Por Edwin Hounnou
É aborrecido quando a gente vai a um banco, seja para depositar dinheiro, levantar ou consultar o saldo da nossa conta, e se depara com a informação de que não há sistema. Sentimos um inconformismo e experimentamos uma sensação de que estamos a ser mal servido porque perdemos tempo para ter que esperar ou procurar uma outra agência. O mesmo desconforto acontece quando nos deparamos com um agente da M-pesa ou E-mola que nos diga que não há sistema para transacionarmos uma qualquer operação financeira.
A situação da falta de sistema é algo com o qual nos encaramos todos os dias, no nosso país. A falta do sistema é quando as coisas não estão bem encaminhadas e não tem nada a ver com a parte tecnológica. É o homem que não está preparado para os desafios de bem servir. Falta sistema quando pensamos mais em nós e menos no povo a quem juraram servi-lo de alma e coração, com zelo e dedicação. Quando começa a falhar nos princípios fundamentais do funcionamento do Estado, batemos a porta e ninguém abre por falta completa de sistema. Tudo está bloqueado.
Observamos para o sector de estradas como se encontra desmazelado e escafiado. Não temos uma única estrada praticável nem mesmo a EN1 (Estrada Nacional Número Um) que começa de Maputo a Pemba anda cheia de buracos e crateras. Meter a sua viatura ou viajar de machimbombo constitui um verdadeiro martírio. É um autêntico calvário. A EN1 tem 2500 km de extensão dos quais 800 são um conjunto de buracos e crateras onde viaturas ligeiras e pesadas ficam avariadas sendo, por esse motivo, obrigadas a permanecer na estrada durante dias, debaixo do sol, da chuva e expostos a perigos vários. Moais grave, o governo, sem qualquer concurso público, entrega a seus amigos sem rostos a exploração de portagens e a cobrarem a valer. Nada custa desvendar quem são esses sem rosto. A mão direita adjudica as portagens à mão esquerda agradece. Um ditado diz : uma mão lava a outra e as duas lavam a cara. Não há transparência nem consultam ao Povo o que querem fazer, só rasgam ordens. O país não tem sistema.
Na educação, dispensamos longos comentários. O sector está mais que apodrecido e sem liderança. Agora é mais fácil compreender a razão de haver licenciados que mal sabem ler e escrever. Os problemas começam da base, do ensino primário, aliás, como a actual polêmica do livro de Ciências Sociais da sexta classe, é não só bem ilustra em que matope o sector da educação foi jogado. Cumpre-se o que se diz que para destruir um país ou um povo não é necessário lançar sobre ele bombas atômicas, mas basta distorcer-lhe a educação, não lhe ensinar a verdade. É o que vemos. Temos livros que ensinam as nossas crianças que a galinha e o galo, quando jovens, chamam-se frangos. Até mudam conceitos de Geografia e alteram a localização dos mares. Isso não resulta da negligência e falta de profissionalismo. Isso é crime contra o povo. É o fechar das portas do futuro.
As crianças de outros países ficam ocupadas na escola durante oito horas enquanto as nossas estão na escola quatro horas. Entram às 06.00h e saem às 10.00h, com o agravante de estudarem ao relento e encurvadas ao chão. Nos dias de chuva ou de ventania, não têm aulas. Na educação não há sistema.
Não há sistema na indústria e na agricultura. Quando país chegou à independência, em 1975, Moçambique era um dos mais industrializados países, em África, em metalomecânica e têxtil. Hoje, muitas das antigas fábricas que davam postos de trabalhos a milhares de gente, foram transformadas em lojas de venda de “xicalamidade" e outras feitas em fabriquetas de enlatados de achar ou para vender carne. O país era um grande exportador de cereais e frutas, Agora importa tudo tomate, couve, feijões, batata, arroz, carnes e seus derivados, etc., dando a entender que a independência foi um acontecimento pernicioso.
Quanto a nós, A independência foi algo histórico e bastante valioso na vida dos moçambicanos. O que está errado é a maneira como o país vem sendo governado. Não tem rumo. Não tem meta nem prioridade. Não tem agenda de combate à corrupção. Não sabe como nivelar os desequilíbrios regionais. O país vai ficando cada vez mais pobre apesar de tantos recursos de que dispõe. Encher os bolsos de quem esteja no poleiro é o que está na moda. O país está imobilizado. Atrás da porta de vem escrito “Governo" está ninguém.
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 24.08.2022