravizadas trazidas ao Brasil e, paulatinamente, o estranhamento foi cedendo espaço ao interesse e o conhecimento foi se ampliando e consolidando.
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