Por Edwin Hounnou
A 04 de Agosto de 2022, Linda Thomas Greenfield, embaixadora dos Estados Unidos da América (EUA), junto às Nações Unidas, disse, em Kampala, capital do Uganda, que os países podem africanos são livres de importar da Rússia, mas podem enfrentar consequências se comercializarem commodities (produtos básicos de matéria-prima) sancionadas pelos EUA. Os países podem comprar produtos agrícolas , tais como petróleo russo comprar produtos agrícolas russos, incluindo fertilizantes e trigo, mas se um pais decide envolver-se com a Rússia onde há sanções, ele estará quebrando essas sanções. Avisamos os países a não quebrarem essas sanções. Se o fizerem, serão tomadas medidas contra eles.
O inimigo dos EUA têm que ser, também, inimigo de África? Os EUA estão a violar o princípio da independência dos estados e está a atropelar a soberania dos Estados membros das Nações Unidas. Serão os EUA a nossa polícia? Estão flagerar a independência e soberania de outros estados. Por que isso acontece? – A culpa é dos governos africanos e não dos EUA.
A África não tem chance para se opor aos desígnios dos EUA devido à sua dependência económica em relação ao Ocidente. Apesar do continente africano ser detentor de todo tipo de matéria-prima, continua a depender dos países ocidentais, incluindo os EUA. Só, por si, a independência política não é suficiente para a África se afirmar no seio das nações e isso resulta das políticas nefastas seguidas pela maioria dos países africanos que fazem com que os africanos vivam de mão estendida para o Ocidente. Vários países africanos, Moçambique incluído, destruíram a sua indústria e sobrevivem de uma agricultura de subsistência, perdendo, desse modo, a sua capacidade de afirmação.
Quando um país não tem a capacidade para se defender dos ventos extremos, ciclones não pode se opor a quem lhe oferece comida e dinheiro para construir escolas, hospitais, centros de saúde e outras infraestruturas. Não tem como não seguir a voz de quem lhe garante a subsistência. Um país que não consegue ter dinheiro para manter em boas condições à sua rede viária e recebe apoios para pagar salários aos seus funcionários, ministros e até para pagar salário do presidente, não tem como contrariar a vontade de quem lhe dá dinheiro para manter o estado em funcionamento.
A vontade política e possuir recursos não bastam para um país ou estado se afirmar. Sem uma economia forte, continuaremos a obedecer comandos de fora. A mão externa de que tanto se fala é a que nos arrasta para não apostarmos na independência económica. No nosso caso, a mão externa se manifesta com a corrupção galopante na administração pública, na má qualidade do ensino, no precário sistema de transporte público e na ineficiência do serviço público em geral.
A mão externa se manifesta pela incapacidade de o governo em elaborar políticas públicas capazes de criar postos de trabalho. A mão externa permite a exportação desenfreada da nossa madeira e não se envergonha em ver as nossas crianças encurvadas ao chão. Para a mão externa o que conta é o dinheiro fácil e não o país. A mão externa mentiu que não havia dívidas ocultas, contratadas para enriquecer uma dúzia de gatos pingados. É a mão externa que mantém o país em instabilidade política permanente. A mão externa correu para fazer a contratação de dívidas ocultas quando ouviu falar que o país vir explorar gás natural.
Quem não tiver uma indústria forte e a agricultura subalternizada, não se opõe quando o patrão intimidar aos ousados. A falta de visão faz de Africa sempre subalterna às vontades dos grandes, incapaz de conduzir os seus destinos. Por exemplo, Moçambique não tem nenhuma espécie de cereais em que possa dizer que produz o suficiente para o seu consumo. Tudo tem que importar. Os tractores e alfaias agrícolas que distribuem como cogumelos em tempo de chuvas, não conferem nenhuma mais-valia à produção. Ao invés de produzirem alimentos, alguns andam a puxar troncos de madeira roubada.
O SUSTENTA por ter uma forte componente político-partidária fica, à partida, condenado à morte. Estamos a vaticinar nada de extraordinário, mas é o que parece o fim da tentativa. Distribuir tractores e alfaias agrícolas a quem nunca conseguiu produzir o suficiente para alimentar a sua família, é um jogo de azar. O governo pode facilitar a aquisição de equipamentos, porém, nunca deveriam ser uma oferta. Isso é politiquice!
CANAL DE MOÇAMBIQUE