Por Edwin Hounnou
Entre os dias 21 a 22 de Julho foram de um verdadeiro terramoto no atletismo devido à detenção e a eminente deportação do mister luso-moçambicano, Alberto Lário, com alegações de que vive no país com o DIRE caducado. Segundo o visado, ele teria sido denunciado pelo Presidente da Federação Moçambicana do Atletismo, FMA, Kamal Badrú. É pela segunda vez, disse Lário, que Badrú procede de tal forma, movido por interesses mesquinhos a fim de o tramar. O treinador não aceitou acomodar os caprichos de Badrú, como é o caso de integrar atletas do seu agrado em competições internacionais sem os requisitos mínimos exigidos para o efeito.
A verticalidade do mister serviu de petróleo que incendiou o relacionamento entre ambos o que tem culminado com denúncias de que há um estrangeiro ilegal escondido na FMA. Ao invés de ajudar a legalizar a situação do treinador, é o Presidente que procura atear os bons resultados conquistados pelo trabalho do mister. É o cúmulo da vergonha que não chega a cobrir a cara de Badrú. É o insólito que faltava no desporto.
Até aqui, nós pensávamos que qualquer dirigente de nível médio se exultava de alegria com os bons resultados conseguidos pela colectividade que dirige, porém, agora somos brindados por práticas contrárias, confirmando, dessa forma, a regra geral. Os dirigentes ao invés de ficarem contentes com os resultados que os seus técnicos conseguem obter, transformam-se em denunciantes, passam o tempo a bisbilhotar aos ouvidos da polícia para que prendam ou expulsem os treinadores. Esses não são dirigentes desportivos, são agentes/informantes de qualquer coisa infiltrados nas associações desportivas. Estão aí a tempo a parcial. De facto, eles se ocupam de outras coisas e não do desporto, actividade através da qual são conhecidos como dirigentes.
Não é por acaso que se assiste ao derrube de todas as modalidades desportivas. Este tipo de dirigentes ganha com o fracasso dos seus clubes ou das suas associações, como ficou demonstrado neste caso que separa Lário (treinador) de Badrú (dirigente desportivo). A aparição, em público, de atletas com dísticos com dizeres de desagrado é sinal de um mal-estar. A bisbilhotice do dirigente desportivo não só colidiu com os interesses da associação como também passa por cima dos interesses de cada um dos desportistas. Deitou gasolina no seu caminho e lançou fogo.
Lário nasceu na então cidade de Lourenço Marques, hoje Cidade de Maputo. Ainda menor de idade, partiu com os pais para Portugal. Por circunstâncias políticas de então, se tornou cidadão português, mas ele é tão moçambicano quanto a Badrú. Hostilizar um homem nessas condições é a última incabável de um gajo, como dizia Chagwatika Ndzeru, ou seja, Nelson de Sousa. Tramar um cidadão que está a marcar uma diferença abismal no desporto nacional é maningue lixado, como nós dizemos quando somos contrariados por pessoas pouco equilibradas e medíocres que não se importam em passar por cima de qualquer um quando perseguem seus objectivos inconfessáveis.
No entanto, enquanto elaborávamos este artigo, fomos informados que Lário já se encontra em liberdade. Estamos satisfeitos. Lário é um cidadão tão livre quanto Badrú, que tanto o queria tramar. Aproveitamos esta ocasião para apelar às autoridades a fim de facilitarem a tramitação do pedido submetido para tornar Paulo Lário um cidadão moçambicano de pleno direito e de gema, como alguns se consideram.
A solidariedade dos desportistas e público pelo treinador, pedindo ao governo para que não o repatriasse, é sinal de que Badrú queimou os poucos cartuchos que ainda tinha. Deixou-se cercar de pessoas que não o desejam como dirigente desportivo. É tempo de arrumar as malas e voar para outros destinos. Badrú não tem vocação de ser um dirigente desportivo porque meteu água demais. Não tem como encarar os atletas que exibiram cartazes que diziam “Fora Kamal Bradrú” e “Viva Paulo Lário”. A porta que levará Badrú a sair da FMA é tão pequena que terá que se agachar ou rastejar de barriga. O erro foi de tal tamanho que, dificilmente se sentirá à vontade tanto num café ou como em outro lugar público qualquer, por ter “pecado" contra o atletismo que jurou servir.
A contrição para se redimir da família do atletismo vai ser uma grande obra. A partida de Badrú da FMA é urgente para não infectar a modalidade. Por isso, vai embora, Kamal Badrú!
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 27.07.2022