ten-coronel Manuel Bernardo Gondola
Nelson Mandela foi liberto em [11] de Fevereiro de 19[90], depois de [27] anos de prisão. Poucos meses depois em Junho de 19[90], Nelson Mandela fez sua primeira visita aos Estados Unidos da América, onde concedeu esta brilhante entrevista à Rede ABC.
Esta entrevista, causou um impacto forte, ao ponto de ter sido posteriormente seleccionado entre Cem Melhores Entrevistas do Século [XX], cujas implicações e consequências tinham na ocasião. E uma das perguntas a Nelson Mandela foi sobre sua relação com, e seu apoio ao líder histórico palestino Yasser Arafat.
Com grande alcance convido-o a [reler] o pensamento 'fino' desse grande ser humano, Nelson Mandela em excerto da entrevista à Rede ABC em 19[90] com Ted Kopper.
Pergunta (Kenneth Adelman). Aqueles de nós que compartilhamos da sua luta pelos direitos humanos e contra o apartheid, nos desapontamos com os seus modelos de direitos humanos que o senhor defendeu desde que sai da prisão. Se encontrou nos últimos 6 meses 3 vezes com Yasser Arafat. São esses os modelos de líder de direitos humanos? Se são, o senhor gostaria que um Kadhafi, um Arafat ou um Castro fosse um futuro Presente da África do Sul?
Resposta (MANDELA). Um dos erros que alguns analistas políticos cometem é pensar que seus inimigos deveriam ser nossos inimigos. Nossa atitude em relação a qualquer país é determinada pela atitude daquele país com a nossa luta. Yasser Arafat, Coronel Kadhafi e Fidel Castro apoiam nossa luta ao máximo. Eles não só apoiam retoricamente; eles estão alocando recursos a nossa disposição, para nós travarmos a luta. Essa é a nossa posição!
Pergunta. A comunidade cubana, em auxílio te pedem que critique a situação dos direitos humanos em Cuba. O que responde a essa preocupação; por favor.
Resposta (Mandela). Quem são eles? Para estar instando a que se cumpram os direitos humanos em Cuba? Durante [42] anos se mantiveram muito calados…Quando na África do Sul se violavam os direitos humanos. Quem são eles agora…para estarem tão preocupados por direitos humanos? Não lhes preocupou a violência que causou a morte de [10] mil pessoas na África do Sul. Quem são eles para ditar-nos lições acerca de direitos humanos? Se você me responder essa pergunta; então eu lhe responderei.
Pergunta. Queria saber o que pensa sobre a situação em Miami.
Resposta (Mandela). A população de Miami tem o direito de ter sua opinião. Tem direito a ter seus amigos, seus aliados. Isso é questão deles, em momento nenhum nós nos vamos intrometer. O povo sul-africano em geral… e o ANC, em particular têm direito a ter seus amigos e seus aliados. Isso é questão do povo sul-africano em geral e do ANC em particular, não podem se intrometer nessa questão. Cuba é nosso amigo.
E… se a visita a Cuba criou tensões em Miami…, eu lamento porque eu foi a Cuba em espírito de paz…, para visitar a um país que nos tem ajudado muito em nossa luta. No momento em que a população de Miami… não era tão aberta connosco; quando estávamos cercados a lograr o que buscávamos com nossa luta há muita gente que nos deu a mão. Esta não foi a história dos últimos [40] anos. Não só isso. Agora há gente que vem nos assessorar a respeito de Cuba. Gente que havia apoiado o apartheid durante todos esses 40 anos haviam dado ao apartheid sua capacidade para manter a política brutal que lançava contra a maioria da população.
Nenhum homem ou mulher de princípios, pode jamais comportar-se assim e pode aceitar conselhos de pessoas que nos momentos mais difíceis, não se preocuparam por nós. Esses conselhos agora repudiamos. Não podemos repudiar a ajuda daqueles que estiveram a nosso lado desde o começo.
E também quero deixar um registo seguinte: fui convidado para voltar a Miami, depois de ter sido boicotado lá, que mais ou menos lhes dá uma pista do que aconteceu.
Ted Kopper. Senhor Mandela, participam da entrevista o senhor Henry Siegman, junto a outros dois líderes judeus, foram a Genebra visitar ao mesmo tempo que o senhor,
exactamente, porque estavam muito preocupados não apenas com o tipo de coisas que o senhor acabou de dizer antes do intervalo, em relação a Yasser Arafat, em relação ao Coronel Kadhafi da Líbia, mas também pelo apoio que o senhor parece, em diferentes momentos dar à Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Gostaria de pedir ao senhor Siegman para levantar-se por alguns instantes e fazer qualquer pergunta que deseja directamente ao senhor. Senhor Siegman?
Siegman. Acho que eu seria desonesto se não expressasse profundo desapontamento com a resposta que o senhor Mandela deu à pergunta precedente, porque ela sugere um certo grau de amoralidade…
Resposta (Mandela). No que diz respeito a Yasser Arafat, eu expliquei ao senhor Siegman, que nós nos identificamos com a OLP, porque assim como nós, eles estão lutando pelo direito à auto-determinação.
Pergunta (Ted Kopper.). Senhor Mandela, acabamos de ouvir, algumas das coisas que o senhor disse nesta noite, algumas coisas controversas. Não o tipo de coisas necessariamente que um homem muito político dissesse. Se o senhor fosse mais político poderia estar mais preocupado em não se indispor com algumas pessoas deste país, que têm em suas mãos, em seu poder, tanto continuar com as sanções à África do Sul ou levantar estas sanções, acabar com elas.
Porquê o senhor… porquê o senhor não é um pouco mais político? Talvez estejamos muito acostumados aos políticos deste país.
Resposta (Mandela). Eu não entendo o que o senhor quer dizer. Talvez se o senhor esclarecer, a que está se referindo…poderei estar em condições de comentar.
Ted Kopper. Ok. Vou esclarecer ao senhor. O que estou dizendo é que neste país, por exemplo, tem havido há muitos anos, uma estreita aliança entre a população judia e a população negra na luta pelos direitos humanos. É possível que haja uma reacção um tanto negativa para algumas coisas que o senhor disse! Essa reacção poderia muito bem fazer com que as pessoas telefonassem para seus Congressistas, seus Senadores e dissessem: “suspendam as sanções.”
Porque não? Afinal o Presidente de Klerk está fazendo um bom trabalho contra apartheid. Ainda hoje, na verdade, seu número-dois disse que o Governo vê a si próprio, na África do Sul, como sendo parte da luta anti-apartheid!
Resposta (Mandela). No que diz respeito à questão judaica, para começar, tenho mantido conversações, por minha própria iniciativa, com líderes judeus proeminentes para por em ordem essa questão. Entre as pessoas com quem me encontrei estava a senhora Helen Suzman, que é uma Deputada em nosso país há mais de [30] anos. Também o senhor Masons que é um Juiz no Lesotho, em Botswana e na antiga Rodésia. Também o rabino-chefe em Johannesburg. Também o Professor Katz da Universidade de Witwatersand, e um eminente líder comunitário na África do Sul. Discutimos essa questão e todos os mal entendidos foram esclarecidos; a questão de Yasser Arafat e da OLP. Também discuti o assunto com os líderes judeus nos Estados Unidos da América (EUA). Pessoas do topo como o senhor Siegman. Atingimos um entendimento sobre essa questão, nós entramos em acordo.
Bem!... Não sei em que ponto a sua preocupação é maior. Os próprios líderes judeus são capazes de determinar seus próprios interesses. Ninguém mais tem o direito de dizer que líderes judeus devem se preocupar com as suas posições, porque eu tenho conversado com eles e essas conversações chegaram a um consenso.
Porém, há questões, é claro, em que não concordamos! Mas, as posições que nós assumimos como África Nacional Congresso (ANC), pensei termos podido explicar de forma a ter sido removida a preocupação da comunidade judaica.
Vamos trazer isso… Se algum líder judeu tiver quaisquer dúvidas sobre nossa posição, eu estou preparado para confronta-los e acalmar suas preocupações, porque eles são uma comunidade muito importante tanto na África do Sul e, naturalmente, nos Estados Unidos. E estou preparado a resolver quaisquer diferenças que possam existir, mas eles devem saber qual é a nossa posição: Arafat é um camarada de armas e o trataremos como tal.
Temos muitos judeus. Membros da comunidade judia, em nossa luta e eles vêm ocupando altas posições, mas isso não quer dizer que os inimigos de Israel sejam nossos inimigos. Nos recusamos a assumir essa posição.
Pode-se chamar a isso de 'ser político' ou de 'uma questão moral’ , mas… para qualquer um que modifica seus princípios dependendo com quem ele está tratando, não é um homem que possa liderar uma nação (aplausos intermináveis com a plateia de pé).
Aparentemente, senhor Koppel, o senhor não ouviu meu argumento. Se ouviu, então não examinou seriamente. Eu respondi a um nosso amigo aqui, que eu me recusei a ser lançado nas diferenças que existem entre as diversas comunidades dentro dos EUA. O senhor não comentou que eu vou ofender alguém por me recusar a me envolver nos assuntos internos dos EUA… Por que está tão entusiástico para que eu deva-me envolver nos assuntos internos de Cuba e Líbia?
Koppel-Não!
Mandela-Eu espero que o senhor seja consistente!
Tradução e arranjos: Manuel Bernardo Gondola
Em Maputo, aos [21] de Setembro 20[22]