Heureka por Laurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (109)
Moçambique, nos tempos que correm, é castigado por uma tragédia económica, social, política. Carestia, desemprego, fome, pobreza recorde.
O grande responsável por tantas desgraças tem um nome, Partido Frelimo e a sua liderança. E o Presidente da República continua fingindo que não tem culpa no cartório. Às vezes sou obrigado a acreditar que algumas das reacções do Governo da Frelimo às atrocidades que devastam Cabo Delgado, por exemplo, é a hipocrisia a falar muito alto!
Mentir de cara limpa é uma arte na qual a Frelimo e os seus líderes parecem insuperáveis. Há uma frase lapidar atribuída a Abraham Lincoln. É esta: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”.
A máscara do Presidente já começa a desfazer-se, a cair em público. Incontáveis que são as mentiras contadas por este Governo (até negou que havia uma dívida oculta), o Presidente até deve ter se esquecido disto: em Maio de 2015, o Presidente Filipe Nyusi viajou da Beira ao distrito de Chemba via terrestre.
Vendo a vergonha que estava (ou está) a EN1, prometeu que, a curto prazo, iriam arrancar as obras de reabilitação. Não passou de uma mentira esdruxula! A EN1 nunca viu nenhuma reabilitação. Passam sete anos desde a promessa.
Nem a guerra de Cabo Delgado havia começado. E o Presidente, providencialmente, não voltou a tocar no assunto. Esta semana, o Banco Mundial aprovou um apoio de 400 milhões de dólares para o projecto moçambicano Estradas Seguras.
Entre as reabilitações que vão ser custeadas pelo banco destacam-se as obras na Estrada Nacional Número 1 (EN1). Chamei este assunto à correspondência de hoje porque já estou cansado de ouvir isto. Estou a envelhecer ouvindo o mesmo estribilho.
E quem canta é o mesmo cantante: a Frelimo. Eu nem tinha filhos quando, pela primeira vez, ouvi falar-se da reabilitação da EN1. Hoje já os tenho, jogam à bola. Reabilitação da estrada nada. E balúrdios foram drenados em nome dessa estrada.
É escusado perguntar aonde é que foi tanto dinheiro. Nunca nos souberam dizer que destino deram a maior fatia dos dois biliões de dólares!
Mas sentaram o Mutota no banco dos réus. Desamparado, aparecia todos os dias na televisão: cabisbaixo, vestido de roupa laranja, olhar furtivo e uma marmita para a hora do almoço!
Duvido que desta vez as obras arranquem. Para que isso aconteça, é necessário que o Banco Mundial não se limite só a nos dar o dinheiro. É necessário que acompanhe todo o processo da selecçao da empresa que encarregar-se-á pelas obras e que contrate- o banco- a empresa que irá fiscalizar as obras.
Talvez assim possamos chegar a algum lugar! A Frelimo convoca sempre à desconfiança. É como em ocasiões eleitorais. Não basta votar. O eleitor tem de, se necessário, dormir de olhos abertos na assembleia de voto para fiscalizar o destino do seu voto!
Há muito que se possa dizer sobre este partido e os seus sucessivos governos. Mas o espaço que me é dado para esta correspondência semanal não é elástico.
Contudo, vou lembrar-lhe isto: eu considero uma bizarra encenação a recente mudança governamental. Isto não muda uma vírgula na política de preços dos combustíveis e da miséria que afecta os moçambicanos.
É como trocar seis por meia dúzia. Isto só serve para enganar palermas, que infelizmente, proliferam neste tempo obscuro da “pós-verdade”.
DN – 26.08.2022