Os deslocados acolhidos no distrito de Nacala, província de Nampula, queixam-se de estarem a passar maus momentos, devido a fome, agravada pela suposta falta de apoio alimentar e de terras para a prática da agricultura familiar, por isso pedem devolução às suas terras de origem.
Na semana passada (quarta-feira), chefes de famílias deslocadas naquele distrito, aglomeraram-se no local onde habitualmente recebem donativos, para pedir o governo, a criar condições para a sua devolução às suas regiões de origem, mas infelizmente nenhuma autoridade estava presente.
Foi através dos órgãos de informação locais e redes sociais, que as famílias deslocadas recorreram, não apenas, para pedir ajuda do governo para regresso e apoio alimentar, como também para denunciar suposta cobrança ilícita para as lideranças dos bairros passar-lhes uma credencial, para efeitos de benefício da comida.
No seu desabafo, os deslocados em Nacala, alegaram terem sido “profundamente esquecidos”, quando noutros locais (como Corrane, no distrito de Meconta) ouvem que famílias, como elas, beneficiam de insumos agrícolas e outros apoios.
“Estou aqui em Nacala desde 2020 devido a guerra, mas aqui estamos a sofrer demais, os nossos companheiros deslocados recebem bens, mas nós não e até estão reassentados, todos pedidos às autoridades, eles só dizem que reclamamos, mas nós não quisemos vir aqui, que o governo saiba que estamos com fome, nós dormimos no chão, mesmo acesso de água, temos de comprar e a terra em si temos de comprar, pior ainda uma declaração temos de pagar 500 meticais e como não temos, perdemos”, disse Paulina Vicente, falando em sua língua Shimakonde.
Paulina acrescentou que “eu vivo graças a um dos meus filhos, ele só consegue mandioca seca, na nossa casa estamos a viver 19 pessoas, temos de sacrificar água, comida e como vamos viver? É por isso que estamos a chorar, não sabemos a origem dessa guerra, por isso estamos de joelhos na administradora”.
Niane Abibo, foi a outra interveniente, também falou do sofrimento que passa. “Estou há três anos, aqui em Nacala, estou a sofrer, desde que estou aqui não tenho alegria, mas quando vamos chorar no governo, somos expulsos como gatos, e até dizem que não somos nós que os trouxemos, e das vezes que distribuem comida, chamam poucas pessoas deslocadas e outros são locais e a declaração não vale, estamos desesperados, pedimos ajuda, embora não chega, por favor governo, estamos de joelho”.
Partilhando como vive, Niane contou que “estamos a alugar sim, mas sempre somos expulsos, agora que falo estou com filho doente, dor nas costelas, por causa de dormir no chão, é por isso que estou a pedir ajuda, pelo menos, para chegar em Pemba, ou outro lugar lá em Cabo Delgado, já não interessa se morremos”.
Outra chefe de uma família deslocada, também, na mesma situação é Awa Mandrasse, ela exteriorizou o seu sentimento afirmando que “estou desde 2020, apenas recebi apoio alimentar duas vezes. Quando recebi sempre veio o chefe e tirei um balde de dez quilos para ele, estou aqui com sete filhos, e estou divorciada, vivo numa casa arrendada, mas sempre saio de casa, eu consigo pagar 300,00Mt (trezentos meticais), mas muitos casos cobram 500,00Mt (quinhentos meticais) mensal. O esquema de declaração é vendido pelo secretário do bairro”.
Awa acrescentou que “as vezes sou obrigada a roubar nas machambas de donos, já fui batida e escorraçada por isso, até dita, essa makonde que vá a casa dela, este tem sido o que passo nos últimos dias”.
Embora a nossa redacção, tem indicação de que em alguns pontos da província de Nampula, as famílias deslocadas já estão a beneficiar alimentos, o contexto actual de assistência por parte das organizações humanitárias é de queixa em termos de financiamento, estando elas a angariar recursos.
Recentemente, o Conselho Provincial de Nampula, em parceria com a FAO, iniciaram a alocar insumos agrícolas à famílias deslocadas, mas segundo soube o Ikweli, o programa ainda não abrangeu as famílias deslocadas em Nacala.
IKWELI – 29.08.2022