Ontem acompanhei o discurso do Presidente Nyusi num evento com o sector privado e que foi veiculado pela comunicação social, com alguma preocupação!
Fiquei apreensiva quando ele disse " não sei porque a Total ainda não retomou as actividades (em Palma) , porque a situação já está controlada".
Assustou - me muito quando ele afirmou que "falei com o Presidente Kagame para perguntar porque a Total não volta". Mas o grande aperto no meu coração veio quando ele, com alguma leviandade, disse "o terrorismo na termina e a vida continua".
Destes três pontos surgem algumas perguntas para as quais, sinceramente, gostava de ter respostas do próprio Presidente, só para perceber bem se ele estava consciente do que dizia.
- O PR, enquanto Chefe do Estado é que nos deveria dizer porque a Total não está a retomar as actividades. O PR directamente ou através do Ministro dos Recursos Minerais dialoga ou não com a Total sobre a situação no terreno e planos para o futuro? Se o PR não sabe, quem vai saber? Nós?
- Onde é que Kagame entra na exploração dos recursos do nosso país pela Total? É Kagame quem deve informar à Total sobre o ponto de situação da segurança no nosso país? Informar-lhes que podem voltar? É com Kagame que a Total aborda questões relativas à exploração de recursos de Moçambique? Confesso que não entendi porque é que o PR deve ir perguntar à Kagame sobre o Regresso da Total, que tem um contrato de concessão e um plano de desenvolvimento aprovados pelo governo de Moçambique e não do Ruanda. Afinal, bem bem bem, qual é o papel do Ruanda em Moçambique? Não é ajudar, gratuitamente - diga-se, à repelir os insurgentes? Falar sobre retoma da Total entra aonde nos ToR da intervenção do Ruanda a tal ponto?
- Bem bem, quando o PR afirma que a vida continua, mesmo com o terrorismo, está a falar de quem? O objectivo era só fazer a vida continuar para os projectos de gás ou para todo os afectados? É que a vida das famílias deslocadas, afectadas directamente pelo terrorismo não continua, estagnou na incerteza, no medo e no abandono do Estado.
Então, é preciso que o Chefe do Estado, o comandante em chefe, guardião da legalidade e da protecção dos direitos humanos dos cidadãos tenha muito cuidado no uso das palavras quando fala em público. No seu momento de lazer, com seus amigos pode usar palavras e linguagem que quiser. Mas no exercício de funções deve escolher bem as palavras, para não ferir sensibilidades muito abaladas com a situação.