Por Edwin Hounnou
O General na Reserva Alberto Chipande disse que há, nas instituições públicas, práticas que demonstram a existência de tribalismo, dando preferência a pessoas da tribo ou etnia do dirigente desse sector. Muitos ficaram escandalizados com o tal pronunciamento e chamaram a Chipande de ter feito um tiro sobre os seus pés porque a história oficial atribui a esse veterano da luta de libertação nacional como sendo ele o “homem do primeiro” tiro contra a administração colonial, a 25 de Setembro de 1964.
Não ficamos escandalizados por essa declaração porque o passado da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e agora do Partido Frelimo (desde 1977) é caracterizado por práticas racistas, tribalistas, etnicismo e o regionalistas. A Frelimo canta bem, mas, dança mal. É verdade que o Sul sempre dominou o Centro e Norte, desde os primórdios da FRELIMO até aos dias de hoje. É mentira que Simango era reaccionário. Por que não o levaram à barra de tribunal para ele se defender?
Tanto a FRELIMO de ontem, assim como a Frelimo de hoje, foram e são organizações cujas existências se confundem com práticas discriminatórias. Estamos admirados que um dos seus ícones só se tenha apercebido tarde demais. Chipande sempre integrou o grupo dominante de ontem e de hoje, mas nunca denunciou a existência da dominação de um grupo que discrimina os outros, particularmente, quando não alinha com a sua maneira de pensar e de agir. O livro “Um homem, Uma Causa”, de Barnabé Ncomo, desmascara a postura nojentas da FRELIMO ontem e da Frelimo de hoje.
A forma como um grupo de regionalistas afastou Uria Simango, então Vice-Presidente da FRELIMO, para que não chegasse ao cargo de presidente, depois do assassinato do Doutor Eduardo Mondlane, é, só por si, sintomático. Simango não chegou a presidente pela obstrução que o grupo sulista andou a fazer. A criação do triunvirato para assegurar o funcionamento da FRELIMO visou neutralizar Simango, por ser não do Sul. Se Simango fosse um tsonga teria sido ele o primeiro presidente de Moçambique independente. Isso é dito, de boca pequena, por gente bem colocada na Frelimo. O resto do que ouvimos sobre Simango é um entulho de falsidades. Não corresponde à verdade. É tudo mentira.
A Frelimo determina quem vive e quem tem que morrer. Depois da independência, com os órgãos de justiça instalados em todo o território, os assassinatos políticos nunca pararam. Simango e seus colegas foram regados de gasolina e queimados, ao som de canções revolucionárias, para que não restassem dúvidas de que o grupo assumiu o poder na sua plenitude. Os esquadrões da morte existem nesta lógica macabra.
Conhecemos indivíduos que assassinaram nossos parentes e compatriotas, em nome de uma suposta defesa da pátria. Eles eliminam qualquer sinal de concorrência política.
No primeiro mandato de Filipe Nyusi, os esquadrões da morte foram chamados para eliminarem não só políticos da oposição mas também intelectuais/académicos por defenderem algo tão óbvio como é a descentralização administrativa. Ora, mandar abater alguém por defender a descentralizada do país é tao absurdo quanto o é a institucionalização da figura de secretário de estado na província, que visa, tão-somente, empatar e atrapalhar o governador eleito, caso esse seja da oposição.
Houve tempo que até simples o chefe Posto Administrativo tinha que ser um “viente”. Ao agirem assim, estavam a promover o tribalismo, etnicismo e o regionalismo. Não conhecemos uma etnia ou região só de gente competente e iluminada. Uma breve análise permite concluir de que o grupo de Chipande continua a vedar moçambicanos de pensamento diferente o acesso aos recursos naturais e à oportunidade de negócio. As guerras por que o país tem passado resultam da exclusão feita pelo mesmo grupo.
O grupo de Chipande tem incendiado o país, lançando, sobre o povo, o rastilho de conflitos por julgar que, por ter ganho a guerra pela independência, se tornou o dono dos moçambicanos. O grupo ficou com tudo. O resto é pária, gente sem capacidade. Chipande tem culpa no cartório por ter apadrinhado a exclusão e discriminação fundada na militância político-partidária. O grupo de Chipande corrompeu o sistema judicial para que os graúdos da Frelimo nadem, à vontade, no mar da corrupção. São eles, os grandes da Frelimo, que dinamitam a Unidade Nacional. Chipande acordou tarde demais!
CANAL DE MOÇAMBIQUE