Por Edwin Hounnou
Depois dos problemas do livro de Ciências Sociais da sexta classe serem despoletados por alunos, pais e encarregados de educação, outros livros como os de Ciências Sociais da quinta classe e de Matemática da quarta classe, Carmelita Namashulua, Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano, a continuação no cargo, é sinal de que lhe falta a cultura de assumir a culpa dos erros que acontecem nos sector sob à sua responsabilidade. Está inculcada nas elites governamentais a cultura de que ser ministro, governador ou outra coisa qualquer é serviço patriótico, é cumprir ordens superiores e não é servir o Estado e ao Povo.
A disciplina partidária está a matar o pensamento independente dos servidores públicos, está a distorcer a cultura de bem servir. Não há cultura de demissão quando as coisas não correm bem, fica-se à espera que o chefe que o nomeou para o cargo o demita ou exonere. A gravidade dos erros cometidos na elaboração dos livros escolares não podem ser atribuídos à negligência e falta de profissionalismo. O que aconteceu é muito muito grave, ultrapassa a mera negligência e falta de profissionalismo. A comissão de inquérito não foi ao fundo dos problemas. Não desvendou o que estive na origem do descalabro. Apenas simulou.
Para as elites políticas não têm a cultura de estado, jogam as culpa sobre as camadas inferiores. Não assumem os erros que surgem nos seus sectores. É dentro desse contexto que Namashulua se apressa a demitir o director do INDE (Instituto do Desenvolvimento da Educação) e da directora nacional do Ensino Primário e de outros quadros, distribuindo culpas à Porto Editora, dando sinal de que ela é vítima. É santa imaculada. A isso se chama fuga para frente, esquivando-se da responsabilidade política. Mais grave ainda, é o facto de a ministra ter aparecido a ler os supostos resultados que a comissão de inquérito conseguiu apurar essa atitude mostrou ausência de equidistância. A ministra não está imune dos problemas que surgiram. Porquê não permitiu que os jornalistas lhe colocassem perguntas. De que teme a ministra de esperar para responder aos jornalistas? A questão está no que a ministra se esquivou e aquilo que leu serve para adormecer os mais distraídos. Não esclareceu completamente nada.
A comissão de inquérito visava apurar onde começa e termina a responsabilidade dos pequenos envolvidos no barulho. Foi isso o que se viu - a ministra a fugir para frente a sete pés, enumerando, os que têm a culpa no cartório, deixando ela imune, ilesa e imaculada. A ministra consta nos passos subsequentes na avaliação do livro escolar que cabe a ela dar o aval, ou seja, a voz do comando para a impressão. A ministra fica sem nenhuma culpa. Em quaisquer sociedades modernas e civilizadas, Namashulua deveria ter pedido a demissão do cargo e não andar a fazer exibições de escola em escola a mostrar serviço que “desconseguiu" fazer em tempo de trabalho.
Em outros países civilizados governantes demitem-se pela queda de uma ponte. Um governante português deu esse exemplo, embora não fosse ele o responsável pela manutenção daquela infraestrutura, mas deixou o seu cargo pela responsabilidade política. Por uma simples suspeitas de que não estaria a pagar o SISA do terreno a si atribuído, outro ministro português demitiu-se. Mais tarde, veio a provar-se que ele não devia nada ao estado, mesmo assim não voltou ao seu posto. Isso é cultura de estado. Enquanto os nossos governantes lideram as comissões que inquietam a negligência e falta de profissionalismo que eles próprios cometem. Isso constitui uma grande e feia aberração.
Há pouco, uma ponte, na cidade de Tete, foi rompida pela força das águas, um mês depois de ter sido reabilitação e o respectivo ministro esperou que fosse empurrado. As estradas, pontes e escolas não resistiem aos ventos e ninguém é responsabilizado. Tudo fica em família. O segredo de tudo isso está na corrupção que nos fustiga. A vergonha que se assiste na educação se deve à corrupção e não à negligência ou falta de profissionalismo.
Ministra Namashulua coloque o seu cargo à disposição porque lhe falta a liderança! Não se coloca o poder na janela, é preciso exercê-lo. A pouca vergonha que cubra o Presidente da República, Filipe Nyusi, que aceita coabitar com a incompetência e incúria dos seus colaboradores! Vai embora, Carmelita Namashulua!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 20.07.2022